LITURGIA DIÁRIA - "AUMENTA-NOS A FÉ"
Lucas 17, 5-10 Naquele tempo, 5Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé! 6Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. 7Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à mesa? 8E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu? 9E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação? 10Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer. - Palavra da salvação.
O evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, ao projeto de vida que Jesus veio apresentar. Tal adesão se dá através da fé, por meio desta terá início o Reino de Deus. Os discípulos comprometidos na construção do “Reino” devem lembrar que não agem por si próprios, mas são instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino”, convidou-os à humildade e à gratuidade; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens; exigiu-lhes o perdão como atitude; agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais fé. O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20. Aqui ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”. Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”? No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão à pessoa de Jesus, à sua proposta, ao seu projeto. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, mas supõe um compromisso radical. Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta. Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar o rumo, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”… Lucas descreve a atitude que a pessoa deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Lei para alcançar a salvação. A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos a pessoa. Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos. Uma mensagem radical e um tanto difícil de acatar para nossa vida. A fé é a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto. Será que é assim que entendo a minha fé, como adesão? Há algo de novo à minha volta pelo fato de eu ter aderido a Jesus e pelo fato de eu estar a percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer? Frequentemente em nossa vida queremos ser “reconhecidos” por aquilo que fazemos, esta mentalidade muitas vezes a transportamos para a relação com Deus. Queremos “comprar” a salvação. No entanto, segundo a Palavra não podemos exigir nada de Deus, somos servos “inúteis”. É uma linguagem dura de aceitar, mas é a atitude que o discípulo deve ter. É assim que eu me comporto?
Pe Bantu
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