Santo Agostinho dizia que já no seu tempo alguns cristãos não
entendiam bem a relação entre a pobreza e a riqueza, “o Reino dos céus
será do pobres, dos famintos; os ricos são todos maus, como o rico
avarento”. Diante dessas opiniões errôneas, Santo Agostinho explica o
sentido profundo da riqueza e da pobreza, segundo o espírito evangélico.
Então ele escreveu sobre isso no seu Sermão 14. Eis o seu ensinamento:
“Ouve-me senhor pobre, sobre o que dizes. Quando te chamas a ti mesmo
Lázaro, aquele santo varão chagado, temo que por soberba não sejas
aquele que te dizes…Não desprezes os ricos misericordiosos, os ricos
humildes; ou, para o dizer em poucas palavras, não desprezes o que
denominei ricos pobres. Oh pobre!, sê tu pobre também; pobre, ou seja,
humilde (…).
Ouve-me, pois. Sê verdadeiro pobre, sê piedoso, se humilde; se te
glorias de teus andrajos ou da tua pobreza ulcerosa, se te glorias de te
assemelhares ao mendigo estendido junto da casa do rico, não reparas
senão em que foi pobre e não te fixas em nada mais. Em que vou
fixar-me?, dizes. Lê as Escrituras e entenderás o que te digo. Lázaro
foi pobre, mas aquele para cujo seio foi levado era rico. ´Sucedeu –
está escrito – que morreu o pobre e foi levado pelos anjos ao seio de
Abrão´. Para onde? Para o seio de Abraão, ou digamos para o misterioso
lugar onde repousa Abraão. Lê (…) e pondera como Abraão foi
opulentíssimo na terra, onde teve em abundância prata, família, gados,
fazenda; e contudo, este rico foi pobre, pois foi humilde. ´Creu Abraão
em Deus, e foi-lhe contado como justiça´(…). Era fiel, praticava o bem,
recebeu o mandato de imolar seu filho e não demorou a oferecer o que
tinha recebido Àquele de Quem, o tinha recebido. Ficou provado aos olhos
de Deus e posto como exemplo de fé”.
O grande São Leão Magno (†460), papa e doutor da Igreja,
também falou sobre esta questão. No Início do seu Sermão sobre as
Bem-aventuranças (Sermão 95,1-2: PL 54,461-462) ele disse:
“Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos
céus (Mt 5,3). Seria talvez ambíguo a que pobres se referia a Verdade,
se dissesse: Bem-aventurados os pobres, sem acrescentar nada sobre a
espécie de pobres, parecendo bastar a simples indigência, que tantos
padecem por pesada e dura necessidade, para possuir o reino dos céus.
Dizendo porém: Bem-aventurados os pobres em espírito, mostra que o reino
dos céus será dado àqueles que mais se recomendam pela humildade dos
corações do que pela falta de riquezas”.
A Bíblia Sagrada da conceituada Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, traz o seguinte comentário:
“A pobreza não consiste em algo puramente exterior, em ter ou não ter
bens materiais, mas algo mais profundo que afeta o coração, o espírito
do homem, consiste em ser humilde diante de Deus, em ser piedoso, em ter
uma fé submissa. Se se possuem essas virtudes, e além disso abundância
de bens materiais, a atitude do cristão será de desprendimento, de
caridade para com os outros homens, e assim agradar a Deus. Pelo
contrário, o que não possui bens materiais, abundantes, nem por isso
está justificado diante de Deus, se não se esforça por adquirir essas
virtudes que constituem a verdadeira pobreza”.
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