Eu vos chamo, meu Deus, porque me atendeis; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me (Sl 16,6.8).
Repletos de confiança no Senhor, que acolhe e “reconduz ao bom caminho os pecadores”, seja nossa esta profunda súplica em favor do seu povo: “Trata-nos segundo tua clemência e segundo tua imensa misericórdia”. Rezemos pelas necessidades de nossa nação.
Leitura da profecia de Daniel – Naqueles dias, 25Azarias parou e, de pé, começou a rezar; abrindo a boca no meio do fogo, disse: 34“Oh! não nos desampares nunca, nós te pedimos; por teu nome, não desfaças tua aliança 35nem retires de nós tua benevolência, por Abraão, teu amigo, por Isaac, teu servo, e por Israel, teu santo, 36aos quais prometeste multiplicar a descendência como estrelas do céu e como areia que está na beira do mar. 37Senhor, estamos hoje reduzidos ao menor de todos os povos, somos hoje o mais humilde em toda a terra, por causa de nossos pecados; 38neste tempo estamos sem chefes, sem profetas, sem guia, não há holocausto nem sacrifício, não há oblação nem incenso, não há um lugar para oferecermos, em tua presença, as primícias e encontrarmos benevolência; 39mas, de alma contrita e em espírito de humildade, sejamos acolhidos, e como nos holocaustos de carneiros e touros, 40e como nos sacrifícios de milhares de cordeiros gordos, assim se efetue hoje nosso sacrifício em tua presença, e tu faças que nós te sigamos até o fim; não se sentirá frustrado quem põe em ti sua confiança. 41De agora em diante, queremos, de todo o coração, seguir-te, temer-te, buscar tua face; 42não nos deixes confundidos, mas trata-nos segundo a tua clemência e segundo a tua imensa misericórdia; 43liberta-nos com o poder de tuas maravilhas e torna teu nome glorificado, Senhor”. – Palavra do Senhor.
Recordai, Senhor, a vossa compaixão!
1. Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos / e fazei-me conhecer a vossa estrada! / Vossa verdade me oriente e me conduza, / porque sois o Deus da minha salvação. – R.
2. Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura / e a vossa compaixão, que são eternas! / De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia / e sois bondade sem limites, ó Senhor! – R.
3. O Senhor é piedade e retidão / e reconduz ao bom caminho os pecadores. / Ele dirige os humildes na justiça / e aos pobres ele ensina o seu caminho. – R.
Jesus Cristo, sois bendito, / sois o ungido de Deus Pai!
Voltai ao Senhor, vosso Deus; / ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 21Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” 22Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. 24Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. 25Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. 26O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo! E eu te pagarei tudo’. 27Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. 29O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um prazo! E eu te pagarei’. 30Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. 31Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. 32Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: ‘Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. 33Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ 34O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. 35É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”. – Palavra da salvação.
Quaresma é tempo de perdão, e o Evangelho de hoje se inicia com uma pergunta de São Pedro sobre o quanto nós temos de perdoar. Pois bem, Jesus responde que o perdão é ilimitado. Por quê? Aí Ele conta uma parábola para recordar o perdão ilimitado que nós recebemos de Deus. A parábola contada por Jesus fala de um servo que contraiu uma dívida impagável. É uma quantia absurda. A gente fica até imaginando como esse sujeito conseguiu contrair uma dívida tão grande. Ou seja: seria humanamente impossível esse servo pagar tal dívida.
O patrão dá ordem para que ele seja levado à prisão. Ele clama por misericórdia e recebe a misericórdia; mas, ato contínuo, esquecido da misericórdia que recebeu, ele começa a cobrar ninharias dos outros. Aqui está o quadro psicológico e espiritual da pessoa que não quer perdoar. Se você tem dificuldade de perdoar aos outros, é porque você está esquecido da imensa misericórdia que recebeu. De forma geral, as pessoas que têm dificuldade de perdoar são racionais, ficam fazendo cálculos: “Dois mais dois é igual a quatro. Se você me deve quatro, não venha agora me dizer que vai pagar somente três! Eu sou verdadeiro, eu gosto da verdade. Isso que está aqui está errado: você está me devendo!”
Com esse tipo de raciocínio, com esse tipo de pensamento, a pessoa fica prisioneira daquela dívida: “Você me deve, e eu, obcecado, não consigo sair desse círculo vicioso”. Jesus quebra esse círculo vicioso arrancando as vendas dos olhos e dizendo: “Você foi perdoado infinitamente. A dívida que você tinha para com Deus era impagável, e você foi objeto da mais extraordinária, infinita e grandiosa misericórdia de Deus”. Se você recebeu tanto perdão, saia desse círculo vicioso do cálculo das ninharias porque isso que você sofreu, essa injustiça que você sofreu da pessoa que o ofendeu é verdadeira, mas é um nada diante das ofensas que você cometeu contra Deus, das quais você foi plena e absolutamente perdoado.
O Evangelho de hoje nos ensina então a viver o Pai-nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, ou seja, não recebe verdadeiramente o perdão de todo coração, com toda a alma, aquele que se esquece desse perdão. Se você foi perdoado, o seu coração deve se recordar desse perdão, e o seu coração deve ser tomado de gratidão e, por gratidão, ao ver as ofensas e injustiças que são feitas contra você, poder dizer: “Puxa, que oportunidade extraordinária de amar Jesus! Ele me perdoou tanto que agora eu posso perdoar por amor a Ele”, não por amor ao ofensor, não necessariamente por aquela pessoa, mas por amor ao Cristo. Chegar e dizer: “Jesus, esse sujeito não merece o meu perdão, mas você merece, Jesus e, por amor a você, por amor a você, Jesus, eu vou perdoar”.
Vamos lá, vamos fazer aquilo que Deus espera de nós. Deus espera de nós um coração agradecido, um coração que se recorde. Aqui, o problema do mau servo, o servo mesquinho e mal agradecido, é um problema de memória: nós nos esquecemos do amor e do perdão recebidos de Deus; mas, se nos recordarmos, brotará a gratidão e será fácil perdoar porque fomos perdoados.
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