quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COMBATE E QUEDA ESPIRITUAL - ÚLTIMA PARTE


“A serpente era o mais astuto de todos os animais...” (Gn 3,1).


Seria pura ignorância imaginar que o inimigo iria se apresentar na vida do homem da forma que ele realmente o é. Que ele iria fazer grandes estragos de forma rápida e direta. Não. A ação do inimigo em nossas vidas se dar de forma sorrateira, com sementes do mal semeadas para uma colheita meses ou anos depois. Uma dessas sementes pode ser plantada hoje e levar até 30 anos para destruir um matrimônio ou até mesmo uma vida, mais o seu fruto sempre será o da destruição.

Diz um refrão popular que: “o mal nunca dorme”, é verdade, mas, pior que isso, ele nem dorme e nem dar descanso a mais ninguém.
Sua manifestação se dar desde simples pensamentos, a imagens ou músicas com letras que aparentemente não tem muito significado para a vida espiritual, mas, que de forma imperceptível, vai enfraquecendo o cristão. Seja qual for a forma, os dardos sempre são certeiros, precisos e com poder altamente destruidor.

Os objetivos desses dardos inflamados do inimigo, como descreve o Apóstolo Paulo, são de fazer com que o cristão se afaste do seu criador, mais que isso, fazer com que ele se perca definitivamente, tirando a comunhão que o homem tem com Deus e para isso irá usar todos os meios, mesmo aqueles que aparentemente sejam ou se mostrem como sendo “bons”.

A atenção deve está voltada para tudo aquilo que envolve sua vida, seja no trabalho, na rua ou em casa, é preciso que exista toda uma vigilância sobre tudo que acontece em nossa volta, cada ato, cada ação ou reação e de como isso vai influenciar na vida, de como será sua atuação, seu efeito sobre ela, se positivo ou não. A verdade é que tudo que nos acontece se não estiver sobre os olhos vigilantes da oração, pode ter um efeito negativo e com o tempo devastador em nossas vidas. Sobre a importância da oração, dizia Santo Afonso de Ligório: “O homem que reza é tão poderoso quanto Deus, porque faz seu, o poder que é de Deus”.
É extremamente fundamental a busca incessante pela oração, para que possa perceber através dos olhos da fé, as armadilhas e ciladas postas todos os dias sobre a vida daqueles que tem comunhão com Deus.

As formas ou meios pelos quais são envenenados as pontas dos dardos, são os mais variados e sutis possíveis.
Para são Bento, ele encontrou três aberturas por onde essas setas inflamadas podem acertar nosso coração. Nessas aberturas, é ainda onde se dar o grande combate espiritual. É a localização da grande fragilidade humana.

A COBIÇA – São Bento apresenta esta como sendo a idolatria das coisas. É transformar coisas em deuses. Um dos muitos exemplos disso, é o mal uso do dinheiro. Quem o tem e deposita nele toda sua confiança, está abrindo a fresta para o primeiro dardo. Para encontrar um antídoto contra esse tipo de veneno, é preciso que exista o fator inverso. Que exista agora um coração generoso, desapegado, disponível a doação.
A VAIDADE – È a necessidade de ser reconhecido e “amado”. De se sentir absoluto.
Admiração, elogios, respeito, reconhecimento etc. Tudo gira em torno da busca pelo primeiro lugar. Se sentir importante, se destacar dentre todos, superioridade. São Bento usa aqui como símbolo o Pavão.
Antídoto – Reorientar esse tipo de necessidade. Reconhecer pequeno, infeliz e miserável. Saber que ser absoluto é não ser absolutamente nada. E poder dizer em alta voz: “Senhor, Vosso é o Reino, o Poder e a Glória”
O ORGULHO – Eis um dardo com alto poder de destruição. Aqui já não se idolatra coisas, mas a si mesmo. É por essa seta inflamada que o homem perde sua comunhão com Deus e procura sua independência. “... e sereis como deuses...”(Gn 3,5). Fonte de todos os pecados.
Antídoto – buscar incessantemente a humildade. É pedir a Deus a graça da humilhação. È Exercitar a obediência mesmo nas pequenas coisas. Somente dessa forma, poderá conter a propagação desse mal por todo o corpo.

