Como entender esse trecho bíblico muito rico em simbolismos e lições? – Cinco pontos vêm ao caso.
São
Lucas, o evangelista da misericórdia, não trata da figueira
amaldiçoada, mas São Mateus (21,18-22) e São Marcos (11,12-14.20-24)
sim. Fazem-no de forma concisa e forte, de modo que é oportuno observar a
lição que essa passagem nos traz.
Trata-se do seguinte: O Senhor Jesus,
ao voltar para Jerusalém, de manhã, sentiu fome e dirigiu-se a uma
figueira cheia de folhas. Como, porém, ela não tinha frutos (não era
época, diz São Marcos 11,13), Cristo amaldiçoou a planta e ela secou de
repente. Os discípulos se espantaram com a eficácia das palavras do
Mestre, mas Ele nada comentou sobre o feito. Disse apenas que a fé
remove montanhas e pela oração tudo se alcança.
Como entender esse trecho bíblico muito rico em simbolismos e lições? – Cinco pontos vêm ao caso:
- a) o Senhor sente fome… Fome de almas para Deus.
- b) a figueira é frondosa (cheia de folhas), mas nada produz. Em outras palavras: só tem aparência ou vistosidade, mas não oferece o principal que são os frutos. Assim são os hipócritas aqui retratados: vivem da aparência, mas sem eficiência.
- c) não era tempo de fruto, pois devia ser mês de abril, antes da Páscoa, época em que não há figos; portanto, a simples árvore não tem culpa. No entanto, o que o Evangelho deseja ensinar é que Israel se acha estéril ante a mensagem divina. Isso, contudo, não diz respeito só àquele povo, mas, sim, a todos nós, negligentes ante a Palavra de Deus e sua mensagem nos dias de hoje.
- d) a maldição é enfática e típica das sentenças fortes dos judeus (cf. Mt 21,19), mas não se aplica a todo o povo de Israel, e, sim, aos escribas e fariseus mentores da massa. Israel não é nação maldita. Ela foi escolhida por Deus e há de cumprir o seu papel no reino messiânico (cf. Rm 9,11).
- e) ante o susto dos Apóstolos, o Senhor evita comentar a questão da figueira seca em si, mas lhes incute o valor da oração. Ela é muito poderosa quando feita com fé ardente (cf. Mt 17,19), e é atendida não conforme os nossos caprichos, mas, sim, segundo a vontade de Deus: Ele, por exemplo, não afasta o cálice de Cristo – a Paixão – como Este pede (cf. Mc 14,36-37), mas Lhe dá algo muito maior: O faz vencedor da morte e – mais que isso – Senhor dos vivos e dos mortos (cf. Hb 5,7; Ap 2,8).
Tenha a palavra Dom Estêvão
Bettencourt, OSB: “A advertência de Jesus sobre o valor da oração vem
muito a propósito depois da maldição da figueira estéril. Serve de
conselho e estímulo ao leitor; este pode, até certo ponto,
identificar-se com uma árvore estéril, que não deu os frutos
correspondentes à imensa misericórdia de Deus; quem é capaz de se julgar
quite diante de Deus?”.
“A verificação desse desajuste poderia
abater o cristão… Todavia, a fim de que isso não aconteça, o Senhor lhe
lembra que há um recurso para remover as montanhas da infidelidade, da
negligência e do torpor espirituais: a oração. Esta é o instrumental que
não pode faltar na vida do cristão; ela inicia, acompanha e termina
tudo o que o cristão faz. Quando todos os recursos falham, ela fica
disponível, podendo ser proferida mesmo dos mais profundos abismos” […].
“Eis a mensagem que a figueira estéril
transmite ao cristão: o Senhor Deus sabe ter paciência, além mesmo do
que o cristão imagina; mas Ele pede a seus filhos que não abusem dessa
longanimidade, pois ninguém sabe se terá um amanhã para fazer o que se
pode fazer hoje” (Parábolas e páginas difíceis do Evangelho. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, s/d, p. 134).
Afinal, quem de nós sabe quanto tempo ainda temos antes do encontro definitivo com o Senhor? Reflitamos!
Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo.
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