Se
você quer se afirmar como indivíduo hoje, vista-se devida e
modestamente. Não tem certeza do que é modesto nestes tempos? Então,
evite ao menos aquilo que não é. Resistir à mania "descolada" das roupas
esfarrapadas pode ser um ótimo começo.
Talvez um dos assuntos particulares mais sensíveis que podemos levantar
com as pessoas é o do vestuário. O modo como nos devemos vestir
tornou-se uma questão puramente subjetiva. Cada um deveria resolver o
que é ou não apropriado usar.
Existem, é claro, alguns limites. A maior parte dos (bons) católicos
admitirá, em teoria, que certos modos de vestir-se devem ser
classificados como "imorais ou imodestos". Seria o caso de roupas (ou a
falta delas) que cobrem o corpo insuficientemente, tornando-se por isso
moral e socialmente inaceitáveis.
Para além desse extremos, no entanto, a maioria pensa aparentemente que
pode usar qualquer coisa, em qualquer lugar e a qualquer hora, sem que
haja quaisquer consequências. As roupas não têm mais que ser arrumadas.
As pessoas podem usar trajes deliberadamente rasgados, manchados e
cheios de buracos, sem medo de serem rejeitadas.
Roupas sequer precisam ser roupas mais. Elas podem muito bem ser trapos esfarrapados; quanto mais sombrios, melhor.
Essas roupas são chamadas de "descoladas" e estão ficando cada vez mais na moda. Não se trata apenas de amadores rasgando
jeans desbotados ao acaso, ou de comerciantes lançando tendências aleatórias. A coisa está se tornando convencional.
O mundo
fashion agora abraçou o vestuário "descolado" como algo
chique. Os estilistas estão usando nova tecnologia e contratando
técnicos em efeitos especiais para conseguir uma aparência naturalmente
corroída e desgastada, que passa a impressão de a pessoa já estar usando
a roupa há vinte anos. Os especialistas se servem de maçaricos,
pistolas de ar, lasers e lixadeiras para afrouxar fios, desbotar tecidos
e abrir buracos. A empresa Nordstrom, por exemplo, está vendendo um par de jeans coberto de barro por 425 dólares. (A peça já se encontra esgotada, a propósito.)
Roupas rasgadas tornaram-se sinônimo de descontração, extroversão e
autossuficiência. Ironicamente, essas pessoas supostamente
"independentes" submetem-se às modas como um rebanho, na pressa de
simplesmente se parecerem com todo o mundo. Sem falar do fato de que
estão sendo passadas para trás, já que as roupas esfarrapadas de marca —
geralmente mais vendidas que as normais — vêm com um preço muito maior.
Explicando o óbvio
O mundo está louco. Ninguém pode dizê-lo?
Não deveríamos ter que explicar o porquê de não se usar roupas
rasgadas. Isso é algo que as mães devem ensinar aos filhos desde a mais
tenra idade. Qualquer mãe cuidaria de costurar os rasgões no exato
momento em que os visse. Se encontrasse um buraco em uma compra, ela
faria o filho devolver as tais roupas à loja e pedir um reembolso.
Os tempos infelizmente mudaram, e as mães também. Um monte de mães "na moda" podem agora ser encontradas usando
shorts retalhados e camisetas com furos personalizados. Fazer
uma revisão do básico talvez ajude a tornar claro o porquê de isso ser
errado. Não importa o quão politicamente incorreto soe, é preciso dizer que trajes rasgados não são modestos e não devem ser usados.
Comecemos dizendo,
em primeiro lugar, que uma veste rasgada não é modesta porque
sequer é uma roupa de verdade. Essa afirmação pode muito bem acirrar os
ânimos, mas, desde uma perspectiva puramente metafísica, é preciso
admitir que tais vestes falham em cumprir o seu propósito.
"Ainda se trata de uma roupa — muitos responderiam —, só que de um
estilo diferente, mais confortável e que, por isso, deixa as pessoas
mais felizes. As pessoas devem fazer, afinal, o que as torna mais
felizes. Portanto, que usem roupas rasgadas, sem se preocuparem com a
aparência ou com a sua condição. O que importa é o conforto."
Embora as roupas que vestimos devam ser confortáveis, o propósito a que
servem não é o conforto, mas a proteção. As roupas existem para
proteger e adornar o corpo da pessoa. Alegar que é o conforto o
propósito de se vestir é como dizer que é o sabor, não a nutrição, o
propósito de se alimentar; ou que é o prazer do sono, não o descanso
físico, o propósito de dormir.
Quando um estilista cuidadosamente produz uma veste, então, com um
buraco onde este naturalmente apareceria com o tempo, o que ele está
fazendo é colocar em risco, de modo deliberado, os lugares do corpo que
mais precisam de proteção. Quando esse mesmo estilista deixa buracos em
lugares sexualmente sugestivos, mais uma vez, ele está trabalhando
contra o propósito das roupas de proteger a modéstia.
