A
Palavra de Deus deste 5º domingo do tempo comum convida-nos a refletir sobre o
compromisso cristão. Aqueles que foram interpelados pelo desafio do “Reino” não
podem remeter-se a uma vida cômoda e instalada, nem refugiar-se numa religião
ritual e feita de gestos vazios; mas têm de viver de tal forma comprometidos
com a transformação do mundo que se tornem uma luz que brilha na noite do mundo
e que aponta no sentido desse mundo de plenitude que Deus prometeu aos homens –
o mundo do “Reino”.
No
Evangelho, Jesus exorta os seus discípulos a não se instalarem na mediocridade,
no comodismo, no “deixa andar”; e pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao
mundo e que testemunha a perenidade e a eternidade do projeto salvador de Deus;
também os exorta a serem uma luz que aponta no sentido das realidades eternas,
que vence a escuridão do sofrimento, do egoísmo, do medo e que conduz ao encontro
de um “Reino” de liberdade e de esperança.
A
primeira leitura apresenta as condições necessárias para “ser luz”: é uma “luz”
que ilumina o mundo, não quem cumpre ritos religiosos estéreis e vazios, mas
quem se compromete verdadeiramente com a justiça, com a paz, com a partilha,
com a fraternidade. A verdadeira religião não se fundamenta numa relação
“platônica” com Deus, mas num compromisso concreto que leva o homem a ser um
sinal vivo do amor de Deus no meio dos seus irmãos.
A
segunda leitura avisa que ser “luz” não é colocar a sua esperança de salvação
em esquemas humanos de sabedoria, mas é identificar-se com Cristo e
interiorizar a “loucura da cruz” que é dom da vida. Pode-se esperar uma
revelação da salvação no escândalo de um Deus que morre na cruz? Sim. É na
fragilidade e na debilidade que Deus Se manifesta: o exemplo de Paulo – um
homem frágil e pouco brilhante – demonstra-o.
1ª leitura – Is. 58, 7-10 - AMBIENTE
Os
capítulos 56 a 66 do livro de Isaías apresentam um conjunto heterodoxo de temas,
de situações, de gêneros e de estilos; por isso, a maior parte dos estudiosos
recentes atribuem estes textos, não a um autor, mas a uma pluralidade de
autores – embora continuem a catalogar estes capítulos sob o nome genérico de
“Trito-Isaías”.
Embora
se discuta também a época em que estes textos apareceram (as opiniões vão desde
o séc. VII ao séc. II a.C.), a maioria dos estudiosos costuma situar estes
textos na época pós-exílica, provavelmente dos últimos decênios do séc. VI, ou
nos primeiros anos do séc. V. a.C. Estamos em Jerusalém; os repatriados da
Babilônia chegaram cheios de entusiasmo, mas depressa conheceram a desilusão… A
cidade está destruída; o domínio persa continua a recordar ao povo de Jerusalém
que não é livre nem tem nas próprias mãos a chave do seu futuro; e, acima de
tudo, as belas promessas de reconstrução, de libertação, parecem ter-se
desvanecido e a intervenção definitiva de Deus tarda em chegar.
Alguns
autores recentes falam (a propósito desta época) de uma forte tensão entre dois
grupos que procuram impor-se em Jerusalém: de um lado, o sacerdócio sadoquita
(de Sadoc, sacerdote do tempo de Salomão), que voltou do exílio na Babilônia
convencido de que tinha sido provado e perdoado das suas faltas, que está em
boas relações com o império persa, que domina a política, que está disposto a
fazer valer os seus direitos e privilégios e que define as coordenadas do culto
oficial; do outro, o partido levítico, que se manteve em Jerusalém durante o
exílio, que dominou o culto durante essa época e que tem uma visão mais
“democrática”, mais pragmática, menos “oficial” e legalista da fé. Os autores
do nosso texto pertencem, provavelmente, a este último grupo.
O
capítulo 58 (a que pertence o texto que nos é proposto) apresenta-se como uma
reclamação de Deus contra o Povo. Nessa reclamação, há dois temas: a denúncia
de um culto vazio e estéril, que cumpre as leis externas, mas que não sai do
coração nem tem a necessária correspondência na vida (cf. Is 58,1-12); e um
convite a que o Povo respeite a santidade do sábado (cf. Is 58,13-14).
