Foi pelo Seu preciosíssimo Sangue derramado na cruz redentora
que cada um de nós, batizados, foi salvo da morte eterna e da corrupção
do pecado. Que mistério insondável! Mas não há como fugirmos dele para
conseguirmos a graça da salvação. Infelizmente pouco se fala sobre este
“mistério da fé” em nossas igrejas e reuniões; e, no entanto, sem ele
toda a nossa fé se esvazia.
O mistério do Sangue do Senhor, derramado
por você e por mim, é o mistério insondável do infinito amor de Deus
por nós. O próprio Senhor no-lo revelou quando disse a Nicodemos: “Com
efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo
3,16). Ninguém será autenticamente cristão enquanto não perceber esse
amor de Deus e não responder a ele com grande fidelidade. Dizia São João
da Cruz que “amor só com amor se paga”.
A oblação do Sangue vertido na cruz por Jesus, vítima de expiação por
nossos pecados, é a prova da vida do Senhor oferecida por nós.
São Paulo disse: “Cristo adquiriu-nos com Seu Sangue uma redenção
eterna” (citação livre de Hb 9,11-12); destruiu pela sua morte “aquele
que tinha o império da morte, isto é, o demônio” (Hb 2,14b);
“entregou-se por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificou para
Si um povo” (citação livre de Tt 2,14). O apóstolo não se cansou de
repetir esta verdade essencial e central de sua pregação: “Ele nos
arrancou do poder das trevas e nos introduziu no reino de seu Filho
muito amado” (Cl 1,13); “[Ele] me amou e se entregou por mim” (Gl
2,20c).
Enquanto não sentirmos profundamente esta verdade – “Ele me amou e se
entregou por mim” -, nossa vida cristã não poderá chegar à perfeição
querida por Deus. É a contemplação desse amor por mim e desse sangue
derramado por mim que produz em nós toda a propulsão da vida espiritual.
Nenhum santo chegou à santidade sem a profunda contemplação e adoração
da cruz e do Crucificado. Todos, sem exceção, encontraram aí toda a
razão e a força da sua caminhada.
É o Sangue de Cristo que salva!
“Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36b).
Ele próprio deixava claro que o mundo não seria salvo por Seus
milagres, mas por Sua morte. É um mistério que devemos aceitar com
grande amor e reverência. Dizia aos discípulos: “É necessário que o
Filho do Homem padeça muito, seja rejeitado pelos anciãos, pelos sumos
sacerdotes e pelos escribas e seja morto, mas ressuscitará depois de
três dias” (citação livre de Mc 8,31). E, quando Pedro O repreendeu, Ele
lhe disse: “Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são
os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8,33b).
Cristo nasceu para morrer! Sabia disso, e nada podia impedi-lO de
derramar Seu Sangue por nós. Na ceia, Ele declarou: “Isto é meu sangue, o
sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos
pecados” (Mt 26,28).
É esse Sangue que salva e purifica cada um de nós. Já que ele foi
derramado por nós, temos de invocá-lo constantemente para nos livrar de
todos os males do corpo e da alma.
O apóstolo São João, segundo o Apocalipse, viu aquela grande
multidão, e lhe foi dito: “Esses são os sobreviventes da grande
tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”
(Ap 7,14b). Só o Sangue bendito desse Cordeiro imaculado pode nos
purificar de todo o mal. Ainda não nos apropriamos devidamente desta
grande graça: o Sangue do Senhor derramado por nós. Ainda não aprendemos
a invocá-lo nas horas de tribulação, de dor, de angústia…
É preciso fazermos como os santos faziam: invocar este Sangue
redentor e deixá-lo lavar a alma e a consciência, para podermos viver
segundo a justiça de Deus.
“Por este Sangue”, disse São Paulo, “Jesus entrou no céu para agora
apresentar-se a nosso favor ante a face de Deus” (citação livre de Hb
9,24); e, cheio de esperança, afirmou: “temos ampla confiança de poder
entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus” (Hb 10,19).
Por isso: “Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim
de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno” (Hb
4,16).
Precisamos olhar constantemente para a cruz do Gólgota e implorar que
o Sangue sacrossanto do Cordeiro nos liberte de todo o mal e nos dê a
Sua vida.
Prof. Felipe Aquino
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