Advento não é simplesmente tempo de
preparação para o Natal. O comércio, aliás, já está se preparando para o Natal
há bastante tempo. Advento significa vinda, chegada. É tempo de celebrar a
vinda de Jesus, do Senhor, do Filho do Homem. O Natal é apenas o momento e a
motivação privilegiada para, nos quatro domingos, celebrarmos essa vinda.
Para as comunidades primitivas, a
destruição de Jerusalém e do Templo ocorrida no ano 70 significou uma vinda do
Messias Jesus, o “Filho do Homem”. O cristianismo nasceu da religião judaica,
centralizada até então no Templo de Jerusalém. Assim, a destruição da cidade e
do Templo, embora tenha sido um grande choque também para os cristãos, um fim de
mundo, abriu, ao mesmo tempo, novos horizontes, foi um novo começo.
Todo acontecimento, de pouca ou grande
monta, deve ser considerado uma vinda de Jesus. Em tudo o que acontece, ele
está vindo ao nosso encontro, está mostrando-nos nova esperança e novo caminho,
está lançando diante de nós um desafio e pedindo de nós a resposta de uma
atitude nova, diferente. Nós é que muitas vezes não percebemos.
Estaremos preparados para o encontro
final com Jesus se soubermos atender a esses apelos que ele nos faz por intermédio
dos fatos.
1ª
leitura (Is. 2,1-5)
Em meio às guerras e ameaças de guerra,
o profeta fala da Lei divina e da comunidade de fé, chamada de Sião ou
Jerusalém. Tanto a do seu tempo como a de hoje devem ser esperança e luz para
todas as nações.
A maneira pela qual Isaías fala de Sião
ou Jerusalém, da “montanha da casa do Senhor”, de onde vem o ensinamento, a lei
de Deus para todas as nações, dá a entender que ele pensa mais numa comunidade
ideal do que na realidade física da cidade. Isso se torna claro até pelo fato
de falar de um futuro, “nos últimos dias”.
A “montanha da casa do Senhor” não é
apenas aquela montanha que chega a 800 metros acima do nível do mar
Mediterrâneo (onde está Jerusalém), mas um lugar de encontro com Deus que se
situa muito acima de qualquer alta montanha ou serra; é uma comunidade de fé
ideal, presença de Deus no mundo. Essa é que atrai para si todas as nações.
Todos vão à sua procura para encontrar
os melhores caminhos. Todos querem aprender dela. Todos buscam a paz, e isto é
o que ela ensina: “fundir suas espadas para fazer bicos de arado, fundir as
lanças para delas fazer foices”, transformar as armas em instrumentos de
trabalho, mudar a força de destruição em força de construção, abandonar as
guerras e partir para a colaboração.
O profeta-poeta projetava essa
comunidade ideal, promotora da harmonia universal, para um futuro, os “últimos
tempos”. Esses “últimos tempos” não podem ser apenas o momento final da
história, o fim da humanidade no planeta. É o futuro que já deve estar
presente, é o futuro-presente que podemos hoje entender e pôr em prática como a
etapa decisiva da humanidade após a ressurreição do Crucificado.
2ª
leitura (Rm. 13,11-14a)
As comunidades de Roma, apesar de
pobres, viviam na capital do império. Ali não havia limites para o consumo e o
gozar a vida. Paulo as convida a não cair na tentação.
Quanto mais escura a noite, mais
próximo está o clarear do dia; quanto mais difícil a situação (era o tempo do
imperador Nero em Roma), mais perto está uma solução.
Paulo tinha falado em 1Ts. 4,15 na
possibilidade de estar vivo na segunda vinda de Cristo. Depois, sentindo
provável sua condenação à morte, desejou-a (Fl. 1,23) para estar com Cristo.
Agora ele fala da proximidade da salvação. Seria a vinda final de Cristo? Seu
propósito, no entanto, era encerrar sua missão na parte oriental do império,
passar por Roma e ir evangelizar a Espanha, o lado ocidental (Rm. 15,22-24).
Ele não teria esses grandes e arriscados projetos se esperasse para breve o fim
do mundo.
