Lucas 24,35-48.
O evangelista São Mateus escreve que Cristo, levando consigo Pedro,
Tiago e João, Se transfigurou diante deles: «O seu rosto resplandeceu
como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a neve.» Mas eles,
não podendo suportar tal visão, […] «caíram com a face por terra» (Mt
17,1ss).
Foi por isso que, para Se conformar exatamente com o plano
divino, o Senhor Jesus apareceu no Cenáculo ainda com o aspecto que
tinha anteriormente e não segundo a glória que Lhe era devida e que
convinha ao Templo que era o seu corpo transfigurado. Ele não queria que
a fé na ressurreição fosse transferida para outro aspecto ou para um
corpo diferente do que tinha recebido da Santíssima Virgem, e no qual
fora morto e crucificado, segundo as Escrituras. Com efeito, a morte só
tinha poder sobre a carne, na qual seria derrotada. Pois se o seu corpo
morto não tivesse ressuscitado, que morte teria sido vencida? […] Não
poderia ser apenas uma alma, nem um anjo, nem mesmo unicamente o Verbo
de Deus. […]
Além disso, qualquer pessoa sensata considerará que é uma prova da
ressurreição o facto de o Senhor ter entrado no Cenáculo com todas as
portas fechadas. Ele saúda os seus discípulos com estas palavras: «A paz
esteja convosco», mostrando que Ele próprio é a paz. Pois aqueles a
quem Se apresenta recebem um espírito perfeitamente pacificado e
tranquilo. É seguramente o mesmo que São Paulo deseja aos fiéis quando
diz: «A paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os
vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus» (Fil 4,7).
São Cirilo de Alexandria
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