A liturgia deste domingo apresenta-nos
o projeto de salvação e de vida plena que Deus tem para oferecer ao mundo e aos
homens: o projeto do “Reino”.
Na primeira leitura, o profeta/poeta
Isaías anuncia uma luz que Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da
Galileia e que porá fim às trevas que submergem todos aqueles que estão
prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do desespero.
O Evangelho descreve a realização da
promessa profética: Jesus é a luz que começa a brilhar na Galileia e propõe aos
homens de toda a terra a Boa Nova da chegada do “Reino”. Ao apelo de Jesus,
respondem os discípulos: eles serão os primeiros destinatários da proposta e as
testemunhas encarregadas de levar o “Reino” a toda a terra.
A segunda leitura apresenta as
vicissitudes de uma comunidade de discípulos, que esqueceram Jesus e a sua
proposta. Paulo, o apóstolo, exorta-os veementemente a redescobrirem os
fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no batismo.
1º
leitura: Is 8,23b-9,3 - AMBIENTE
O livro do profeta Isaías propõe-nos um
conjunto de oráculos ditos “messiânicos”, que alimentam a esperança do Povo
nesse mundo de justiça e de paz que Deus, num futuro sem data marcada, vai
oferecer aos seus. Há quem defenda, no entanto, que esses textos messiânicos
não provêm de Isaías, mas são oráculos posteriores, enxertados no texto
original do profeta pelo editor final da obra isaiana.
O nosso texto pertence, provavelmente,
à fase final da vida do profeta. Estamos no final do séc. VIII a.C.. Os assírios
(que em 721 a.C. conquistaram Samaria, a antiga capital do reino de Israel)
oprimem e humilham as tribos do Povo de Deus instaladas na região norte do país
(Zabulão e Neftali); as trevas da desolação e da morte cobrem toda a região
setentrional da Palestina.
No sul, em Jerusalém, reina Ezequias. O
rei, desdenhando as indicações do profeta (para quem as alianças políticas com
os povos estrangeiros são sintoma de grave infidelidade para com Jahwéh, pois
significam colocar a confiança e a esperança nos homens), envia embaixadas ao
Egito, à Fenícia e à Babilônia, procurando consolidar uma frente contra a maior
e mais ameaçadora potência da época – a Assíria. A resposta de Senaquerib, rei
da Assíria, não se faz esperar: tendo vencido sucessivamente os membros da
coligação, volta-se contra Judá, devasta o país e põe cerco a Jerusalém (701
a.C.). Ezequias tem de submeter-se e fica a pagar um pesado tributo aos
assírios.
Por essa época, desiludido com os reis
e com a política, o profeta teria começado a sonhar com uma intervenção de Deus
para oferecer ao seu Povo um mundo novo, de liberdade e de paz sem fim. Este
texto pode ser dessa época.
MENSAGEM
O nosso texto está construído sobre um
jogo de oposições: “humilhar/cobrir de glória”, “trevas/luz”, “caminhar nas sombras
da morte (desolação, desespero)/alegria e contentamento”. Os conceitos
negativos (“humilhar”, “trevas”, “caminhar nas sombras da morte”) definem a
situação atual; os conceitos positivos (“cobrir de glória”, “luz”, “alegria e
contentamento”) definem a situação futura.
Como se passará da atual situação de
opressão, de frustração, de desespero, à situação futura de alegria, de
contentamento, de esperança?
O profeta fala de “uma luz” que irá
começar a brilhar por cima dos montes da Galileia e que irá iluminar toda a
terra. Essa luz eliminará “as trevas” que mantinham o Povo oprimido e sem
esperança e inaugurará o dia novo da alegria e da paz sem fim. O jugo da
opressão que pesava sobre o Povo será, então, quebrado e a paz deixará de ser
uma miragem para se tornar uma realidade. Para descrever a alegria que, nesse
novo quadro, encherá o coração do Povo, o profeta utiliza duas imagens
extremamente sugestivas: é como quando, no fim das colheitas, toda a gente
dança feliz, celebrando a abundância dos alimentos; é como quando, após a
caçada, os caçadores dividem a presa abundante.
