O QUE NÃO ME CUSTA NÃO TEM VALOR?
Vestir Deus com a nossa forma de pensar nos
impede de abrir-nos à graça de um Pai que é amor e que se alegra com a
entrega simples dos seus filhos.
Uma pessoa me disse: "O que não me custa
não vale nada". E eu fiquei pensando nisso. Será mesmo que o que não
exige esforço não tem valor algum? Aos olhos de Deus, não vale nada fazer algo que nos agrada?
É verdade que, às vezes, acabamos acreditando nisso e nos convencemos de
que somente o que nos custa é meritório. Assim, desprezamos aquilo de
que gostamos, o que nos agrada, o que não nos exige nada, porque achamos
que isso não tem valor.
Talvez façamos isso porque aplicamos nossa própria experiência. Pensamos que o maior amor é aquele capaz de sacrificar-se e renunciar. Achamos mais meritória uma vida cheia de esforços, sofrida, sacrificada, ao invés de uma vida aparentemente mais fácil.
É verdade que o amor que se sacrifica é grande, muito grande. Mas não cabe a nós comparar amores e julgar santidades.
Estamos sendo generosos quando renunciamos e nos sacrificamos por amor, quando damos a vida, gota a gota, a esse Deus que nos ama e por essas pessoas às quais amamos. Mas isso só tem valor quando o fazemos obedecendo a Deus, seguindo seus passos. Este sacrifício, sim, vale a pena.
Mas também há momentos de paz e luz, nos quais amamos e somos amados, nos quais vivemos a vida
com alegria e desfrutando de cada momento, cada conversa, cada risada.
Sim, há momentos de luz que são muito valiosos aos olhos de Deus.
O que agrada a Deus é o que fazemos por amor
(custando-nos ou não). Ele se comove diante da entrega diária com
alegria – ainda que pensemos que necessariamente quem mais se esforça e
sacrifica é quem mais ama. Se, ao escolher entre dois bens, optamos pelo
que mais nos custa, isso terá valor se o fazemos porque consideramos
que é o mais agrada Deus.
O Deus de Jesus, esse Deus do qual Ele nos fala nas bem-aventuranças, esse Deus a quem seguimos e amamos, é um Deus que se alegra com a nossa vida e quer sempre o nosso bem. É o Deus que nos ensina a viver e aproveitar a vida, que alegra a nossa vida inclusive na dor.
Ao referir-se à melhor atitude diante da vida, uma
pessoa disse: "Não chore pelo que você perdeu, mas lute pelo que lhe
resta. Não chore pelo que morreu, mas lute pelo que nasceu em você. Não
chore por quem partiu, mas lute por quem está ao seu lado. Não chore por
quem o odeia, mas lute por quem o ama. Não chore pelo seu passado, mas
lute pelo seu presente. Não chore pelo seu sofrimento, mas lute pela sua
felicidade. Com as coisas que vão nos acontecendo, vamos aprendendo que
nada é impossível de solucionar-se. Apenas siga adiante".
Mas temos a tentação de vestir Deus com a nossa forma de pensar. Nós o algemamos do nosso jeito e, assim, não nos abrimos à graça de um Deus que é amor e que se alegra com a entrega simples dos seus filhos.
Deixamos de acreditar em um Deus que quer nosso bem, nossa felicidade e plenitude, e não que nos afoguemos nas dificuldades da vida. Ele não quer que vejamos nossa vida como um muro intransponível, como uma batalha na qual nunca venceremos.
Afinal, o caminho da vida, ainda que às vezes não
pareça, é mais simples do que pensamos: consiste em lutar pelo que
temos, pelo que está vivo, pelas pessoas com as quais caminhamos, pelo
presente e pelo futuro, pela graça da felicidade. Lutar sempre, seguindo
sua vontade, obedecendo sua voz.
Padre Carlos Padilla
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