O que um católico deve saber quando lê uma notícia sobre o Papa na mídia.
Nesta era da comunicação global, a Igreja, tranquila mestra de comunicação durante dois milênios, adverte que a figura do Papa nunca havia sido tão observada quanto agora.
Se os últimos papas, conscientes da importância das comunicações, entraram na aldeia global sem intermediários, como faz o Papa Francisco, ao deixar-se entrevistar por vários veículos de comunicação, e o jornalista interpreta e elabora a seu critério o material obtido, a desorientação pode ser grande. Isso foi o que aconteceu no caso da entrevista concedida a Eugenio Scalfari e ao jornal italiano de esquerda “La Repubblica”.
Diante desta situação, por outro lado inevitável, se a Igreja quer estar nos meios de comunicação, os cristãos precisam formar mais ainda seu senso crítico, para discernir sobre a informação que recebem, inclusive sobre o Papa. Não podemos nos esquecer de que existe uma obrigação moral, mais ainda no caso dos cristãos, de informar-se bem, na medida do possível, antes de formar sua opinião.
Sobre este tema, a Aleteia conversou com o Pe. Ramiro Pellitero, conhecido professor de teologia na Universidade de Navarra (Espanha), especialista em eclesiologia e teologia pastoral, e membro da CatholicTheologicalSocietyofAmerica.
Tudo o que um papa diz é infalível?
É claro que não. Primeiramente, infalível, em termos absolutos, só Deus é. A Igreja participa da infalibilidade divina em algumas condições, que são, segundo a tradição da própria Igreja: as declarações de um concílio ecumênico presidido pelo Papa; a definição “ex cathedra” de um papa, quando proclama um novo dogma; os ensinamentos dos bispos em comunhão com o Papa; o que pertence à fé do povo de Deus (chamado de “senso fidei”), em comunhão com os seus pastores.
Passamos de uma tradição milenar de comunicação eclesial pausada e medida a uma superexposição midiática dos papas, o que os torna cada vez mais próximos, mais “humanos” e menos “sacralizados” que em épocas passadas. No entanto, isso não significa que o Papa seja menos infalível em seus pronunciamentos. Como podemos entender esta nova situação?
Fora das condições de infalibilidade anteriormente comentadas, o Papa continua sendo o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, e todos os seus ensinamentos devem ser escutados pelos católicos com muito respeito e consideração.
As afirmações papais contidas em documentos como encíclicas, exortações etc., terão mais ou menos valor doutrinal segundo sua relação com as verdades da fé cristã.
Um valor ainda mais diferente têm suas afirmações em livros ou entrevistas, segundo sua relação com doutrinas já proclamadas pela Igreja como tais. Mas, nestes casos, como já aconteceu com João Paulo II e Bento XVI, o Papa se submete à crítica (sobretudo a uma crítica saudável e construtiva) dos especialistas nas diversas matérias, e inclusive a qualquer pessoa.
Talvez um dos problemas seja a compreensão do que é a opinião pública dentro da Igreja, especialmente entre os próprios cristãos. Pode ou deve haver uma opinião pública? Quais seriam seus limites?
Especialmente desde a época do Concílio Vaticano II, vem se falando da necessidade de uma “opinião pública” dentro da Igreja. Se entendermos bem este conceito, trata-se de algo saudável e conveniente, mas que tem seus limites.
E os limites estão na revelação cristã. Se algo pertence claramente à revelação e foi declarado como tal pela Igreja, cabe continuar aprofundando e desenvolvendo seus conteúdos, mas sempre na mesma linha.
Na nova exortação apostólica, o Papa fala de renovar as estruturas, de conversão pastoral, inclusive do próprio papado, e de não ter medo de revisar os costumes que foram úteis em outras épocas, mas que hoje podem já não ser mais adequados para a evangelização. Devemos entender que isso inclui a comunicação?
Uma exortação apostólica como a “Evangeliigaudium”, especialmente se chega depois de um sínodo universal, tem um grande valor, igual ou maior que uma encíclica, no conjunto dos ensinamentos de um papa – sem querer, com isso, dizer que tem o mesmo valor que os dogmas já declarados pela Igreja.
Além disso, esta exortação tem um grande sentido programático. As expressões mencionadas por você são propostas que o Papa apresenta com toda a sua força de pastor e mestre, ainda que, insisto, tenham valores diferentes inclusive dentro do próprio documento, segundo se refiram a temas que pertencem aos núcleos da fé ou da vida cristã.
Com relação ao caso concreto da comunicação, pelo que o Papa faz, primeiro, e depois pelo que ele diz, podemos entender que também propõe certa mudança de estilo.
Em suma, trata-se de um falar combinado com uma escuta (e o Papa escuta muito), para dar testemunho da tradição cristã, e esta tradição tem muitos caminhos. Dessa maneira, também aprendemos o valor do testemunho, da vida e da palavra que precisamos dar da nossa fé, como cristãos, tudo isso unido a uma preocupação efetiva pelos outros, sobretudo pelos mais pobres e necessitados.
Se os últimos papas, conscientes da importância das comunicações, entraram na aldeia global sem intermediários, como faz o Papa Francisco, ao deixar-se entrevistar por vários veículos de comunicação, e o jornalista interpreta e elabora a seu critério o material obtido, a desorientação pode ser grande. Isso foi o que aconteceu no caso da entrevista concedida a Eugenio Scalfari e ao jornal italiano de esquerda “La Repubblica”.
Diante desta situação, por outro lado inevitável, se a Igreja quer estar nos meios de comunicação, os cristãos precisam formar mais ainda seu senso crítico, para discernir sobre a informação que recebem, inclusive sobre o Papa. Não podemos nos esquecer de que existe uma obrigação moral, mais ainda no caso dos cristãos, de informar-se bem, na medida do possível, antes de formar sua opinião.
Sobre este tema, a Aleteia conversou com o Pe. Ramiro Pellitero, conhecido professor de teologia na Universidade de Navarra (Espanha), especialista em eclesiologia e teologia pastoral, e membro da CatholicTheologicalSocietyofAmerica.
Tudo o que um papa diz é infalível?
É claro que não. Primeiramente, infalível, em termos absolutos, só Deus é. A Igreja participa da infalibilidade divina em algumas condições, que são, segundo a tradição da própria Igreja: as declarações de um concílio ecumênico presidido pelo Papa; a definição “ex cathedra” de um papa, quando proclama um novo dogma; os ensinamentos dos bispos em comunhão com o Papa; o que pertence à fé do povo de Deus (chamado de “senso fidei”), em comunhão com os seus pastores.
Passamos de uma tradição milenar de comunicação eclesial pausada e medida a uma superexposição midiática dos papas, o que os torna cada vez mais próximos, mais “humanos” e menos “sacralizados” que em épocas passadas. No entanto, isso não significa que o Papa seja menos infalível em seus pronunciamentos. Como podemos entender esta nova situação?
Fora das condições de infalibilidade anteriormente comentadas, o Papa continua sendo o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, e todos os seus ensinamentos devem ser escutados pelos católicos com muito respeito e consideração.
As afirmações papais contidas em documentos como encíclicas, exortações etc., terão mais ou menos valor doutrinal segundo sua relação com as verdades da fé cristã.
Um valor ainda mais diferente têm suas afirmações em livros ou entrevistas, segundo sua relação com doutrinas já proclamadas pela Igreja como tais. Mas, nestes casos, como já aconteceu com João Paulo II e Bento XVI, o Papa se submete à crítica (sobretudo a uma crítica saudável e construtiva) dos especialistas nas diversas matérias, e inclusive a qualquer pessoa.
Talvez um dos problemas seja a compreensão do que é a opinião pública dentro da Igreja, especialmente entre os próprios cristãos. Pode ou deve haver uma opinião pública? Quais seriam seus limites?
Especialmente desde a época do Concílio Vaticano II, vem se falando da necessidade de uma “opinião pública” dentro da Igreja. Se entendermos bem este conceito, trata-se de algo saudável e conveniente, mas que tem seus limites.
E os limites estão na revelação cristã. Se algo pertence claramente à revelação e foi declarado como tal pela Igreja, cabe continuar aprofundando e desenvolvendo seus conteúdos, mas sempre na mesma linha.
Na nova exortação apostólica, o Papa fala de renovar as estruturas, de conversão pastoral, inclusive do próprio papado, e de não ter medo de revisar os costumes que foram úteis em outras épocas, mas que hoje podem já não ser mais adequados para a evangelização. Devemos entender que isso inclui a comunicação?
Uma exortação apostólica como a “Evangeliigaudium”, especialmente se chega depois de um sínodo universal, tem um grande valor, igual ou maior que uma encíclica, no conjunto dos ensinamentos de um papa – sem querer, com isso, dizer que tem o mesmo valor que os dogmas já declarados pela Igreja.
Além disso, esta exortação tem um grande sentido programático. As expressões mencionadas por você são propostas que o Papa apresenta com toda a sua força de pastor e mestre, ainda que, insisto, tenham valores diferentes inclusive dentro do próprio documento, segundo se refiram a temas que pertencem aos núcleos da fé ou da vida cristã.
Com relação ao caso concreto da comunicação, pelo que o Papa faz, primeiro, e depois pelo que ele diz, podemos entender que também propõe certa mudança de estilo.
Em suma, trata-se de um falar combinado com uma escuta (e o Papa escuta muito), para dar testemunho da tradição cristã, e esta tradição tem muitos caminhos. Dessa maneira, também aprendemos o valor do testemunho, da vida e da palavra que precisamos dar da nossa fé, como cristãos, tudo isso unido a uma preocupação efetiva pelos outros, sobretudo pelos mais pobres e necessitados.
Inma Alvarez
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