12 – “Fazes muito bem, ó alma, em buscar o Amado sempre
escondido, porque muito exaltas a Deus, e muito perto deles te chegas,
quando o consideras mais elevado e profundo que tudo quanto podes
alcançar. Por esta razão, não te detenhas, seja em parte, seja no todo,
naquilo que tuas potências podem apreender. Quero dizer: jamais desejes
satisfazer-te nas coisas que entendes de Deus; antes procura
contentar-te no que não compreenderes a respeito dele. Nunca te detenhas
em amar e gozar nessas coisas que entendes ou experimentas, mas, ao
contrário, põe teu amor e deleite naquilo que não podes entender ou
sentir; porque isso, como dissemos, é buscar a Deus na fé. Visto como
Deus é inacessível e escondido, conforme também já explicamos, por mais
que te pareça achá-lo, senti-lo ou entendê-lo, sempre o hás de
considerar escondido, e o hás de servir escondido às escondidas. E não
sejas como tantos incipientes que consideram a Deus de modo mesquinho,
pensando estar ele mais longe ou mais oculto, quando não o entendem, nem
o gozam, nem o sentem; mais verdade é o contrário, porque chegam mais
perto de Deus quando menos distintamente o percebem. Assim o testifica o
profeta Davi: “Pôs nas trevas o seu esconderijo” (Sl 17,12). Logo, ao
te aproximares de Deus, forçosamente hás de sentir trevas, pela fraqueza
de teus olhos. Fazes, pois, muito bem, em toda ocasião, seja de
adversidade ou prosperidade temporal ou espiritual, em considerar sempre
a Deus como escondido, e desse modo clamar a ele, dizendo: onde é que
te escondeste”.
2Noite 19, 4 - Não buscar consolos em Deus, mas amá-lo gratuitamente
2Noite 19, 4 - Não buscar consolos em Deus, mas amá-lo gratuitamente
“4 – “...Ah! Deus e Senhor meu! Quantas almas estão
sempre a buscar em ti seu consolo e gosto, e a pedir que lhes concedas
merc6es e dons! Aquelas, porém, que pretendem agradar-te e oferecer-te
algo à própria custa, deixando de lado seu interesse, são pouquíssimas.
Não esta a falta, Deus meu, em não quereres tu fazer-nos sempre mercês,
mas, sim, em não nos aplicarmos, de nossa parte, a empregar só em teu
serviço as graça recebidas, a fim de obrigar-te a favorecer-nos
continuamente”.
Cântico Espiritual 6,6 - Deus brinca de esconde- esconde conosco e exercita-nos na fé
Cântico Espiritual 6,6 - Deus brinca de esconde- esconde conosco e exercita-nos na fé
6 – “...Isto, Esposo meu, que andas concedendo de ti
parceladamente à minha alma, acaba por dar de uma vez. O que me tens
mostrado como por resquícios, acaba de mostrá-lo às claras. Quanto me
comunicas por intermediários, como de brincadeira, acaba de fazê-lo a
sério, dando-te a mim diretamente. Na realidade, às vezes, em tuas
visitas, parece que vais entregar-me a jóia de tua posse; e quando minha
alma considera bem, acha-se sem ela, porque a escondes, e isto é dar de
brincadeira. Entrega-te, pois, já deveras, dando-te todo a toda minha
alma, para que ela te possua todo, e não queiras enviar-me mais
mensageiro algum”
2Subida 29, 4 –5 - Discernimento da oração: É Deus que nos fala ou somos nós mesmos?
2Subida 29, 4 –5 - Discernimento da oração: É Deus que nos fala ou somos nós mesmos?
4 – “Conheci alguém muito habituado a formar essas
locuções sucessivas, e entre muitas verdadeiras e substanciais sobre o
Santíssimo Sacramento da Eucaristia, formava algumas bastante heréticas.
Admira-me muito o que se passa em nossos tempos, isto é, qualquer alma
por aí, com quatro maravedis de consideração, quando sente, em um pouco
de recolhimento, algumas locuções dessas, logo as batiza como vindas de
Deus. E convencida de assim ser, afirma: “Disse-me Deus, respondeu-me
Deus”. E não é assim: na maior parte das vezes, é a própria alma falando
a si mesma.
5 – Além disto, a estima e o desejo de tais favores fazem essas pessoas
responderem a si mesmas, imaginando ser Deus que lhes fala ou responde.
Se nisto não põem muito freio, e se quem as dirige não as forma na
negação desses discursos interiores, virão a cair em grandes desatinos.
Costuma tirar daí muito mais loquacidade e impureza espiritual, do que
humildade e mortificação interior. Crêem ter sido grande coisa, e que
lhes falou Deus; e haverá sido pouco mais que nada, ou nada, ou menos
que nada. Tudo o que não produz humildade e caridade, mortificação,
santa simplicidade e silêncio etc., que pode ser? Logo todas essas
locuções podem estorvar grandemente o caminho para a divina união;
porque apartam a alma, que se lhes apega, do abismo da fé, onde o
entendimento deve permanecer obscuro, e na obscuridade guiar-se pelo
amor e pela fé, e não por muito raciocínios”.
12 – “Fazes muito bem, ó alma, em buscar o Amado sempre escondido,
porque muito exaltas a Deus, e muito perto deles te chegas, quando o
consideras mais elevado e profundo que tudo quanto podes alcançar. Por
esta razão, não te detenhas, seja em parte, seja no todo, naquilo que
tuas potências podem apreender. Quero dizer: jamais desejes
satisfazer-te nas coisas que entendes de Deus; antes procura
contentar-te no que não compreenderes a respeito dele. Nunca te detenhas
em amar e gozar nessas coisas que entendes ou experimentas, mas, ao
contrário, põe teu amor e deleite naquilo que não podes entender ou
sentir; porque isso, como dissemos, é buscar a Deus na fé. Visto como
Deus é inacessível e escondido, conforme também já explicamos, por mais
que te pareça achá-lo, senti-lo ou entendê-lo, sempre o hás de
considerar escondido, e o hás de servir escondido às escondidas. E não
sejas como tantos incipientes que consideram a Deus de modo mesquinho,
pensando estar ele mais longe ou mais oculto, quando não o entendem, nem
o gozam, nem o sentem; mais verdade é o contrário, porque chegam mais
perto de Deus quando menos distintamente o percebem. Assim o testifica o
profeta Davi: “Pôs nas trevas o seu esconderijo” (Sl 17,12). Logo, ao
te aproximares de Deus, forçosamente hás de sentir trevas, pela fraqueza
de teus olhos. Fazes, pois, muito bem, em toda ocasião, seja de
adversidade ou prosperidade temporal ou espiritual, em considerar sempre
a Deus como escondido, e desse modo clamar a ele, dizendo: onde é que
te escondeste”. “4 – “...Ah! Deus e Senhor meu! Quantas almas estão
sempre a buscar em ti seu consolo e gosto, e a pedir que lhes concedas
merc6es e dons! Aquelas, porém, que pretendem agradar-te e oferecer-te
algo à própria custa, deixando de lado seu interesse, são pouquíssimas.
Não esta a falta, Deus meu, em não quereres tu fazer-nos sempre mercês,
mas, sim, em não nos aplicarmos, de nossa parte, a empregar só em teu
serviço as graça recebidas, a fim de obrigar-te a favorecer-nos
continuamente”. 6 – “...Isto, Esposo meu, que andas concedendo de ti
parceladamente à minha alma, acaba por dar de uma vez. O que me tens
mostrado como por resquícios, acaba de mostrá-lo às claras. Quanto me
comunicas por intermediários, como de brincadeira, acaba de fazê-lo a
sério, dando-te a mim diretamente. Na realidade, às vezes, em tuas
visitas, parece que vais entregar-me a jóia de tua posse; e quando minha
alma considera bem, acha-se sem ela, porque a escondes, e isto é dar de
brincadeira. Entrega-te, pois, já deveras, dando-te todo a toda minha
alma, para que ela te possua todo, e não queiras enviar-me mais
mensageiro algum” 4 – “Conheci alguém muito habituado a formar essas
locuções sucessivas, e entre muitas verdadeiras e substanciais sobre o
Santíssimo Sacramento da Eucaristia, formava algumas bastante heréticas.
Admira-me muito o que se passa em nossos tempos, isto é, qualquer alma
por aí, com quatro maravedis de consideração, quando sente, em um pouco
de recolhimento, algumas locuções dessas, logo as batiza como vindas de
Deus. E convencida de assim ser, afirma: “Disse-me Deus, respondeu-me
Deus”. E não é assim: na maior parte das vezes, é a própria alma falando
a si mesma. 5 – Além disto, a estima e o desejo de tais favores fazem
essas pessoas responderem a si mesmas, imaginando ser Deus que lhes fala
ou responde. Se nisto não põem muito freio, e se quem as dirige não as
forma na negação desses discursos interiores, virão a cair em grandes
desatinos. Costuma tirar daí muito mais loquacidade e impureza
espiritual, do que humildade e mortificação interior. Crêem ter sido
grande coisa, e que lhes falou Deus; e haverá sido pouco mais que nada,
ou nada, ou menos que nada. Tudo o que não produz humildade e caridade,
mortificação, santa simplicidade e silêncio etc., que pode ser? Logo
todas essas locuções podem estorvar grandemente o caminho para a divina
união; porque apartam a alma, que se lhes apega, do abismo da fé, onde o
entendimento deve permanecer obscuro, e na obscuridade guiar-se pelo
amor e pela fé, e não por muito raciocínios”.
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