No
nosso texto, a palavra “jejum” (que, no contexto do capítulo, aparece sete
vezes) é a palavra-chave.
MENSAGEM
O
tema do “jejum” é um tema fundamental para a vivência judaica da fé e da
relação com Deus (cf. Ex. 34,28; Lv. 16,29.31; Jz. 20,26; 2Sm. 12,16-17; 1Re.
21,27; Jon. 3,7; Dn. 9,3; Esd. 8,21; Est. 4,16). No Antigo Testamento, é um
gesto religioso utilizado muito freqüentemente para traduzir a humildade diante
de Deus, a dependência, o abandono, o amor. Implica a renúncia a si próprio, ao
próprio egoísmo e auto-suficiência, para se voltar para o Senhor, para
manifestar a entrega confiada nas mãos de Deus, para mostrar que se está
disposto a acolher a ação e o dom de Jahwéh.
Ora,
o nosso texto sugere que o Povo pratica certas formas de piedade sem ter em
conta as suas exigências profundas. No que diz respeito ao jejum, o fato é que
o Povo pratica esta forma de piedade de forma interesseira: para pôr Deus do
seu lado, para Lhe agradar, para provocar em Deus uma resposta à medida dos
desejos do homem. O jejum, visto dessa forma, não é um traduzir num gesto a
humildade, a dependência, a entrega do homem face a Deus; mas é uma tentativa
de pôr Deus do seu lado, de captar a sua benevolência, a fim de que Ele realize
os interesses e os desejos egoístas do homem.
Deus
desmascara a falsidade das atitudes do homem, que manifesta em gestos (jejum) a
sua humildade, dependência e entrega mas depois não confirma (com a vida) essa
atitude (provocam “rixas e contendas, dando murros sem piedade” – Is. 58,4).
Para
Deus, a atitude de dependência, de humildade, de entrega, tem de se traduzir
numa vida consentânea com as propostas de Deus. O culto tem de ter tradução em
atitudes concretas.
Assim,
o “jejum” autêntico (que manifesta a entrega do homem a Deus e a sua vontade de
viver em relação com Ele, a sua aceitação e acolhimento de Deus) é aquele que
se traduz em partilha com os pobres (vs. 7.10), na eliminação da opressão, da
injustiça, da violência, dos gestos de ameaça (v. 9).
Para
Deus, não é um culto formalista, rico de gestos estrondosos e de ritos solenes
mas estéril e vazio quanto aos sentimentos, que faz do Povo de Deus a “luz” do
mundo; o Povo de Judá será uma luz que anuncia Deus no mundo, se testemunhar o
amor e a misericórdia em gestos concretos de libertação, de partilha, de amor e
de paz. A relação com Deus (expressa nos gestos cultuais) só é verdadeira se se
traduz em gestos que anunciem e testemunhem a misericórdia e o amor de Deus no
meio dos outros homens.
ATUALIZAÇÃO
•
A questão essencial é esta: como é que podemos ser uma luz que acende a
esperança no mundo e aponta no sentido de uma nova terra, mais cheia de paz, de
esperança, de felicidade? Esta leitura responde: não é com liturgias solenes ou
com ritos litúrgicos espampanantes, muitas vezes estéreis e vazios; mas é com
uma vida onde o amor a Deus se traduz no amor ao irmão e se manifesta em gestos
de partilha, de fraternidade, de libertação.
•
Atenção: não se diz aqui que os momentos de oração e de encontro pessoal com
Deus sejam supérfluos, inúteis, desnecessários; o que se diz aqui é que os
ritos em si nada significam, se não correspondem a uma vivência interior que se
traduz em gestos concretos de compromisso com Deus e com os seus valores. A
multiplicidade de ritos, de orações solenes, de celebrações, por si só nada
vale, se não tem a devida correspondência na vida de relação com os irmãos.
•
Sinto o imperativo de ser uma “luz” que se acende na noite do mundo e que dá
testemunho do amor e da misericórdia de Deus? A minha fé e a minha relação com
Deus têm tradução na luta pela libertação dos meus irmãos? O meu compromisso de
crente leva-me a estar atento à partilha com os pobres, os débeis, os
desfavorecidos? A minha vivência religiosa traduz-se no ser profeta do amor e
servidor da reconciliação?
