sexta-feira, 10 de março de 2023

2ª Semana da Quaresma - Todo homem é culpado do Calvário.

 Evangelho de hoje (Mt 21,33-43.45-46) - Egídio Serpa | Egídio Serpa -  Diário do Nordeste

Senhor, a vós recorro, que eu não seja confundido para sempre. Vós me tirais do laço que me armaram, vós sois meu protetor (Sl 30,2.5).

Resgatando a história de José do Egito, a Quaresma a aplica a Jesus Cristo. Vendido como escravo pelos irmãos, será José a salvá-los em tempo de penúria. Disponhamo-nos a produzir muitos frutos para Deus, que pode servir-se até do mal para dele tirar algum bem.

Primeira Leitura: Gênesis 37,3-4.12-13.17-28

Leitura do livro do Gênesis3Israel amava mais a José do que a todos os outros filhos, porque lhe tinha nascido na velhice. E por isso mandou fazer para ele uma túnica de mangas longas. 4Vendo os irmãos que o pai o amava mais do que a todos eles, odiavam-no e já não lhe podiam falar pacificamente. 12Ora, como os irmãos de José tinham ido apascentar o rebanho do pai em Siquém, 13disse Israel a José: “Teus irmãos devem estar com os rebanhos em Siquém. Vem, vou enviar-te a eles”. 17Partiu, pois, José atrás de seus irmãos e encontrou-os em Dotaim. 18Eles, porém, tendo-o visto ao longe, antes que se aproximasse, tramaram a sua morte. 19Disseram entre si: “Aí vem o sonhador! 20Vamos matá-lo e lançá-lo numa cisterna, depois diremos que um animal feroz o devorou. Assim veremos de que lhe servem os sonhos”. 21Rúben, porém, ouvindo isso, disse-lhes: 22“Não lhe tiremos a vida!” E acrescentou: “Não derrameis sangue, mas lançai-o naquela cisterna do deserto e não o toqueis com as vossas mãos”. Dizia isso porque queria livrá-lo das mãos deles e devolvê-lo ao pai. 23Assim que José chegou perto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica de mangas longas, pegaram nele 24e lançaram-no numa cisterna que não tinha água. 25Depois, sentaram-se para comer. Levantando os olhos, avistaram uma caravana de ismaelitas que se aproximava, proveniente de Galaad. Os camelos iam carregados de especiarias, bálsamo e resina, que transportavam para o Egito. 26E Judá disse aos irmãos: “Que proveito teríamos em matar nosso irmão e ocultar o seu sangue? 27É melhor vendê-lo a esses ismaelitas e não manchar nossas mãos, pois ele é nosso irmão e nossa carne”. Concordaram os irmãos com o que dizia. 28Ao passarem os comerciantes madianitas, tiraram José da cisterna e, por vinte moedas de prata, o venderam aos ismaelitas; e estes o levaram para o Egito. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 104(105)

Lembrai sempre as maravilhas do Senhor!

1. Mandou vir, então, a fome sobre a terra / e os privou de todo pão que os sustentava; / um homem enviara à sua frente, / José, que foi vendido como escravo. – R.

2. Apertaram os seus pés entre grilhões / e amarraram seu pescoço com correntes, / até que se cumprisse o que previra, / e a palavra do Senhor lhe deu razão. – R.

3. Ordenou, então, o rei que o libertassem, / o soberano das nações mandou soltá-lo; / fez dele o senhor de sua casa / e de todos os seus bens o despenseiro. – R.

Evangelho: Mateus 21,33-43.45-46

Jesus Cristo, sois bendito, / sois o ungido de Deus Pai!

Deus o mundo tanto amou, / que lhe deu seu próprio Filho, / para que todo o que nele crer / encontre vida eterna (Jo 3,16). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, dirigindo-se Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, disse-lhes: 33“Escutai esta outra parábola: certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros e viajou para o estrangeiro. 34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro e ao terceiro apedrejaram. 36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. 37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. 40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” 41Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. 42Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’? 43Por isso eu vos digo, o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. 45Os sumos sacerdotes e fariseus ouviram as parábolas de Jesus e compreenderam que estava falando deles. 46Procuraram prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois elas consideravam Jesus um profeta. – Palavra da salvação.

Reflexão
Conta-nos Cristo no Evangelho de hoje a parábola dos vinhateiros homicidas, na qual vemos figurado o homicídio de que Ele mesmo se fará vítima na Sexta-feira Santa. De fato, assim como o filho do dono da vinha fora enviado para recolher dos empregados os frutos da colheita, assim também o Filho de Deus foi enviado ao mundo para colher os frutos de amor que todos lhe devemos; e assim como o filho da parábola foi morto pelos que lhe deviam reverência, do mesmo modo o Filho de verdade foi morto pelos que lhe deviam o ser e a vida. A diferença, porém, entre um e outro homicídio está em que o filho do proprietário foi morto de surpresa, sendo culpados apenas os que lhe meteram as mãos, enquanto que o Filho de Deus se deixou matar livremente, sendo culpados não apenas os que O crucificaram, mas a humanidade toda e de todos os tempos. Estas duas verdades as expressa a Igreja com uma única preposição no Símbolo niceno-constantinopolitano: “Qui propter nos homines”. Morreu Cristo propter nos, porque morreu por nossas mãos, e morreu propter nos, porque morreu por nossa causa. Morreu o Filho de Deus por nossa causa, já que entre os vários motivos de sua Paixão dois principalmente O motivaram: por um lado, libertar-nos do pecado e de tudo o que dele se segue e, por outro outro, reconciliar-nos com Deus para termos parte com Ele no Reino dos céus. E morreu por nossas mãos, porque se fez vítima pelos pecados de todos os homens, não só pelos de seu tempo, mas pelos de todos os que o precederam e sucederiam até o fim do mundo. Como seja possível que, com um único ato no tempo, haja Cristo padecido e satisfeito pelos pecados da humanidade inteira, não só coletiva, mas também individualmente, não só do passado, mas inclusive do futuro, é algo que a nossa razão não alcança compreender de todo. Basta-nos, contudo, a fé no valor universal da sua Redenção para nos darmos conta de que, de um modo misterioso, estivemos todos unidos, como se tivéramos uma só voz, aos gritos que o condenaram à morte e, como se tivéramos uma mesma mão, aos golpes que o pregaram à cruz. É por isso que a Igreja tanto recomenda a devoção ao S. Coração: pela prática da reparação, damos agora a Nosso Senhor o pouco de consolação que Ele há de ter sentido em sua agonia e em seus padecimentos, e cooperamos ao nosso modo para compensar os infinitos pecados que, sem lhe violentarem a liberdade, O forçaram a entregar-se por amor aos homens. Seja esta, pois, a prática para a próxima semana da Quaresma: reconhecer a culpa que tivemos na morte de Cristo e reparar, com algum sacrifício mais, as dores que lhe causamos.
 
 
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