Para ilustrar mais esse entendimento, e ainda sobre o dinheiro, este é um dos principais sedutores quando não se vive uma vida de oração. O próprio Paulo, fazia questão de não pegar em dinheiro, aceitando ajuda de suas comunidades, dentre elas a de Filipenses pela qual tinha grande estima. (Fl 4,10ss)
O Poder – Jesus aponta em seu quarto discurso no evangelho narrado por Mateus, como sendo a principal tentação de uma comunidade. Ele envolve, transforma, cega e manipula o homem.
Perdas – A perca de entes queridos pode ter um efeito nefasto na vida de muitos se não mantiverem uma vida de oração, uma vida alicerçada na palavra e na fé em Deus. Muitos foram os casos de pessoas que questionaram a partidas de entes por serem jovens ou que eram pessoas boas, quando o mundo está cheio de tantos homens maus.
Amor, Sexo, amizades, Doenças, discórdia, mágoas, ódio e julgamentos – quão devastadores são esses elementos na vida do homem. São situações que quando não policiadas, tem efeitos catastróficos.

Então é preciso avaliar realmente o que os mais variados tipos de situações provocam em nós. Edifica-nos verdadeiramente, glorifica a Deus? Conduz-nos para Deus? Faz-nos instrumento de salvação? Ou será que nos provoca medos, angústias, forte atração pelo pecado? Enche-nos de orgulho? Vaidade ou soberba?

Claro que por estarmos no mundo, haveremos de ter tribulações (Jo 16,33), mas, ter dinheiro e poder, não quer dizer que tenha que se corromper. Usa o dinheiro para investir em obras do Reino de Deus. Aplica esses valores em Bolsas de investimento que nunca quebram e que tem uma economia sólida eternamente.

Usa o poder e sua influência para favorecer as obras de evangelização. Dinheiro e Poder não pertencem ao inimigo, Jesus tinha poder e mesmo assim deu belíssimas lições de humildade. Mas tudo isso pode ser usado por esse astuto inimigo. Vivemos sob seu governo (Jo 14,30); (1 Jo 5,19), e portanto tudo isso pode ser fortemente influenciado por suas ações, basta que eu abra frestas para que ele possa agir. Frestas são abertas quando não se ora e quando se perde a comunhão diária com o criador.

Reza um ditado popular que: “nem tudo é só desgraça”. E não é. Vivemos no tempo da Graça, com um Deus justo e Fiel. E é Ele que nos garante que “maior é O que está em nós do que o que está no mundo”(1 Jo 4,4). E ainda, “Não sobreveio tentação alguma que ultrapasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das forças. Mas com a tentação ele vos dará meios de suportá-la e sairdes dela” (1 Cor 10,13).

