Os apóstolos não podem ter inventado? Ou tido uma alucinação?
O escritor Fulton Sheen, no seu livro "Vida de Cristo", comenta:
“Na história do mundo, somente uma vez encontramos o caso de que, diante da entrada de uma tumba, foi colocada uma grande pedra e até guardas para evitar que um homem morto ressuscitasse: foi o sepulcro de Cristo, na tarde da sexta-feira que chamamos santa. Que espetáculo podia haver de mais ridículo do que aquele de soldados a vigiar um cadáver? Puseram sentinelas para que o morto não pudesse andar, para que o silencioso não falasse e para que o coração transpassado não voltasse a palpitar. Diziam que ele estava morto. Sabiam que ele estava morto. Diziam que ele não ressuscitaria. E, entretanto, vigiavam...”.
É assombroso que os inimigos de Cristo, no fundo, esperassem a ressurreição, mas os amigos dele não! Os inimigos vigiavam o sepulcro; os amigos se escondiam, frustrados, assustados, incrédulos.
Ninguém viu Cristo ressuscitar. Os dois sinais da ressurreição foram o sepulcro vazio e as aparições do Cristo ressuscitado em pessoa. Foi através desses sinais que os próprios apóstolos começaram a acreditar na ressurreição, da qual duvidavam seriamente.
O sepulcro vazio pode ter duas explicações: ou alguém levou embora o cadáver, ou então Cristo ressuscitou. O cadáver não foi roubado pelos inimigos de Cristo, pois, quando a notícia da ressurreição se espalhou, a melhor maneira de desmascará-la teria sido mostrar o cadáver. Se não mostraram, é porque não tinham. Os amigos de Jesus também não o tinham, porque os apóstolos passaram a arriscar a vida para pregar o nome de Cristo ressuscitado e, de fato, morreram mártires por causa da sua fé em Cristo ressuscitado. Quem sofreria tanto e daria a própria vida por uma mentira, sabendo que era mentira?
Os apóstolos são descritos pelos evangelhos como homens sem esperança, abatidos e deprimidos. Jesus mesmo os trata como “insensatos e lerdos” (cf. Lc 24,25), gente que não esperava nada. Eram homens rudes, duros de coração.
Além disso, Cristo havia sido condenado e executado como um "maldito segundo a lei". Esse aparente fracasso humilhante de Jesus tinha deixado a fé dos apóstolos tão abalada que, primeiro, eles se esconderam e, poucos dias depois, partiram para a Galileia e voltaram à sua vida normal, como nos recordam as palavras dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,21). Eles procuraram se esquecer de Cristo, tamanha era a sua incredulidade, decepção e, talvez, vergonha por ter acreditado em um "charlatão".
Será que, mesmo se quisessem mentir, eles teriam conseguido inventar e sustentar uma história como a da ressurreição? É muito pouco provável, tanto por causa desse contexto de frustração quanto por causa da sua simplicidade e rudeza intelectual. E há outro fator ainda mais relevante: uma ressurreição como a de Cristo era praticamente inimaginável para um judeu daquela época. A ideia de ressurreição existia no judaísmo e já era mencionada pelo profeta Daniel (cf. 12, 1-13), mas o conceito era muito diferente: a ressurreição, para os judeus, só aconteceria no fim dos tempos, quando Deus ressuscitaria todo o povo eleito de uma só vez. Seria muito estranho que alguém concebesse naquela sociedade a ideia de uma ressurreição definitiva dentro da história, seguida por um dia igual a todos os outros dias, como se não tivesse acontecido absolutamente nada. A ressurreição tinha que ser justamente o final da história, em um evento apoteótico. Por que inventar uma história de ressurreição que não fazia sentido algum para um povo que já duvidava antes mesmo de ouvir esse absurdo?
Para tornar ainda menos provável que os apóstolos tenham arquitetado uma farsa, os relatos sobre o domingo da ressurreição são cheios de detalhes confusos e sequências de fatos diferentes entre um evangelho e outro. Quem forjasse um relato desses teria se esforçado um pouco mais para que os detalhes pelo menos parecessem coerentes. Mas os apóstolos falavam do que se lembravam e do que tinham sentido, atônitos, atordoados, sem se preocupar em polir o depoimento. E, entre confusão e espanto, todas as fontes dos evangelhos e do Novo Testamento apresentam o testemunho daqueles dois sinais: o sepulcro vazio e as aparições de Jesus ressuscitado.
Se não mentiram, teriam então os apóstolos sofrido de alucinações?
Quando Jesus ressuscitado lhes apareceu pela primeira vez, os apóstolos
hesitaram muito em acreditar que fosse ele. Aqueles homens grosseiros
não eram dados a visões de tipo místico. Se não
tivessem visto o Cristo ressuscitado com seus próprios olhos e até
tocado nele com suas próprias mãos para reconhecê-lo, como fez Tomé,
eles jamais teriam acreditado na ressurreição.