Qual a origem dessa luz libertadora e
recriadora? O sujeito dos verbos do versículo 3 é, indubitavelmente, Deus: será
Deus quem quebrará a vara do opressor, quem levantará o jugo que oprime o Povo
de Deus, quem triturará o bastão de comando que gera escravidão e humilhação. O
mundo novo de alegria e de paz sem fim é um dom de Deus.
O nosso texto fica por aqui; mas, na
sequência, o oráculo de Isaías ainda fala num “menino”, enviado por Deus para
restaurar o trono de David e para reinar no direito e na justiça (cf. Is
9,5-6). É a promessa messiânica em todo o seu esplendor.
ATUALIZAÇÃO
• É Jesus, a luz que ilumina o mundo
com uma aurora de esperança, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de
Isaías. Ele é “Aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da
morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz, da
felicidade. No entanto, a luz de Jesus é, hoje, uma realidade instituída, viva,
atuante na história humana? Porquê?
• Acolher Jesus é aceitar esse projeto
de justiça e de paz que Ele veio propor aos homens. Esforçamo-nos por tornar
realidade o “Reino de Deus”? Como lidamos com as situações de injustiça, de
opressão, de conflito, de violência: com a indiferença de quem sente que não
tem nada a ver com isso enquanto essas realidades não nos atingem diretamente,
ou com a inquietação de quem se sente responsável pela instauração do “Reino de
Deus” entre os homens?
• Em que, ou em quem, coloco eu a minha
esperança e a minha segurança: nos políticos que me prometem tudo e se servem
da minha ingenuidade para fins próprios? No dinheiro que se desvaloriza e que
não serve para comprar a paz do meu coração? Na situação sólida da minha empresa,
que pode desfazer-se diante das próximas convulsões sociais ou durante a
próxima crise energética? Isaías sugere que só podemos confiar em Deus e na sua
decisão de vir ao nosso encontro para nos apresentar uma proposta de vida e de
paz.
2º
leitura: 1 Cor 1,10-13.17 - AMBIENTE
Após ter abandonado a cidade de
Corinto, Paulo continuou em contacto com a comunidade cristã. Mesmo distante,
continuava a acompanhar a vida da comunidade e inteirava-se regularmente das
dificuldades e problemas que os seus queridos filhos de Corinto tinham de
enfrentar.
Quando escreveu a primeira carta aos
Coríntios, Paulo estava em Éfeso. De Corinto haviam chegado, entretanto,
notícias alarmantes. Após a partida de Paulo, tinha aparecido na cidade um
pregador cristão – um tal Apolo, judeu de Antioquia, convertido ao
cristianismo. Era eloquente, versado nas Escrituras e foi de grande utilidade
para a comunidade na polêmica com os judeus. Era mais brilhante do que Paulo –
conhecido pela sua falta de eloquência (cf. 2 Cor 10,10). Formaram-se partidos
na comunidade (embora Apolo não favorecesse essa divisão, segundo parece): uns
admiravam Paulo, outros Cefas (Pedro), outros Apolo (cf. 1 Cor 1,12).
Formaram-se “partidos”, à imagem do que acontecia nas escolas filosóficas da
cidade, que tinham os seus mestres, à volta dos quais circulavam os adeptos ou
simpatizantes: o cristianismo tornava-se, dessa forma, mais uma escola de
sabedoria, na qual era possível optar por mestres distintos.
A situação preocupou enormemente Paulo:
além dos conflitos e rivalidades que a divisão provocava, estava em causa a
essência da fé. O cristianismo corria, dessa forma, o perigo de se tornar mais
uma escola de sabedoria, cuja validade dependia do brilho dos mestres que
apresentavam a ideologia e do seu poder de convicção.
MENSAGEM
Para Paulo, contudo, o cristianismo não
era a escolha de uma determinada filosofia de vida, defendida mais ou menos
brilhantemente por um mestre qualquer; mas era a adesão a Jesus Cristo, o único
e verdadeiro mestre.