Vivemos em um campo de batalha (conforme citado na parte 1 e 2 dessa matéria), todos os dias travamos uma ferrenha luta contra as tentações. Ganhamos umas e perdemos outras. Quantos foram os homens de Deus que não conheceram o processo da queda espiritual. A fase inicial e gradativa da queda se dá quando já não nos alimentamos mais daquilo que fortalece nossa mente para fazer a vontade do espírito. É perfeitamente possível, àqueles que conhecem a palavra, visualizar os passos que futuramente levarão a uma queda. Não haver reação para evitar, pode ser que exista algo que humanamente e até psicologicamente possa está afetando não a fé, mas as forças para buscar o verdadeiro alimento. Tudo isso limita as condições para que seja esboçada qualquer reação. Que é um processo perceptível, isso é.
O processo inicial para retornar após uma queda vai depender muito da situação. há situação pode ser reversível, outras não totalmente. Mas, uma coisa é certa, todas os traz a comunhão com Deus novamente.
Um dos principais fundamentos para a recuperação daquele que caiu, é ser amado. (lógico que após manifestar realmente o desejo de voltar). A facilidade para emitir juízos por parte dos que acreditam está de pé é muito ampla. Poucos são os que realmente se abrem para amar e acolher aquele que por diversas razões se deixou levar para a execução final do processo de queda. E esse amor é imprescindível para que ele possa retornar.
Infelizmente muitos que vivem pendurados em terços e mais terços diários, de joelhos diante do Santíssimo, com microfones nas mãos fazendo uso de sua eloqüência retórica para levar a mensagem de Deus, mas, que na verdade não tem um coração voltado para amar, estão classificados nos grupos dos Fariseus e Escribas do século XXI.
Cegos, não perceberam ainda, e às vezes, a tentação, a queda e o retorno podem fazer do homem um servo muito melhor.
Na verdade, grande parte dos que caminham e não amam, que acreditam está de pé, mas não se abrem a esse amor para com aqueles que caíram ou se quer nunca tiveram a oportunidade de conhecer a vida nova, exatamente por que faltou esse amor para com eles, estes, não passam de Fariseus modernos infiltrados dentro das Igrejas e nos Grupos de Oração, e ainda tentam projetar a imagem do bom Samaritano. Hipócritas! Estão caídos tanto quanto os de forma literal, além de cegos pela pseudo-santidade apresentada, o que impossibilita não perceberem que também já tombaram.

Após esse processo inicial da volta, agora é hora de alimentar o Espírito. Claro que não somente para quem quer voltar, mas, importante também para os que acreditam está de pé. Não só alimentar o espírito, mas também, necessitará de muita oração.
Podemos alimentar o espírito com a Palavra de Deus exercitando a prática da leitura diária, oração, louvor, adoração, jejum e eucaristia.
Paulo também nos dar dicas de como alimentar esse espírito para que sejamos impulsionados a vitória.

Em Efésios 6,11-17, o Apóstolo Paulo fala da importância de guardar a Palavra de Deus.
Ainda na mesma carta, no capítulo 5,1-20, é apresentado toda um complexo vitamínico para que esse alimento seja cada vez mais fortificado. È a postura da nova criatura. São ensinamentos preciosos para uma retomada ou para quem luta a permanecer de Pé.

Assim, toda essa alimentação é imprescindível para que o homem possa permanecer em estado de alerta. Isso fará com que ele se torne adulto na fé. Então não mais necessitará de leite, mas de algo mais sólido. (Hb 5,14 ); (1 Pd 2,2).

Assim, conclui-se que as grandes mazelas da humanidade não podem ser explicadas apenas pela fraqueza ou maldade presente no homem. É sabido da existência de uma força tenebrosa habitante das regiões celestes que seduz, engana e destrói a mais bela criação de Deus e a que ele mais ama. Que tem como alvo principal as almas que amam ao Senhor e que servem de canais de salvação para outras almas.
Sabemos que Deus nos ama com amor infinito, mas infelizmente também sabemos que seu inimigo nos odeia de uma forma mortal. Precisamos viver à sombra do Onipotente, em total abandono, se tornar homens e mulheres de oração, jejuns, adoração e eucaristia, ou seremos apenas alvos fáceis em meio a essa guerra brutal em que o único risco que corremos é de perder nossas almas.

Por fim, Deus é fiel, e jamais permitirá que “sejais tentados além de vossas forças...” (1Cor 10,13).
Quanto aos julgamentos e os critérios usados por parte dos “Fariseus e Escribas” do nosso tempo, a respeito dos que conhecem o período de aridez, não há nada de novo para se dizer, exceto, tornar presente as palavras daquele que realmente poderia julgar e não o fez descritas em Lc 11,42-52.
Por Wellington Dantas

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