Também não é provável que eles tenham sido sugestionados a pensar ter visto Jesus. Os evangelhos narram várias aparições, em contextos diferentes, com testemunhas diversas. As primeiras testemunhas da ressurreição, aliás, foram mulheres: na sociedade judaica, o testemunho de uma mulher valia pouco. Mesmo que elas tivessem sofrido uma alucinação, dificilmente teriam recebido crédito ao contá-la. Pelo contrário: é mais plausível que tivessem deixado os apóstolos ainda menos propensos a acreditar em visões das quais não quisessem se certificar antes de reconhecer como reais.
Para falar das aparições de Jesus ressuscitado, os relatos do Novo Testamento usam o verbo opthé (“deixou-se ver”); na tradução grega dos Setenta, este era o verbo consagrado para falar das aparições de Javé. Esse termo não se refere a uma visão como experiência subjetiva, mas à iniciativa de Deus que vem até os seus: o ressuscitado é visto porque aparece, em vez de "parecer que aparece" porque alguém esteja "tendo visões". O Novo Testamento tem outro termo, horama, para falar de visões interiores. Este termo nunca é empregado para falar das aparições de Jesus. Mesmo Paulo, que teve visões e êxtases, fala delas se desculpando (cf. 2 Co 12, 11), ao passo que, do encontro com Cristo no caminho de Damasco, ele fala sem se desculpar (cf. 1 Co 9,1; 15,8; Gál 1,12ss). Só por causa deste encontro é que Paulo explica que foi constituído apóstolo e só por causa dele é que Paulo se apresenta como testemunha da ressurreição de Cristo (cf. Co 15,8): por ter visto.
A mudança de comportamento dos apóstolos é tão grande depois de verem Jesus ressuscitado que eles se tornam outros homens, corajosos e dispostos a não silenciar o que tinham visto e ouvido, mesmo precisando ir contra toda a mentalidade da época (e contra a mentalidade deles próprios). Mais interessante ainda: eles nem sabem explicar a ressurreição, pois simplesmente não a entendem. Eles conseguem apenas confessá-la, inclusive com o martírio.
A Igreja primitiva crê firmemente na ressurreição de Jesus. As primeiras comunidades cristãs afirmam que Jesus ressuscitou dentre os mortos. É um dado que encontramos em inúmeros textos, a começar pelo Novo Testamento, que fala implícita e indiretamente da morte e ressurreição de Jesus e também traz textos explícitos e diretos: Mc 8,31 (primeiro anúncio); Mc 9,9 (transfiguração); Mc 9, 30-32 (segundo anúncio); Mc 10,32 (terceiro anúncio); Mc 14,28 (anúncio da aparição).
O fato de uma fé tão sólida e firme dos apóstolos, dos demais discípulos e de toda a comunidade mártir do cristianismo primitivo é um indício forte de que essa fé tinha de se basear num acontecimento real.
De qualquer maneira, sempre houve, e continua havendo, muita gente que não crê na ressurreição de Cristo.
E é compreensível, porque há mesmo muitos obstáculos para se acreditar no sobrenatural, especialmente em algo tão fantástico quanto a ressurreição dentre os mortos. Nossa mentalidade é materialista, pragmatista, hedonista, utilitarista, relativista, consumista. O homem de hoje quer ficar nos limites materiais e temporais, práticos e comprováveis, horizontalistas. O secularismo se espalha por toda a parte. O homem de hoje olha pouco para cima e tende a pensar que tudo se acaba com a morte (embora também tenda a sentir que existe algo depois dela...).
Não há nenhuma comprovação científica inquestionável de que Cristo tenha ressuscitado. É, em suma, uma questão de fé. Para quem crê, a fé e a esperança na ressurreição é algo presente dentro do coração. Sem a esperança da ressurreição, a vida finita não tem sentido. Parece haver algo no íntimo do ser, independentemente de crença, cultura ou religião, que afirma que a morte não é a última palavra nem o fim de tudo. É um anseio que parece natural como parte da nossa essência humana que almeja a plenitude.
O homem, de fato, é um ser aberto, que está sempre em processo de crescimento interior. Na sua dinâmica, o futuro faz parte do seu presente. Será que esse futuro é vazio, é um engano, uma ilusão? Todas as civilizações experimentaram o anseio de uma vida nova após a morte. Só se consegue apagar este sentimento e esta profunda convicção mediante pressões ideológicas e durante pouco tempo. O cristianismo procura compreender esta realidade a partir da experiência de Jesus Cristo ressuscitado, que confirma a esperança íntima que temos em nós e que mantém o nosso coração no céu, mesmo com os pés bem firmes sobre a terra. A esperança da ressurreição, enfim, é o que dá sentido à perspectiva da morte que todos sabemos, no fundo, que não pode ser o fim.