Paulo não mede as palavras: a Cristo e
unicamente a Cristo os cristãos, todos, foram consagrados pelo batismo. É
Cristo e só Cristo a única fonte de salvação. Ser batizado é entrar a fazer
parte do corpo de Cristo e participar no acontecimento salvador do qual Cristo
é o único mediador. Dizer que se é de Paulo, ou de Cefas, ou de Pedro é,
portanto, desvirtuar gravemente a essência da fé cristã. Foi Paulo quem foi
crucificado em benefício dos coríntios? O batismo significou uma adesão à
doutrina de Paulo, ou de outro qualquer mestre?
Deve ficar bem claro que o importante não é quem batizou ou quem anunciou o Evangelho: o importante é Cristo, do qual Paulo, Cefas e Apolo são simples e humanos instrumentos. Os coríntios são, portanto, intimados a não fixar a sua atenção em mestres humanos e a redescobrir Cristo, morto na cruz para dar vida a todos, como a essência da sua fé e do seu compromisso. Dessa forma, a comunidade será uma verdadeira família de irmãos, que recebe vida de Cristo, que vive em unidade e comunhão.
Deve ficar bem claro que o importante não é quem batizou ou quem anunciou o Evangelho: o importante é Cristo, do qual Paulo, Cefas e Apolo são simples e humanos instrumentos. Os coríntios são, portanto, intimados a não fixar a sua atenção em mestres humanos e a redescobrir Cristo, morto na cruz para dar vida a todos, como a essência da sua fé e do seu compromisso. Dessa forma, a comunidade será uma verdadeira família de irmãos, que recebe vida de Cristo, que vive em unidade e comunhão.
ATUALIZAÇÃO
• O texto recorda que a experiência
cristã é, fundamentalmente, um encontro com Cristo; é d’Ele e só d’Ele que
brota a salvação. A vivência da nossa fé não pode, portanto, depender do
carisma da pessoa tal, ou estar ligada à personalidade brilhante deste ou
daquele indivíduo que preside à comunidade. Para além da forma mais ou menos
brilhante, mais ou menos coerente como tal pessoa anuncia ou testemunha o
Evangelho, tem de estar a nossa aposta em Cristo; é n’Ele e só n’Ele que
bebemos a salvação; é a Ele e só a Ele que o nosso compromisso batismal nos
liga. Cristo é, de facto, a minha referência fundamental? É à volta d’Ele e da
sua proposta de vida que a minha experiência de fé se constrói? Em concreto:
que sentido é que faz, neste contexto, dizer que só se vai à missa se for tal
padre a presidir? Que sentido é que faz afastar-se da comunidade porque não
gostamos da atitude ou do jeito de ser deste ou daquele animador?
• Neste contexto, ainda, que sentido
fazem os ciúmes, os conflitos, os partidos, que existem, com frequência, nas
nossas comunidades cristãs? Cristo pode estar dividido? Os conflitos e as
divisões não serão um sinal claro de que, algures durante a caminhada, os
membros da comunidade perderam Cristo? As guerras e rivalidades dentro de uma
comunidade não serão um sinal evidente de que o que nos move não é Cristo, mas
os nossos interesses, o nosso orgulho, o nosso egoísmo?
• Há casos em que as pessoas com
responsabilidade de animação nas comunidades cristãs favorecem, consciente ou
inconscientemente, o culto da personalidade. Não se preocupam em levar as
pessoas a descobrir Cristo, mas em conduzir o olhar e o coração dos fiéis para
a sua própria e brilhante personalidade. Tornam-se imprescindíveis e
inamovíveis, são incensadas e endeusadas e potenciam grupos de pressão que as
admiram, que as apóiam e que as seguem de olhos fechados. Que sentido é que
isto faz, à luz daquilo que Paulo nos diz, neste texto?
Evangelho:
Mt. 4,12-23 - AMBIENTE
O texto que nos é proposto como
Evangelho funciona um pouco como texto-charneira, que encerra a etapa da
preparação de Jesus para a missão (cf. Mt. 3,1-4,16) e que lança a etapa do
anúncio do Reino.
O texto situa-nos na Galileia, a região
setentrional da Palestina, zona de população mesclada e ponto de encontro de muitos
povos. Refere, ainda, a cidade de Cafarnaum: situada no limite do território de
Zabulão e de Neftali, na margem noroeste do lago de Genezaré, no enfiamento do
“caminho do mar” (que ligava o Egito e a Mesopotâmia), era considerada a
capital judaica da Galileia (Tiberíades, a capital política da região, por
causa dos seus costumes gentílicos e por estar construída sobre um cemitério,
era evitada pelos judeus). A sua situação geográfica abria-lhe, também, as
portas dos territórios dos povos pagãos da margem oriental do lago.
MENSAGEM
Na primeira parte (cf. Mt 4,12-16),
Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e
se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato um significado
profundo, à luz de Is 8,23-9,1: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as
sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na terra
humilhada de Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da libertação; e
essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino
(para Mateus, é bem significativo que o primeiro anúncio ecoe na Galileia,
terra onde os gentios se misturam com os judeus e, concretamente, em Cafarnaum,
a cidade que, pela sua situação geográfica, é uma ponte para as terras dos
pagãos). O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão
universal.
Na segunda parte (cf. Mt 4,17-23),
Mateus apresenta o lançamento da missão de Jesus: define-se o conteúdo básico
da pregação que se inicia, mostra-se o “Reino” como realidade viva actuante,
apresentam-se os primeiros discípulos que acolhem o apelo do “Reino” e que vão
acompanhar Jesus na missão.
Qual é, em primeiro lugar, o conteúdo
do anúncio? O versículo 17 di-lo de forma clara: Jesus veio trazer “o Reino”. A
expressão “Reino de Deus” (ou “Reino dos céus”, como prefere dizer Mateus)
refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder
soberano de Deus sobre os homens e sobre o mundo. Decepcionado com a forma como
os reis humanos exerceram a realeza (no discurso profético aparecem, a par e
passo, denúncias de injustiças cometidas pelos reis contra os pobres, de
atropelos ao direito orquestrados pela classe dirigente, de responsabilidades
dos líderes no abandono da aliança, de graves omissões no que diz respeito aos
compromissos assumidos para com Jahwéh), o Povo de Deus começa a sonhar com um
tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar sobre o seu Povo; esse reinado
será marcado – na perspectiva dos teólogos de Israel – pela justiça, pela
misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados,
pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.
Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte slogan: “arrependei-os ('metanoeite') porque o Reino dos céus está a chegar”.
Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte slogan: “arrependei-os ('metanoeite') porque o Reino dos céus está a chegar”.
O convite à conversão (“metanoia”) é um
convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital.
Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar
a vida, de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da
existência do homem; só quando o homem aceita que Deus ocupe o lugar que lhe
compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode
nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.
Na sequência, Mateus apresenta Jesus a
construir ativamente o “Reino” (vs. 23-24): as suas palavras anunciam essa nova
realidade e os seus gestos (os milagres, as curas, as vitórias sobre tudo o que
rouba a vida e a felicidade do homem) são sinais evidentes de que Deus começou
já a reinar e a transformar a escravidão em vida e liberdade.
Finalmente, Mateus descreve o
chamamento dos primeiros discípulos (vs. 18-22). Não se trata, segundo parece
(a comparação deste relato, que Mateus toma de Marcos, com os relatos paralelos
de Lucas e João, mostra que estamos diante de um relato estilizado, cujo
objetivo é pôr em relevo os passos fundamentais da vocação) de um relato
jornalístico de acontecimentos, mas de uma catequese sobre o chamamento e a
adesão ao projeto do “Reino”. Através da resposta pronta de Pedro e André,
Tiago e João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão
às suas exigências.
O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes propõe uma missão.
O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes propõe uma missão.
A resposta dos quatro discípulos ao
chamamento é paradigmática: renunciam à família, ao seu trabalho, às seguranças
instituídas e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura (que significa não só
uma ruptura afetiva com pessoas, mas também a ruptura com um quadro de
referências sociais e de segurança econômica) indicia uma opção radical pelo
“Reino” e pelas suas exigências.
Uma palavra para a missão que é
proposta aos discípulos que aceitam o desafio do “Reino”: eles serão pescadores
de homens. O mar é, na cultura judaica, o lugar dos demônios, das forças da
morte que se opõem à vida e à felicidade dos homens; a tarefa dos discípulos
que aceitam integrar o “Reino” será, portanto, libertar os homens dessa
realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados, conduzindo-os
à liberdade e à realização plenas.
Estes quatro discípulos representam
todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Eles devem responder
positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e pelas suas exigências e
tornarem-se testemunhas da vida e da salvação de Deus no meio dos homens e do
mundo.
ATUALIZAÇÃO
• Jesus é o Deus que vem ao nosso
encontro para realizar os nossos sonhos de felicidade sem limites e de paz sem
fim. N’Ele e através d’Ele (das suas palavras, dos seus gestos), o “Reino”
aproximou-se dos homens e deixou de ser uma quimera, para se tornar numa
realidade em construção no mundo. Contemplar o anúncio de Jesus é abismar-se na
contemplação de uma incrível história de amor, protagonizada por um Deus que
não cessa de nos oferecer oportunidades de realização e de vida plena.
Sobretudo, o anúncio de Jesus toca e enche de júbilo o coração dos pobres e
humilhados, daqueles cuja voz não chega ao trono dos poderosos, nem encontram
lugar à mesa farta do consumismo, nem protagonizam as histórias balofas das
colunas sociais. Para eles, ouvir dizer que “o Reino chegou” significa que Deus
quer oferecer-lhes essa vida plena e feliz que os grandes e poderosos insistem
em negar-lhes.
• Para que o “Reino” seja possível,
Jesus pede a “conversão”. Ela é, antes de mais, um refazer a existência, de
forma a que só Deus ocupe o primeiro lugar na vida do homem. Implica, portanto,
despir-se do egoísmo que impede de estar atento às necessidades dos irmãos;
implica a renúncia ao comodismo, que impede o compromisso com os valores do
Evangelho; implica o sair do isolamento e da auto-suficiência, para estabelecer
relação e para fazer da vida um dom e um serviço aos outros… O que é que nas
estruturas da sociedade ainda impede a efetivação do “Reino”? O que é que na
minha vida, nas minhas opções, nos meus comportamentos constitui um obstáculo à
chegada do “Reino”?
• A história do compromisso de Pedro e
André, Tiago e João com Jesus e com o “Reino” é uma história que define os
traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo… Em primeiro lugar, é
preciso ter consciência de que é Jesus que chama e que propõe o Reino; em
segundo lugar, é preciso ter a coragem de aceitar o chamamento e fazer do
“Reino” a prioridade essencial (o que pode implicar, até, deixar para segundo
plano os afetos, as seguranças, os valores humanos); em terceiro lugar, é
preciso acolher a missão que Jesus confia e comprometer-se corajosamente na
construção do “Reino” no mundo. É este o caminho que eu tenho vindo a
percorrer?
• A missão dos que escutaram o apelo do
“Reino” passa por testemunhar a salvação que Deus tem para oferecer a todos os
homens, sem exceção. Nós, discípulos de Jesus, comprometidos com a construção
do “Reino”, somos testemunhas da libertação e levamos a Boa Nova da salvação
aos homens de toda a terra? Aqueles que vivem condenados à marginalização (por
causa do fraco poder econômico, por causa da doença, por causa da solidão, por
causa do seu inexistente poder de reivindicação), já receberam, através do
nosso testemunho, a Boa Nova do “Reino”?
• Em certos momentos da história,
procura vender-se a ideia de que o mundo novo da justiça e da paz se constrói a
golpes de poder militar, de mísseis, de armas sofisticadas, de instrumentos de
morte… Atenção: a lógica do “Reino” não é uma lógica de violência, de vingança,
de destruição; mas é uma lógica de amor, de doação da vida, de comunhão
fraterna, de tolerância, de respeito pelos outros. A tentação da violência é
uma tentação diabólica, que só gera sofrimento e escravidão: aí, o “Reino” não
está.
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