quinta-feira, 9 de março de 2023

2ª Semana da Quaresma - Aonde pode levar a incredulidade?

 Evangelho de hoje (Lc 16,19-31) - Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário do  Nordeste

Provai-me, ó Deus, e conhecei meus pensamentos: vede se ando pela vereda do mal e conduzi-me no caminho da eternidade (Sl 138,23s).

A confiança e a esperança em Deus são fonte de vida para o ser humano, como a água para a árvore. Só o Senhor conhece o íntimo dos corações e dá “a cada qual conforme o seu proceder”. Celebremos o Cristo, cuja ressurreição é, para nós, um chamado à conversão e à solidariedade com o pobre.

Primeira Leitura: Jeremias 17,5-10

Leitura do livro do profeta Jeremias – 5Isto diz o Senhor: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; 6como os cardos no deserto, ele não vê chegar a floração, prefere vegetar na secura do ermo, em região salobra e desabitada. 7Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; 8é como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca de umidade, por isso não teme a chegada do calor: sua folhagem mantém-se verde, não sofre míngua em tempo de seca e nunca deixa de dar frutos. 9Em tudo é enganador o coração, e isso é incurável; quem poderá conhecê-lo? 10Eu sou o Senhor, que perscruto o coração e provo os sentimentos, que dou a cada qual conforme o seu proceder e conforme o fruto de suas obras”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 1

É feliz quem a Deus se confia!

1. Feliz é todo aquele que não anda / conforme os conselhos dos perversos; / que não entra no caminho dos malvados / nem junto aos zombadores vai sentar-se; / mas encontra seu prazer na lei de Deus / e a medita, dia e noite, sem cessar. – R.

2. Eis que ele é semelhante a uma árvore / que à beira da torrente está plantada; / ela sempre dá seus frutos a seu tempo, † e jamais as suas folhas vão murchar. / Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. – R.

3. Mas bem outra é a sorte dos perversos. † Ao contrário, são iguais à palha seca / espalhada e dispersada pelo vento. / Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, / mas a estrada dos malvados leva à morte. – R.

Evangelho: Lucas 16,19-31

Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai, que é amor!

Felizes os que observam / a Palavra do Senhor de reto coração / e que produzem muitos frutos, / até o fim perseverantes! (Lc 8,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’ 30O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos'”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho de hoje, conta-nos Jesus a parábola do pobre Lázaro e do rico epulão, dois extremos em vida que tiveram fins extremos na morte: o primeiro, pobre e coberto de feridas, teve a dita de entrar pela mão dos anjos no Reino celeste, enquanto o segundo, rico e trajado de luxo, teve de compensar as farturas desta existência com a perdição na outra. No entanto, entenderíamos mal essa história se quiséssemos ver em dois destinos tão opostos doutrinas sobre política ou injustiças de classe. Não está Nosso Senhor a dizer que os ricos, por serem ricos, necessariamente se condenam, por serem necessariamente maus, nem que os pobres, pelo fato de o serem, irão sem falta para o céu, para lá gozarem do que aqui careceram. O Evangelho não é cartilha de partido e, apesar de conter muitos e valiosos critérios para organizar a vida em sociedade, não se ordena primariamente a esta vida na terra, mas à outra no céu. Ora, se não é a condição social nem a posse de riquezas o que tem em mira Nosso Senhor ao contar essa parábola, por que é que se condena o rico e se salva o pobre? Ouçamos o que responde Abraão à prece do rico: “Se” os de tua casa “não escutam a Moisés nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”, e por isso é quase certo que, se assim permanecerem, virão fazer-te companhia no lugar de tormentos. Pois não foi tanto a riqueza quanto a incredulidade o que condenou o rico, e se o Evangelho nos diz linhas antes: “Lembra-te de que recebeste teus bens durante”, não é para condenar as riquezas, mas para lembrar que elas se usam mal e conduzem para o inferno quando não se tem verdadeira fé, ou seja, quando se põe o coração nos bens que passam e se esquece dos que não hão-de passar. O problema, portanto, não é ter posses; o problema é ter o coração tão pobre e tão duro que nem a vista dum morto ressuscitado o faça crer em Deus. Eis a advertência que o Evangelho de hoje faz pesar sobre as nossas consciências. Não deixemos que o amor às riquezas terrenas sufoque nossa esperança das celestes, nem que a nossa pouca fé se extinga a ponto de só crermos no que satisfaz à carne. E se Cristo nos quis pobres de bens, que nos faça ricos de coração e virtude; mas, se lhe aprouve cumular-nos de riquezas da terra, que nos dê também a graça de aspirarmos sobretudo às celestes.


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