Na
Vigília Pascal, toda a Igreja saúda Jesus como “astro da manhã”. Mas,
para um grupo de protestantes, a cerimônia é um “canto gregoriano” que
“exalta Lúcifer”.
Chega às raias da irracionalidade o ódio que muitas seitas protestantes
nutrem pela Igreja Católica – ódio preenchido com acusações injustas e
acessos de fúria injustificados. Quem nunca foi chamado de "idólatra"
simplesmente por amar a Virgem Maria e os santos? Ou nunca ouviu
apelidos, um mais absurdo que o outro, referindo-se à Igreja e ao Papa?
Portais de notícias sempre trazem alguma reportagem recente de algum
evangélico que invadiu uma igreja e profanou imagens de santos – ainda
que essa não represente a atitude da maioria dos protestantes.
A verdade é que tanta balbúrdia e dedos em riste não passam, em grande
parte, de ignorância. Um vídeo que circula desde 2013 no YouTube,
intitulado "Canto Gregoriano Exalta Lúcifer no VATICANO", exemplifica muito bem isso. No hangout, alguns protestantes se reúnem para comentar o vídeo de um diácono católico que menciona a palavra latina "lucifer"
na Basílica de São Pedro, em Roma. O editor do vídeo, que alega trazer a
"verdade final revelada", é antecedido por um senhor chamado Sebastião.
"Eles invocam Satanás dentro do Vaticano e não tem como nenhum católico
negar aquilo", diz ele. "Se eles quiserem continuar adorando, quando
eles terminam o cântico, toda a congregação, ela diz 'Amém'."
O que dizer deste vídeo, senão que se trata de um curioso retrato da
ignorância protestante? A cerimônia exibida no Vaticano é um extrato
do Precônio Pascal, cantado em toda Vigília de Sábado Santo, no mundo inteiro. O cântico Exsultet – que não é um "canto gregoriano" – é concluído com os seguintes versos, em latim: "Flammas
eius lucifer matutinus inveniat / Ille, inquam, lucifer, qui nescit
occasum / Christus Filius tuus, / qui, regressus ab inferis, / humano
generi serenus illuxit, / et vivit et regnat in saecula saeculorum. /
Amen.", cuja tradução litúrgica – sem distorções fantasiosas – é:
"Que ele [o círio pascal] brilhe ainda quando se levantar o astro da
manhã, / aquele astro que não tem ocaso, / Jesus Cristo, vosso Filho, /
que, ressuscitando dentre os mortos, / iluminou o gênero humano com a
sua luz e a sua paz / e vive glorioso pelos séculos dos séculos. /
Amém."
Ora, que um grupo de protestantes desconheça o significado de algumas
frases em latim, é bastante compreensível. Que retoquem o que leem ou
escutam para difamar a Igreja, porém, é uma atitude de muita
desonestidade intelectual.
No texto em questão, a palavra "
lucifer" não se refere a Satanás, o príncipe dos demônios.
Trata-se de um nome comum, que significa "portador da luz" ou "estrela
da manhã". É "lucifer" com "l" minúsculo, diferentemente do nome próprio, "Lúcifer". A propósito, essa não é a única ocasião em que o termo "lucifer" é usado com tal sentido. A Vulgata de São Jerônimo traz, no livro de Jó, a palavra "lucifer" (cf. Jó 11,
17), que é traduzida por "alva" na própria edição João Ferreira de
Almeida. Nas mesmas Sagradas Escrituras, São Pedro, ao fazer referência à
voz de Deus Pai confirmando a missão de Jesus, pede que se mantenham
firmes as palavras da profecia, "donec dies illucescat, et lucifer oriatur in cordibus vestris – até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações" (2 Pd 1,
19). No canto litúrgico exibido no vídeo, também, é Nosso Senhor quem é
denominado como "astro da manhã", "aquele astro que não tem ocaso" –
não o Seu inimigo.
Na verdade, o nome próprio "Lúcifer" não foi usado desde o começo para
se referir ao demônio. Antes, a palavra era usada tão somente em seu
significado comum, tanto que um bispo com esse nome, Lúcifer de
Cagliari, do século IV, é santo católico celebrado pela liturgia. Uma
referência do Autor Sagrado ao rei da Babilônia, no entanto, passou a
ser usada para o anjo decaído – "Como despencaste das alturas do céu,
tu, estrela da manhã (a Vulgata traz, novamente, '
lucifer'), clarão da madrugada?" (Is 14, 12) – e o que era simplesmente um astro luminoso se transformou em sinônimo de Satanás.
Portanto, não, a Igreja Católica não adora, não exalta e nem invoca o
príncipe das trevas em sua liturgia. É voltada a Cristo e em Seu nome
que ela termina todas as suas orações, como mostra a bela composição do
Exsultet, cantada todos os anos em nossas igrejas.
A propósito, tomem cuidado. No Sábado Santo que se aproxima, Nosso
Senhor Jesus Cristo será novamente chamado de "astro da manhã" no
Vaticano. Estejam prontos para separar a luz da verdade das trevas do
erro e da ignorância. Nestes tempos difíceis, poucas coisas são tão
urgentes e tão necessárias.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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