2ª leitura – 1Cor. 2, 1-5 - AMBIENTE
Já
vimos, na passada semana, que um dos grandes problemas que a comunidade cristã
de Corinto enfrentava tinha a ver com a propensão dos coríntios para a busca de
uma sabedoria puramente humana, que os levava a apostar em pessoas (Pedro,
Paulo, Cefas), em mestres humanos capazes de transportar os discípulos ao
encontro da sua realização; mas, dessa forma, acabavam por esquecer Jesus
Cristo e por passar ao lado da “sabedoria da cruz”.
Neste
contexto, Paulo recorda aos coríntios que a “sabedoria humana” não salva nem
realiza plenamente o homem. A realização plena do homem está em Jesus Cristo e
na “loucura da cruz”.
Como é que a salvação e a realização plena do homem podem, no entanto, manifestar-se nesse facto paradoxal de um Deus condenado à fragilidade, que morre na cruz como um bandido?
Como é que a salvação e a realização plena do homem podem, no entanto, manifestar-se nesse facto paradoxal de um Deus condenado à fragilidade, que morre na cruz como um bandido?
Para
que as coisas se tornem perfeitamente claras, Paulo apresenta dois exemplos. No
primeiro (a segunda leitura do passado domingo), Paulo refere o caso da própria
comunidade de Corinto: apesar da pobreza, debilidade e fragilidade dos membros
da comunidade, Deus chamou-os a serem testemunhas da sua salvação no mundo. No
segundo (e que é a leitura que nos é aqui proposta), Paulo apresenta com
humildade o seu próprio caso.
MENSAGEM
Paulo
apresenta-se na dupla condição de evangelizador e de homem.
Como
evangelizador (vs. 1-2), Paulo não se apresentou com palavras grandiosas, com
discursos sublimes, com filosofias elaboradas e coerentes; mas apresentou-se
com toda a simplicidade para anunciar esse paradoxo de um Deus fraco, que
morreu numa cruz rejeitado por todos. Apesar de tudo, em Corinto nasceu uma
comunidade cristã cheia de força e de fé.
Como
homem (vers. 3-5), Paulo apresentou-se em Corinto consciente da sua fraqueza,
assustado e cheio de temor. Não foi, portanto, pela sedução da sua
personalidade arrebatadora, pelas suas “brilhantes” qualidade do pregador, nem
pelo brilho e coerência da sua exposição que os coríntios se sentiram atraídos
por Jesus e pelo Evangelho.
Qual
foi, então, a razão pela qual os coríntios aderiram à proposta de Jesus,
apresentada humildemente por Paulo?
Porque
a força de Deus se impõe, muito para além dos limites do homem que apresenta a
proposta ou do ouvinte que a escuta. O Espírito de Deus está sempre presente e
age no coração dos crentes, de forma a que eles não se fiquem pelos esquemas da
sabedoria humana, mas se deixem tocar pela sabedoria de Deus.
ATUALIZAÇÃO
•
Após dois mil anos de Evangelho, a nossa civilização “cristã” ainda age como se
a salvação do mundo e dos homens estivesse no poder das armas, na estabilidade
da economia, no desenvolvimento sustentado, no controle do buraco do ozono, no
pleno emprego, na paz social, na eliminação do terrorismo, na defesa da
floresta amazônica, nas declarações de boas intenções feitas pelos senhores do
mundo nos grandes areópagos internacionais… Mas Paulo diz, muito simplesmente,
que a salvação está na “loucura da cruz” e que a vida em plenitude está no amor
que se dá completamente. Quem tem razão: os nossos teóricos, formados pelas
grandes universidades internacionais, ou o judeu Paulo, formado na universidade
de Jesus?
•
A força e a “sabedoria de Deus” manifestam-se, tantas vezes, na fragilidade, na
pequenez, na obscuridade, na pobreza (como o exemplo de Paulo o comprova).
Sendo assim, não nos parecem ridículas e descabidas as nossas poses de
importância, de autoridade, de protagonismo, de brilho intelectual?
•
Aqueles que têm responsabilidade no anúncio do Evangelho devem recordar sempre
que a eficácia da Palavra que anunciam não depende deles e que o êxito da
missão não resulta das suas qualidades pessoais ou das técnicas sofisticadas
postas ao serviço da evangelização: somos todos instrumentos humildes, através
dos quais Deus concretiza o seu projeto de salvação para o mundo… Para além do
nosso esforço, da nossa entrega, da nossa doação, das nossas técnicas, está o
Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.
