sexta-feira, 21 de julho de 2017

JESUS, CASADO COM MARIA MADALENA?

Parte dessa lenda se escora num manuscrito apócrifo do ano 570.

https://i2.wp.com/res.cloudinary.com/aleteia/image/fetch/c_fill,g_auto,w_620,h_310/https://aleteiaportuguese.files.wordpress.com/2017/07/web-saint-july-22-mary-magdalene-public-domain.jpg?resize=620%2C310&quality=100&strip=all&ssl=1

Foi lançado em 2014 um dos vários livros que tratam da suposta relação amorosa entre Jesus e Maria Madalena e da família que eles teriam constituído. Os autores de “The Lost Gospel” disseram, na época, ter descoberto um documento do ano 570 segundo o qual Jesus teria se casado e tido filhos com Maria Madalena. Um dos filhos, grande seguidor de Cristo, teria presenciado os momentos da crucificação e da descoberta do sepulcro vazio. Esse manuscrito tinha sido composto em siríaco, língua usada no Oriente Médio entre os séculos IV e XVIII, com trechos em aramaico, a língua de Jesus.

José e Aseneth

O livro, escrito por Barrie Wilson, professor canadense de estudos religiosos, e Simcha Jacobovici, escritor israelense, suscitou muitas polêmicas. Após anos de estudos, os autores afirmaram que existiria parte de verdade naquele manuscrito que, durante anos, ficou nos arquivos da British Library de Londres. Os dois personagens principais, José e Aseneth, seriam Jesus e Maria Madalena.

Dois filhos

O texto descreve um casamento que durou sete dias e que teve a bênção do faraó do Egito. Olhando para Aseneth, o faraó teria declarado: “Bem-aventurada pelo Senhor Deus de José, porque ele é o primogênito de Deus, e serás chamada a Filha do Deus Altíssimo e a esposa de José, agora e para sempre”. Nos anos sucessivos, Aseneth teria concebido dois filhos: Manasseh e Ephraim. Segundo Jacobovici, depois que o imperador romano Constantino ordenou destruir todos os evangelhos, sobraram apenas os de Marcos, Lucas, Mateus e João. Dos demais que havia não se tem mais traços – e justamente nesses outros haveria relatos sobre Jesus e Maria Madalena.

O estado civil do Messias

O padre Rinaldo Fabris, biblista, declarou a Aleteia que “a ausência de informações sobre a infância de Jesus e sobre o seu estado civil instigou a fantasia de muitos narradores cristãos e não cristãos. Esse mesmo vazio dá origem a todos os textos apócrifos”. Por “apócrifos”, a propósito, entende-se um grupo de textos de caráter religioso que se referem à figura de Jesus Cristo, mas que não foram reconhecidos como canônicos.
“Na verdade – prossegue o padre Fabris – o problema da dificuldade em aceitar um casamento de Jesus não depende de motivos dogmáticos. Se Ele tivesse sido casado e tivesse tido dois filhos, não haveria nada de estranho à fé cristã: casar-se e ter filhos é a história da maior parte dos seres humanos”. E o casamento e a família estão entre os mais excelsos valores defendidos pelos cristãos. Se a Igreja não reconhece tal suposto casamento de Jesus, não é porque tenha algo contra o casamento: é simplesmente porque não existe fundamentação histórica alguma que possa ser levada a sério no sentido de embasar tal hipótese. O alegado “casamento de Jesus” nunca foi documentado, a não ser nesses textos que, segundo o biblista, até podem conservar alguns dados históricos, mas contam algo muito isolado e incompatível com a grande maioria dos relatos históricos mais amplamente aceitos sobre o estado civil do Messias. Além disso, o manuscrito do ano 570 apresenta consideráveis acrobacias fantasiosas ao tratar do relacionamento entre Jesus e Maria Madalena.

A verdadeira Madalena

Um dos muitos equívocos que persistem no tocante a Maria Madalena é a interpretação de que ela tenha sido prostituta. “É um mito ocidental”, corrige o padre Fabris. Quem decifra a história de maneira fiel são os textos gregos. “Ela era uma pessoa próspera, que estava doente e foi curada por Jesus. Junto com outras mulheres prósperas, ela ‘financia’ Jesus em dados momentos, para ajudar os pobres, comprar um cordeiro para a Páscoa etc. O oitavo capítulo do Evangelho de Lucas menciona este assunto. Essas mulheres apoiavam os discípulos em suas obras”.





Gelsomino Del Guercio 

Nenhum comentário: