segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Liturgia Diária - O Rico sem juízo.

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1a Leitura - Romanos 4,20-25
Leitura do livro da carta de são Paulo aos Romanos.
4 20 Ante a promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus.
21 Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera.
22 Eis por que sua fé lhe foi contada como justiça.
23 Ora, não é só para ele que está escrito que a fé lhe foi imputada em conta de justiça.
24 É também para nós, pois a nossa fé deve ser-nos imputada igualmente, porque cremos naquele que dos mortos ressuscitou Jesus, nosso Senhor,
25 o qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para a nossa justificação.
Palavra do Senhor.

Salmo - Lc 1
Bendito seja o Senhor Deus de Israel,
porque a seu povo visitou e libertou!

Fez surgir um poderoso salvador
na casa de Davi, seu servidor,
como falara pela boca de seus santos,
os profetas desde os tempos mais antigos.

Para salvar-nos do poder os inimigos
e da mão de todos quantos nos odeiam.
Assim mostrou misericórdia a nossos pais,
recordando a sua santa aliança.

E o juramento a Abraão, o nosso pai,
de conceder-nos que, libertos do inimigo,
a ele nós sirvamos sem temos,
em santidade e em justiça diante dele,
enquanto perdurarem nossos dias.

Evangelho - Lucas 12,13-21
Aleluia, aleluia, aleluia.
Felizes os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

Naquele tempo, 12 13disse-lhe então alguém do meio do povo: "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança". 14Jesus respondeu-lhe: "Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?" 15E disse então ao povo: "Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas". 16 E propôs-lhe esta parábola: "Havia um homem rico cujos campos produziam muito. 17E ele refletia consigo: 'Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita'. 18Disse então ele: 'Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens. 19E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te'. 20Deus, porém, lhe disse: 'Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão?' 21Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus".
Palavra da Salvação.

 Reflexão

O que está por trás do texto? Uma ideia do que está por trás do texto ajuda a entender a posição de Jesus. No tempo de Jesus havia duas propostas de sociedade ou dois modelos econômicos: o do campo e o da cidade. O do campo se fundamentava na partilha, através da solidariedade, da troca de produtos, etc. Isso impedia que os endividados caíssem na desgraça e que tivessem que emigrar para a cidade, tornando-se mendigos ou bandidos. O modelo econômico da cidade, ao contrário, é fundamentado na ganância, no acúmulo, na lei do mais forte. Isso naturalmente é fonte de exclusão e marginalidade. Isso gera mendicância, violência, roubo, etc. Sem dúvida o texto de hoje reflete uma situação do modelo econômico da cidade e não do campo, reflete a ganância e a exploração, não a partilha. Jesus toma posição em favor da partilha, não da cobiça, mas sem se colocar como árbitro entre os que possuem riquezas.
            Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.” Ontem como hoje, a distribuição da herança entre os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e, muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17. cf. 2Rs 2,11).
            Jesus respondeu: “Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?” Na resposta de Jesus transparece a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se sente enviado por Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que brigam entre si por causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem despertou nele a missão de orientar as pessoas, pois “ele falou a todos: Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.” Fazia parte da sua missão esclarecer as pessoas a respeito do sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em ter muitas coisas mas sim em ser rico para Deus (Lc 12,21). Pois, quando a ganância toma conta do coração, não há como repartir a herança com equidade e paz.
            Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o sentido da vida: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita.” O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
            “Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito frequente nos livros sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para ele? (Ecl 2,12.18-19.21)
            “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.” Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último; é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor; preserva vida quem perde a vida.
            A posição de Jesus está clara na sua exortação e na parábola que contou. Jesus é contra qualquer cobiça, pois a cobiça não garante a vida de ninguém. A parábola é um monólogo de um homem rico, ganancioso e egoísta, cujo ideal de vida é apenas comer, beber e desfrutar. Este homem não pensa nos seus empregados, não pensa nos pobres; é profundamente ganancioso e egoísta. Jesus chama-o de insensato, e afirma sua morte naquela mesma noite. Isso significa que acumular bens não garante a vida. 
 
O importante é ser rico para Deus, através da justiça, da partilha e solidariedade para com o próximo, pois “quem se compadece do pobre empresta a Deus” (Pr 19,17; Eclo 29,8-13). Eclo 29,12 diz expressamente: “Dê esmola daquilo que você tem nos celeiros, e ela o livrará de qualquer desgraça.”
            Pai, preserva-me do apego exagerado às riquezas, as quais me tornam insensível às necessidades do meu próximo. Que eu descubra na partilha um caminho de salvação.



Pe Bantu  

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