Tende piedade de mim, Senhor, a angústia me oprime. Libertai-me das mãos dos inimigos e livrai-me daqueles que me perseguem. Não serei confundido, Senhor, porque vos chamo (Sl 30,10.16.18).
Contra os que rejeitam suas obras, o Senhor, “forte guerreiro”, nos defende e protege. Sintamo-nos amparados por ele e, à semelhança do salmista, o acolhamos com toda confiança: “Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força e poderosa salvação”.
Leitura do livro do profeta Jeremias – 10Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: “Denunciai-o, denunciemo-lo”. Todos os amigos observavam minhas falhas: “Talvez ele cometa um engano, e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele”. 11Mas o Senhor está ao meu lado como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12Ó Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles, pois eu te declarei a minha causa. 13Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus. – Palavra do Senhor.
Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, / e ele escutou a minha voz.
1. Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, / minha rocha, meu refúgio e salvador! – R.
2. Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, † minha força e poderosa salvação, / sois meu escudo e proteção: em vós espero! / Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! / E dos meus perseguidores serei salvo! – R.
3. Ondas da morte me envolveram totalmente, / e as torrentes da maldade me aterraram; / os laços do abismo me amarraram / e a própria morte me prendeu em suas redes. – R.
4. Ao Senhor eu invoquei na minha angústia / e elevei o meu clamor para o meu Deus; / de seu templo ele escutou a minha voz, / e chegou a seus ouvidos o meu grito. – R.
Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai, que é amor!
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; / só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6,63.68) – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 31os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus. 32E ele lhes disse: “Por ordem do Pai, mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar?” 33Os judeus responderam: “Não queremos te apedrejar por causa das obras boas, mas por causa de blasfêmia, porque, sendo apenas um homem, tu te fazes Deus!” 34Jesus disse: “Acaso não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? 35Ora, ninguém pode anular a Escritura: se a Lei chama deuses as pessoas às quais se dirigiu a Palavra de Deus, 36por que então me acusais de blasfêmia quando eu digo que sou Filho de Deus, eu, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo? 37Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. 38Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais acreditar em mim, acreditai nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai”. 39Outra vez procuravam prender Jesus, mas ele escapou das mãos deles. 40Jesus passou para o outro lado do Jordão e foi para o lugar onde, antes, João tinha batizado. E permaneceu ali. 41Muitos foram ter com ele e diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito deste homem é verdade”. 42E muitos, ali, acreditaram nele. – Palavra da salvação.
Como temos visto desde domingo passado, todas as leituras do Tempo da Paixão insistem na divindade de Jesus Cristo, e a razão por que a Igreja nos procura inculcar, não uma, mas sete vezes o dogma fundamental da nossa fé é para nos preparar para outro grande mistério que havemos de celebrar nos próximos dias: a crucificação e morte de Nosso Senhor. Ensina a Igreja com tanta insistência que Cristo é verdadeiro Deus, não só para não nos escandalizarmos com os discípulos, mas para estarmos de pé junto da cruz com Maria SS., a única que, naquela primeira Sexta-feira Santa, sabia que o homem a quem dera o corpo que então padecia todo gênero de suplícios era também o Deus que a criara e escolhera por Mãe. Lembrar antes da Paixão, como Ele mesmo o quis fazer ao se transfigurar no monte, que Jesus é o Filho unigênito do Pai é abrir os olhos para o que nenhum infiel pode enxergar no Calvário. Na cruz, o que veem os judeus é a pena mínima a quem é réu de blasfêmia; o que veem os gentios é mais um teatro patético da porção mais desprezível do Império; o que veem alguns incrédulos modernos é, no máximo, uma injustiça contra um simpático “rebelde”. O que veem porém os olhos da fé é a restauração do gênero humano, é a abertura do reino celeste, é a satisfação plena, por meio do ato de amor e sacrifício mais sublime nunca que imaginou o coração humano, dos direitos de Deus. Quando chegar a Sexta-feira Santa, temos de levantar os olhos para cruz e ver nela, não uma derrota, mas um triunfo; não tanto um homem destroçado quanto um Deus, a ele unido em unidade de pessoa, vencendo com obediência a rebeldia do pecado, dando morte à morte eterna e pagando com amor a inimizade de todos os homens. Na cruz, por estar pregado nela não um homem qualquer, mas um homem que é Deus e um Deus que se fez homem, o Filho repara em sua própria carne o crime do servos e, transbordando por nós de um amor que não merecemos, nos merece a graça de sermos filhos do Pai, capazes de Lhe oferecer todo o amor que Ele merece. Preparemo-nos desde já para esta Semana Santa renovando nossa fé na verdade em que Jesus Cristo tanto insistiu, como insiste agora a Igreja: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).
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