Evangelho – Mt. 5,13-16 - AMBIENTE
Continuamos
no contexto do “sermão da montanha” (cf. Mt. 5-7). Jesus está (na versão de
Mateus) no cimo de um monte, a apresentar a nova Lei que deve reger a caminhada
do novo Povo de Deus na história (já vimos, no passado domingo, que a indicação
geográfica – no cimo de um monte – nos transporta à montanha do Sinai, onde
Jahwéh se revelou ao seu Povo e lhe deu a sua Lei; aqui Jesus é, portanto,
apresentado como o Deus que, no cimo de um monte, dá ao seu Povo os
“mandamentos” da nova aliança).
Mateus
agrupa, neste primeiro discurso, um conjunto de “ditos” de Jesus
(provavelmente, pronunciados em contextos e ocasiões diversas), destinados a
proporcionar à comunidade concreta a que o Evangelho se destinava, um conjunto
de ensinamentos básicos para a vida cristã.
MENSAGEM
O
texto que nos é proposto reúne duas parábolas – a do sal e a da luz –
destinadas a pôr em relevo o papel do novo Povo de Deus no mundo e a definir a
missão daqueles que aceitam viver no espírito das bem-aventuranças. Depois de
apresentar a nova Lei (“bem-aventuranças”), Jesus define a missão do novo Povo
de Deus.
A
primeira comparação é a do sal (v. 13). O sal é, em primeiro lugar, o elemento
que se mistura na comida e que dá sabor aos alimentos (cf. Jb. 6,6). Também é
um elemento que assegura a conservação dos alimentos e a sua
incorruptibilidade. Simboliza, nesta linha, aquilo que é inalterável… No Antigo
Testamento, o sal é usado para significar o valor durável de um contrato; nesse
contexto, falar de uma “aliança de sal” (Nm. 18,19) é falar de um compromisso
permanente, perene (cf. 2Cr. 13,5).
Dizer
que os discípulos são “o sal” significa, portanto, que os discípulos são
chamados a trazer ao mundo essa “qualquer coisa mais” que o mundo não tem e que
dá sabor à vida dos homens; significa também que da fidelidade dos discípulos
ao programa enunciado por Jesus (as “bem-aventuranças”) depende a perenidade da
aliança entre Deus e os homens e a permanência do projeto salvador e libertador
de Deus no mundo e na história.
A
referência à perda do sabor (“se o sal perder o sabor… já não serve para nada”)
destina-se a alertar os discípulos para a necessidade de um compromisso efetivo
com o testemunho do “Reino”: se os discípulos de Jesus recusarem ser sal e se
demitirem das suas responsabilidades, o mundo guiar-se-á por critérios de
egoísmo, de injustiça, de violência, de perversidade, e estará cada vez mais
distante da realidade do “Reino” que Jesus veio propor. Nesse caso, a vida dos
discípulos terá sido inútil.
A
segunda comparação é a da luz (vs. 14-16). Para a explicar, Jesus utiliza duas
imagens.
A
primeira imagem (a da cidade situada sobre um monte) leva-nos a Is 60,1-3, onde
se fala da “luz” de Deus que devia brilhar sobre Jerusalém e, a partir de lá,
alumiar todos os povos. A interpretação judaica de Is 60,3 aplicava a frase a
Israel: o Povo de Deus devia ser o reflexo da luz libertadora e salvadora de
Jahwéh diante de todos os povos da terra. A segunda imagem (a da lâmpada
colocada sobre o candelabro, a fim de alumiar todos os que estão em casa)
repete e explicita a mensagem da primeira: os que aderem ao “Reino” devem ser
uma luz que ilumina e desafia o mundo. É possível que haja ainda nestas imagens
uma referência ao “Servo de Jahwéh” de Is. 42,6 e 49,6, apresentado como a “luz
das nações”.
De
qualquer forma, a verdade é que, na perspectiva de Jesus, essa presença da
“luz” de Deus para alumiar as nações dar-se-á, doravante, nos discípulos, isto
é, naqueles que aceitaram o apelo do “Reino” e aderiram à nova Lei (as
“bem-aventuranças”) proposta por Jesus. Eles são a “nova Jerusalém”, ou o novo
“Servo de Jahwéh” de onde a proposta libertadora de Deus irradia e a partir de
onde ela transforma e ilumina a vida de todos os homens.
Estas
duas imagens não pretendem, contudo, dizer que os discípulos de Jesus devam dar
nas vistas, mostrar-se, escolher lugares de visibilidade de onde as massas os
admirem e os aplaudam. Mas pretende dizer que a missão das testemunhas do
“Reino” deve levá-las a dar testemunho, a questionar o mundo, a ser uma
interpelação profética, a ser um reflexo da luz de Deus; e que não devem
esconder-se, demitir-se da sua missão, fugir às suas responsabilidades.
Essas
“boas obras” que os discípulos devem praticar, e que serão um testemunho do
“Reino” para os homens, são, provavelmente, aquelas que Mateus apresenta na
segunda parte das “bem-aventuranças” (cf. Mt. 5,7-11): a “misericórdia” (um
coração capaz de compadecer-se, de amar, de perdoar, de se comover, de se
deixar tocar pelos sofrimentos e angústias dos irmãos), a “pureza de coração”
(a honestidade, a lealdade, a verdade, a verticalidade), a defesa intransigente
da paz (a recusa da violência e da lei do mais forte a luta pela reconciliação)
e da justiça. É desse labor dos discípulos que nascerá o mundo novo, o mundo do
“Reino”.
A
missão dos discípulos é, portanto, a de “dar sabor” ao mundo, garantir aos
homens a perenidade da “aliança” e iluminar o mundo com a “luz” de Deus. Eles
são as testemunhas dessa realidade nova que nasce da oferta da salvação e da
vivência das “bem-aventuranças”. Neles tem de estar presente essa realidade
nova, que Jesus chamava “Reino”.
ATUALIZAÇÃO
•
A questão essencial que este trecho do Evangelho nos apresenta é esta: Deus
propôs-nos um projeto de libertação e de salvação que conduzirá à inauguração
de um mundo novo, de felicidade e de paz sem fim; e aqueles que aderiram a essa
proposta têm de testemunhá-la diante do mundo e dos homens com palavras e com
gestos concretos, a fim de que o “Reino” se torne uma realidade. Como é que me
situo face a isto? Para mim, ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente,
que me obriga a testemunhar o “Reino”, mesmo em ambientes adversos, ou é um
caminho “morno”, instalado, cômodo, de quem se sente em regra com Deus porque
vai à missa ao domingo e cumpre alguns ritos que a Igreja sugere?
•
Eu sou, dia a dia, o sal que dá o sabor, que traz uma mais valia de amor e de
esperança à vida daqueles que caminham ao meu lado? Para aqueles com quem lido
todos os dias, sou uma personagem insípida, incaracterística, instalada numa
mediocridade cinzenta, ou sou uma nota de alegria, de entusiasmo, de otimismo,
de esperança numa vida nova vivida ao jeito do Evangelho, ao jeito do “Reino”?
No meio do egoísmo, do desespero, do sem sentido que caracteriza a vida de
tantos dos meus irmãos, eu dou um testemunho de um mundo novo de amor e de
esperança?
•
Ser cristão é também ser uma luz acesa na noite do mundo, apontando os caminhos
da vida, da liberdade, do amor, da fraternidade… Eu sou essa luz que aponta no
sentido das coisas importantes, impedindo que a vida dos meus irmãos se gaste
em frivolidades e bagatelas? Para os que vivem no sofrimento, na dúvida, no
erro, para os que vivem de olhos no chão, eu sou a luz que aponta para o mais
além e para a realidade libertadora do “Reino”?
•
Atenção: eu não sou “a luz”, mas apenas um reflexo da “luz”… Quer dizer: as
coisas bonitas que possam acontecer à minha volta não são o resultado do
exercício das minhas brilhantes qualidades, mas o resultado da ação de Deus em
mim. É Deus que é “a luz” e que, através da minha fragilidade, apresenta a sua
proposta de libertação e de vida nova ao mundo. O discípulo não deve, pois,
preocupar-se em atrair sobre si o olhar dos homens; mas deve preocupar-se em
conduzir o olhar e o coração dos homens para Deus e para o “Reino”.
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