Trajes deliberadamente rasgados, portanto, contrariam o propósito das
roupas; são "caricaturas" do que uma roupa deveria ser. Longe de adornar
o corpo, o processo de rasgadura transforma aquilo que deveria ser
forte, belo e ordenado em uma coisa frágil, feia e desgastada. Vestes
esfarrapadas são desordenadas e, por isso, não se deveria usá-las.
Uma noção de modéstia que se perdeu
A
segunda razão pela qual roupas rasgadas não deveriam ser usadas é que elas são imodestas.
Novamente, uma afirmação assim levanta objeções. "A menos que os
farrapos ultrapassem os limites do que é considerado moral e socialmente
aceitável — muitos argumentariam —, não se pode dizer que são
imodestos."
E aqui reside o cerne do problema. As pessoas perderam completamente a
noção do que seja modéstia e de como ela se manifesta. Falta-lhes até
mesmo uma definição catequética dessa virtude. Muitos terminam por
confundi-la com a castidade, ligando-a tão-somente ao que é sensual.
A modéstia tem, é claro, um papel fundamental na conservação da
castidade, mas é muito mais do que isso; e, embora seja frequentemente
associada às vestes femininas, aplica-se aos homens também. De modo
geral, trata-se da virtude que salvaguarda a dignidade de uma pessoa no
contato com as outras. Traz benefícios tanto para o indivíduo quanto
para a sociedade, porque governa a aparência e o comportamento
exteriores da pessoa, ajudando a tornar a sociedade, assim, mais
civilizada e harmoniosa.
Além do modo de se vestir, a modéstia diz respeito
à maneira de se falar, à postura, aos gestos e à apresentação geral da pessoa,
convidando as pessoas a se comportarem bem com as outras e a se
conformarem aos padrões de decência e de decoro, presentes nos costumes
sadios de uma sociedade ordenada. É modesto, portanto, quem se apresenta
adequadamente diante dos outros, ou quem sabe controlar-se externamente
em sociedade; e é imodesto quem age de modo extravagante, bem como quem
fala de maneira a ofender ou desprezar os outros.
Em questão de vestuário "católico", isso significa vestir-se de acordo
com a dignidade de nosso corpo, templo do Espírito Santo, e de acordo
com a nossa identidade no mundo. Adultos se vestem como adultos;
crianças, como crianças; e autoridades, de acordo com o seu respectivo
ofício.
Significa, também, que não devemos nos vestir de modo descuidado.
Santo Tomás de Aquino afirma ser imodesto, por exemplo, quem age de
maneira excessivamente negligente em sua aparência, deixando de se
apresentar conforme seu estado de vida, assim como quem procura, com
isso, atrair atenções para si mesmo (cf. S. Th. II-II, q. 169, a. 1).
Roupas imorais e reveladoras são claramente imodestas, mas roupas
impróprias, manchadas e rasgadas, para ambos os sexos, também o são; não
se adequam à nossa dignidade de pessoas, feitas à imagem e semelhança
de Deus. Quando Nossa Senhora falou em Fátima contra modas que
ofenderiam muito a Nosso Senhor, ela estava se referindo igualmente a
esse tipo de vestuário.
Lutando contra a imodéstia hoje
A virtude da modéstia costumava ser determinada por noções
estabelecidas de decoro e de decência, que variavam de cultura para
cultura. O problema hoje é que há poucas normas de decência ainda
vigentes. Na verdade, a indecência se transformou em padrão.
Em uma sociedade relativista, consumida pela intemperança frenética da
vida moderna, somos "ensinados" a ter tudo agora, instantaneamente e sem
nenhum esforço, não importando quais sejam as consequências. Somos
estimulados à imodéstia nos modos, no falar e no vestir. Não surpreende,
por isso, que a sociedade esteja tão incivilizada em nossos dias e que
se fale tanto da perda da dignidade humana.
Dada a falta de padrões, é difícil saber por onde iniciar o retorno à
ordem. Talvez se deva começar desmascarando a propaganda mercadológica,
que nos pressiona a agir imodestamente. A aceitação das tais roupas
"descoladas" em todos os lugares é uma expressão não de individualidade,
mas de submissão. Ao aceitá-las, você se torna um escravo da moda, não
uma mente independente.
Por isso, se você quer se afirmar como indivíduo hoje, vista-se devida e
modestamente. Não tem certeza do que é modesto nestes tempos? Então,
evite ao menos aquilo que não é. Resistir à mania "descolada" das roupas
esfarrapadas pode ser um ótimo começo.
Por John Horvat II — Crisis Magazine | Tradução e adaptação: Equipe CNP
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