QUANDO O CASAL PERDE O DESEJO: MOTIVO DE ALARME?
A intimidade física é a doação total de si e a culminação de uma união vivida no dia-a-dia.
A atriz italiana Cristiana Capotondi
revelou em entrevista recente que renunciou durante um ano, junto com
seu parceiro Andrea Pezzi, a manter relações sexuais. “Não fui eu que
pedi, foi ele quem me aconselhou”, disse a atriz. “Ele sentiu que eu
tinha a necessidade de crescer como mulher: muitas vezes, nós somos
dependentes da apreciação dos outros, precisamos dela para nos sentir
seguras, fortes, bonitas. Essa ‘validação externa’ inclui também o
desejo que o parceiro sente por você. Às vezes, o sexo
complica as coisas. E, por isso, ser casta é um exercício importante
para uma mulher, uma prova de consciência e de liberdade” (The
Huffington Post, 11 de fevereiro de 2014).
Mas o que a vida sexual representa para um casal?
Quando é que a falta de intimidade física pode ser considerada um
problema capaz de se transformar em verdadeira "anorexia sexual"?
A Aleteia foi conversar com Maria Grazia Vergari, psicóloga e especialista em formação para jovens.
O que a relação sexual representa para um casal?
Vergari: A dimensão da sexualidade no ser humano é fundamental e vai
muito além da expressão corpórea: é algo que nos torna pessoas, e
pessoas em relação. A intimidade física faz as pessoas e o
relacionamento de casal crescerem, porque ela significa sentir-se amados
de uma forma privilegiada e doar-se totalmente ao outro, acolhendo-o. A
vida sexual deveria ser a culminação de uma união que o casal já vive
em outros âmbitos da vida: o planejamento conjunto, a cumplicidade, a
parceria, o compartilhamento, a comunicação serena. Neste sentido, a
relação sexual é a manifestação também corpórea da doação pessoal que se
nutre no cotidiano e que requer intimidade e interdependência.
A falta de intimidade física pode ser um problema?
Vergari: Um casal pode decidir, de comum acordo, se abster de relações
sexuais por razões de saúde ou por causa de outras situações da vida.
Mas há outras "linguagens" para expressar a intimidade que não podem
faltar: as carícias, os abraços, os beijos. A falta de relações sexuais
num casal se torna negativa quando é sintoma da perda de outros
aspectos, quando há algo de errado na vida do casal ou de uma das duas
pessoas. A perda do desejo pode se dever ao cansaço, a medicamentos, mas
também pode haver razões psicológicas como o estresse, a ansiedade, o
sentimento de inadequação. Às vezes, há uma tensão latente que
condiciona a vida do casal e a sexualidade é usada como uma arma contra o
parceiro, para reivindicar um papel ou afirmar um poder. Tudo isso se
junta a uma comunicação de casal pouco clara e acaba contaminando a
esfera do desejo.
O que fazer nesses casos?
Vergari: O casal tem que parar para pensar no que aconteceu com a vida
juntos e também como indivíduos. É importante encarar a questão de uma
perspectiva libertadora. Neste campo, você pode passar facilmente da
banalização para o medo de abordar o assunto, mas o que tem que ser
levado em conta é a pessoa na sua totalidade, e a sexualidade é uma
parte muito importante dessa totalidade. Muitas vezes, quando os casais
procuram o aconselhamento de um psicólogo, eles já chegam convencidos de
que o amor acabou e que é difícil remediar a situação. Mas o que é
necessário é saber que a vida conjugal é gradual, tem momentos bons e
ruins, existe a capacidade de se apaixonar de novo pelo próprio
parceiro. A linguagem da sexualidade se aprende durante a vida toda,
inclusive na etapa madura, e também passa pelo abraço, pela brincadeira,
pelo elogio que flui quando se olha para o outro com novos olhos. É uma
linguagem para cultivar e preservar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário