Os verdadeiros devotos da Santíssima Virgem participam de sua fé pura, firme e inquebrantável.
Em um capítulo do excelente Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem, São Luís de Montfort fala sobre os "maravilhosos efeitos desta
devoção na alma que lhe é fiel"
01.
O santo francês enumera e explica as maravilhas que são operadas
naquelas almas que, totalmente entregues a Nossa Senhora, cultivam esta
devoção, esforçando-se por colocá-la em prática. Estes efeitos são
percebidos, sobretudo, "na alma", já que a verdadeira devoção mariana é
interior: "parte do espírito e do coração"02.
O primeiro efeito do qual fala São Luís é o conhecimento e desprezo de si mesmo. De fato,
quanto mais nos aproximamos de Deus, especialmente por meio da
oração, mais conhecemos o quanto somos fracos, miseráveis e indignos.
Nesta devoção, a luz do Espírito Santo revela ao homem o seu "fundo
mau", a sua "corrupção e incapacidade para todo bem". Escreve São Luís:
"Considerar-te-ás como um caracol, que tudo estraga com a sua baba, ou
como um sapo, que tudo envenena com a sua peçonha, ou como uma serpente
maliciosa, que só procura enganar".
Eis o verdadeiro caminho para chegar à humildade. Esta consiste em nada
mais do que conhecer o que somos: "de barro somos feitos, (...) apenas
somos pó" (Sl 102, 14). É, ao mesmo tempo, uma chave importante na luta
contra o pecado: a desconfiança de nós mesmos. Quem confia demais em si
mesmo, não duvidando das próprias disposições, dificilmente evitará as
ocasiões de pecado e acabará por tornar-se presa fácil do demônio e de
sua carne, tomada pela concupiscência. Ao contrário, quem conhece sua
natureza decaída, sabendo de seu "fundo mau", evitará, resolutamente, o
ócio, pelo qual advêm inúmeros maus pensamentos; a exposição a ambientes
e ocasiões particulares de perigo; e as más companhias, "que corrompem
os bons costumes" (1 Cor 15, 33).
O segundo efeito da verdadeira devoção é a participação da fé de Maria
Santíssima. Quando aqueles que viveram de maneira virtuosa nesta vida
partem à glória do Céu, já não precisam da fé, pois, entrando na plena
posse de Deus, já contemplam face a face Aquele em que creram sem ter
visto (cf. 1 Pd 1, 8). Com Maria, no entanto, aconteceu de modo
diferente, diz São Luís: Deus preservou a sua fé, "a fim de conservá-la
na Igreja militante para os Seus mais fiéis servos e servas".
A fé de Maria é uma joia preciosa entesourada por Deus para a comunhão dos santos.
Aqueles que viverem fielmente esta devoção participarão da fé de Nossa
Senhora: terão uma fé viva e animada de caridade – que fará a alma
empreender todas as coisas pura e simplesmente por amor –, firme e
inquebrantável – que não esmorece diante das dificuldades –, ativa e
penetrante – capaz de perscrutar os mistérios do coração de Deus – ,
corajosa e reluzente – uma fé missionária que, tomada pelas graças de
Deus por mediação de Maria, levará a outros a boa nova da salvação – e,
por fim, uma fé pura, isto é, que não se preocupa "com o que é sensível e
extraordinário".
Esta fé pura da qual fala São Luís é uma fé que escolhe "a melhor
parte" (Lc 10, 42), por assim dizer. Com efeito, muitos escravos da
Virgem permanecem na exterioridade desta devoção.
"Se não experimentam prazer sensível nas suas práticas, julgam
que já não fazem nada, desorientam-se, abandonam tudo, ou fazem as
coisas precipitadamente"03,
escreve o santo. Os verdadeiros devotos de Nossa Senhora, por outro
lado, ainda que não sintam grandes coisas ou presenciem fatos
extraordinários, permanecem em vigilância e oração. Eles têm consciência
de que a vida aqui é um "vale de lágrimas", que Maria Santíssima não
promete aos seus servos nenhuma felicidade plena neste mundo e que é preciso amar menos as consolações de Deus que o próprio Deus das consolações.
Aqueles que recorrem à bem-aventurada Virgem Maria com confiança
granjeiam de nosso Senhor Jesus Cristo este precioso dom que é o de
permanecer em contínua comunhão Consigo, com o desejo ardente de orar e
falar-Lhe ao coração. Com a fé pura de Nossa Senhora, entregam-se à
meditação e às coisas celestes não raras vezes sacrificando a própria
vontade e oferecendo ao Senhor um sacrifício verdadeiramente agradável a
Seus olhos.
Para mostrar a importância da pureza da fé, do não se preocupar
"com o que é sensível e extraordinário", São Josemaría Escrivá responde à pergunta "Se não sinto vontade, não é autêntico?":
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, cap. 7
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 106
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 96
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