O QUE A IGREJA ENSINA SOBRE OS ANJOS?
A presença e a ação dos anjos bons e maus
estão a tal ponto inseridas na história da salvação, na Sagrada
Escritura e na Tradição da Igreja, que não podemos negar a sua
existência e ação.
A Igreja celebra em 29 de setembro a festa
litúrgica dos Santos Arcanjos: Miguel (Quem como Deus!), Gabriel (Força
de Deus) e Rafael (Cura de Deus). O Catecismo da Igreja afirma sem
hesitação a existência dos anjos: “A existência dos
seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama
habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a
respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (§328).
O Catecismo lembra que: “Cristo é o centro do mundo
angélico” (§331). Eles pertencem a Cristo, porque são criados por Ele e
para Ele, como disse São Paulo: “Pois foi Nele que foram criadas todas
as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos,
Dominações, Principados, Potestades, tudo foi criado por Ele e para Ele”
(Cl 1,16). Os anjos também são de Cristo porque Ele os fez mensageiros
do seu projeto de salvação da humanidade. “Ainda aqui na terra, a vida
cristã participa, na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos
homens, unidos em Deus.” (§336)
Portanto, não há como negar a existência dos anjos, sem
bater de frente com o ensinamento da Igreja, em toda a sua existência.
São Paulo ensinava em sua primeira Carta aos fiéis de Colossos: “Nele
foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis
e invisíveis, Tronos, Dominações (ou Soberanias), Principados,
Potestades (ou Autoridades): tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl
1,16).
O primeiro Concílio Ecumênico que confirmou a existência dos seres
espirituais foi o de Niceia, em 325, quando fala no Decreto (DS 54), em
“coisas invisíveis”: “Creio em um só Deus, Pai Todo Poderoso, Criador do
Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
Essa verdade foi reafirmada no Concílio de Constantinopla I, em 381.
Também o Concílio regional de Toledo, em 400, reafirmou a mesma verdade,
dizendo: “Deus é o Criador de todos os seres visíveis; fora d’Ele não
existe natureza divina de Anjo, de potência que possa ser considerada
como Deus.” O Magistério da Igreja confirmou a realidade dos anjos
sobretudo no Concílio de Latrão IV (1215), ao declarar contra o dualismo
dos hereges cátaros: “Deus é o Criador de todas as coisas, visíveis e
invisíveis, espirituais e corporais; por sua onipotência no início do
tempo criou igualmente do nada as criaturas espirituais e corporais,
isto é, o mundo dos anjos e o mundo terrestre; em seguida criou o homem,
que de certo modo compreende umas e outras, pois consta de espírito e
corpo. O diabo e os outros demônios foram por Deus
criados bons, mas por livre iniciativa tornaram-se maus. O homem pecou
por sugestão do diabo. “(DS 800 [428]).
A existência dos Anjos foi reafirmada, no II Concílio
de Lião, sob Gregório X, em 1274, nos seguintes termos: “Cremos em um
Deus Onipotente…, criador de todas as criaturas, de quem, em quem e por
quem existem todas as coisas no céu e na terra, visíveis, corporais e
espirituais” (D.S., 461).
O Concílio de Florença, sob Eugênio IV (1441-2) pelo Decreto
pro-lacobitis, e pela Bula Contate Domine, de 4 de janeiro de 1441 assim
se expressou: “A sacrossanta Igreja romana crê firmemente, professa e
prega que um só é o verdadeiro Deus…, que é o criador de todas as coisas
visíveis e invisíveis, o qual quando quis, por sua vontade criou todas
as criaturas, tanto espirituais como corporais” (D.S, 706). O Concílio
de Trento (1545-1563) repetiu o ensinamento tradicional definido no IV
Concílio de Latrão. Lê-se no Catecismo Romano e na profissão de Fé
expressa na Bula lniunctum nobis, do Papa Paulo IV de 13 de novembro de
1564: “Deus criou também, do nada, a natureza espiritual e inumeráveis
Anjos para que o servissem e assistissem”. (1ª parte, Cap. 2, a.1 do
Símbolo., n. 17).