Também não é provável que eles tenham sido sugestionados a pensar ter visto Jesus. Os evangelhos narram várias aparições, em contextos diferentes, com testemunhas diversas. As primeiras testemunhas da ressurreição, aliás, foram mulheres: na sociedade judaica, o testemunho de uma mulher valia pouco. Mesmo que elas tivessem sofrido uma alucinação, dificilmente teriam recebido crédito ao contá-la. Pelo contrário: é mais plausível que tivessem deixado os apóstolos ainda menos propensos a acreditar em visões das quais não quisessem se certificar antes de reconhecer como reais.
Para falar das aparições de Jesus ressuscitado, os relatos do Novo Testamento usam o verbo opthé (“deixou-se ver”); na tradução grega dos Setenta, este era o verbo consagrado para falar das aparições de Javé. Esse termo não se refere a uma visão como experiência subjetiva, mas à iniciativa de Deus que vem até os seus: o ressuscitado é visto porque aparece, em vez de "parecer que aparece" porque alguém esteja "tendo visões". O Novo Testamento tem outro termo, horama, para falar de visões interiores. Este termo nunca é empregado para falar das aparições de Jesus. Mesmo Paulo, que teve visões e êxtases, fala delas se desculpando (cf. 2 Co 12, 11), ao passo que, do encontro com Cristo no caminho de Damasco, ele fala sem se desculpar (cf. 1 Co 9,1; 15,8; Gál 1,12ss). Só por causa deste encontro é que Paulo explica que foi constituído apóstolo e só por causa dele é que Paulo se apresenta como testemunha da ressurreição de Cristo (cf. Co 15,8): por ter visto.
A mudança de comportamento dos apóstolos é tão grande depois de verem Jesus ressuscitado que eles se tornam outros homens, corajosos e dispostos a não silenciar o que tinham visto e ouvido, mesmo precisando ir contra toda a mentalidade da época (e contra a mentalidade deles próprios). Mais interessante ainda: eles nem sabem explicar a ressurreição, pois simplesmente não a entendem. Eles conseguem apenas confessá-la, inclusive com o martírio.
A Igreja primitiva crê firmemente na ressurreição de Jesus. As primeiras comunidades cristãs afirmam que Jesus ressuscitou dentre os mortos. É um dado que encontramos em inúmeros textos, a começar pelo Novo Testamento, que fala implícita e indiretamente da morte e ressurreição de Jesus e também traz textos explícitos e diretos: Mc 8,31 (primeiro anúncio); Mc 9,9 (transfiguração); Mc 9, 30-32 (segundo anúncio); Mc 10,32 (terceiro anúncio); Mc 14,28 (anúncio da aparição).
O fato de uma fé tão sólida e firme dos apóstolos, dos demais discípulos e de toda a comunidade mártir do cristianismo primitivo é um indício forte de que essa fé tinha de se basear num acontecimento real.
De qualquer maneira, sempre houve, e continua havendo, muita gente que não crê na ressurreição de Cristo.
E é compreensível, porque há mesmo muitos obstáculos para se acreditar no sobrenatural, especialmente em algo tão fantástico quanto a ressurreição dentre os mortos. Nossa mentalidade é materialista, pragmatista, hedonista, utilitarista, relativista, consumista. O homem de hoje quer ficar nos limites materiais e temporais, práticos e comprováveis, horizontalistas. O secularismo se espalha por toda a parte. O homem de hoje olha pouco para cima e tende a pensar que tudo se acaba com a morte (embora também tenda a sentir que existe algo depois dela...).
Não há nenhuma comprovação científica inquestionável de que Cristo tenha ressuscitado. É, em suma, uma questão de fé. Para quem crê, a fé e a esperança na ressurreição é algo presente dentro do coração. Sem a esperança da ressurreição, a vida finita não tem sentido. Parece haver algo no íntimo do ser, independentemente de crença, cultura ou religião, que afirma que a morte não é a última palavra nem o fim de tudo. É um anseio que parece natural como parte da nossa essência humana que almeja a plenitude.
O homem, de fato, é um ser aberto, que está sempre em processo de crescimento interior. Na sua dinâmica, o futuro faz parte do seu presente. Será que esse futuro é vazio, é um engano, uma ilusão? Todas as civilizações experimentaram o anseio de uma vida nova após a morte. Só se consegue apagar este sentimento e esta profunda convicção mediante pressões ideológicas e durante pouco tempo. O cristianismo procura compreender esta realidade a partir da experiência de Jesus Cristo ressuscitado, que confirma a esperança íntima que temos em nós e que mantém o nosso coração no céu, mesmo com os pés bem firmes sobre a terra. A esperança da ressurreição, enfim, é o que dá sentido à perspectiva da morte que todos sabemos, no fundo, que não pode ser o fim.
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