O Concílio Vaticano I (1869-1870) pelos decretos 3002 e 3025 da
Constitutio de fide catholica (DS, 1873) – e Dei Filius, ao condenar
certos erros, afirma: “Este Deus único verdadeiro…, com um ato libérrimo
no início dos tempos, fez do nada ambas as criaturas, a espiritual e a
corporal, isto é, a angélica e o mundo; depois a criatura humana, como
que participando de ambas, constituída de alma e de corpo”. O mesmo
Concílio condenou os que: “Afirmam que fora da matéria, nada mais
existe” (Dec. 3022). “Afirmam que as criaturas materiais e espirituais
não foram criadas do nada e livremente” (Dec. 3025 – “Contra o
materialismo”, D.S., 1802).
“Se alguém disser que as coisas finitas, quer sejam corpóreas, quer
espirituais são emanações da substância divina… seja anátema” ( Contra o
Panteísmo, Cânon 4). Na Encíclica Summi Pontificatus, de 20 de outubro
de 1939, Pio XII lamenta que “alguns ainda perguntem se os Anjos são
seres pessoais e se a matéria difere essencialmente do espírito” (D.S.
2318).
O Concílio Vaticano II (1962-1965), na Constituição Dogmátca Lumen Gentium, fala claramente dos anjos:
“Portanto, até que o Senhor venha com toda sua Majestade, e todos os
Anjos com Ele (cf. Mt. 25, 31)”…(LG, 49). “A Igreja sempre acreditou
estarem mais unidos conosco em Cristo, venerou-os juntamente com a
Bem-aventurada Virgem Maria e os Santos Anjos com especial afeto…”
(LG,50). No Cap. VIII sobre “A Bem-aventurada Virgem Maria no Mistério
da Igreja”, lê-se: “Maria foi exaltada pela graça de Deus acima de todos
os Anjos e todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe
Santíssima de Deus” (LG, 66). “Todos os fiéis cristãos supliquem
insistentemente à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que Ela, que com
suas preces assistiu às primícias da Igreja, também agora exaltada no
céu sobre todos os Anjos e bem aventurados…” (LG,69).
No Credo do Povo de Deus, do Papa Paulo VI, de 30 de junho de 1968, o
santo Padre afirma: “Cremos em um só Deus, Pai, Filho e Espirito Santo,
Criador das coisas visíveis, como este mundo, onde se desenrola a nossa
vida passageira; Criador dos seres invisíveis como os puros espíritos,
que também são denominados Anjos, e Criador em cada homem, da alma
espiritual e imortal”.
Diante de uma certa tendência de negar que os anjos são
seres pessoais, mas apenas “instintos” ou “forças neutras”, como se
fossem apenas uma tendência para o bem ou para o mal, o Papa Pio XII na
sua encíclica Humani Generis (1959), reafirmou que os anjos são
“criaturas pessoais”, dotadas de inteligência sagaz e vontade livre (DS
3891 [2317]).
São Gregório Magno dizia que cada página da Revelação escrita atesta a
existência dos Anjos. A presença e a ação dos anjos bons e maus estão a
tal ponto inseridas na história da salvação, na Sagrada Escritura e na
Tradição da Igreja, que não podemos negar a sua existência e ação, sem
destruir a Revelação de Deus. O fato de muitas vezes os anjos terem sido
apresentados de maneira fantasiosa ou infantil, não nos autoriza a
negar a sua existência. Por serem seres espirituais, os anjos bons e
maus não podem ter a sua existência provada experimental e
racionalmente; no entanto, a Revelação atesta a sua realidade. Eles são
mencionados mais de 300 vezes na Bíblia.
Prof. Felipe Aquino
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