Os problemas internos nas comunidades
de Roma também não eram poucos. Os cristãos judeus tinham sido expulsos da
cidade e agora estavam podendo voltar. A situação da Palestina era cada vez
mais grave, estava se tornando explosiva. Eles voltavam para Roma influenciados
pelas ideias de revolução e muito mais aferrados à sua identidade judaica.
Enquanto isso, os cristãos gentios de Roma, sem dúvida, tinham se afastado mais
e mais dos costumes judaicos. Os dois grupos iriam se entender?
Roma, a capital do mundo, era, além
disso, uma tentação, tentação, acima de tudo, de consumismo, pois tudo o que se
produzia de melhor em todo o império era carreado para Roma. Cair nessa
tentação seria deixar-se envolver pelo mundo das trevas.
Estão dormindo aqueles que não têm
esperança de que o mundo possa mudar nem nisso pensam. Um mundo novo está
chegando, está para ser construído; é preciso, então, estar acordados, viver
como em pleno dia – alerta Paulo –, fugir do consumismo, que não dá nenhum
sentido à vida. Como o mesmo Paulo disse em 1Ts. 5, os que dormem, é de noite
que dormem; os que se embriagam é de noite que se embriagam. Esses serão pegos
de surpresa. Nós, ao contrário, somos da luz e, como tais, vivemos unidos ao
Senhor e Messias Jesus.
Evangelho (Mt. 24,37-44)
A vinda de Cristo, quando será? O
evangelho responde que ninguém pode saber, é imprevisível. Diz, porém, que
precisamos ficar atentos, ligados a Deus e seu projeto, mesmo no trabalho
cotidiano, dentro ou fora de casa.
O evangelho, das palavras de Jesus que
se referem diretamente à destruição de Jerusalém, passa a falar do encontro
final do fiel com o Cristo juiz. O trecho que lemos hoje faz exatamente essa
passagem.
Ele havia falado da comparação com a
planta que começa a brotar, anunciando a chegada da primavera e do verão (vv.
32-36). Sinais do dia decisivo seriam a auto-proclamação messiânica dos líderes
da revolta judaica (vv. 5-8), dificuldades, incompreensões e perseguição aos
cristãos, além da divulgação do evangelho (vv. 9-14) e da violação do Templo
(v. 15). Mas, nos vv. 34-35, é dito que os fatos acontecerão ainda “nesta
geração”, o que só pode ser entendido com a destruição de Jerusalém.
Depois de dizer que o dia e a hora só
Deus sabe (v. 36), o evangelho entra no texto de hoje comparando a situação de
então com a do tempo de Noé. No episódio bíblico do dilúvio, ninguém se
interessou pela arca que Noé preparava, ninguém pensou que sua vida seria
interrompida: continuava sua rotina até que Noé entrou na arca – e, em seguida,
veio o dilúvio e todos se foram.
É uma advertência para estarmos
conscientes de um fim inevitável, mas de data e hora imprevisíveis. E estar
conscientes disso significa estar atentos aos apelos de Deus por meio dos
fatos. O fim vem, é certo. Quando? Só Deus sabe. As duas certezas nos preparam
para ir ao encontro do Senhor que vem.
Por ocasião da invasão do exército
romano, nas proximidades ou dentro de Jerusalém, dois homens no campo ou duas
mulheres em casa, exercendo a mesma atividade, têm sortes diferentes. Essa
afirmação leva naturalmente a uma reflexão: o que importa não é exatamente o
que estejam fazendo, mas o modo como cada um está agindo na sua rotina
cotidiana. Está vigilante, com o pensamento voltado para Deus e seu projeto, ou
voltado apenas para si mesmo e seus sonhos?
Vem a comparação do ladrão, que chega
sempre quando menos se espera. Para não ser pegos de surpresa, é preciso
vigiar, ficar acordados, atentos, alertas. Paulo (1Ts. 5,1ss) já fazia a
comparação com o ladrão, que vem à noite. E dizia: “Mas nós não somos das
trevas nem da noite, nós somos do dia e da luz”.
DICAS
PARA REFLEXÃO
Em tudo o que acontece, Jesus está
mostrando-nos nova esperança e novo caminho, está lançando diante de nós um
desafio, está pedindo de nós a resposta de uma atitude nova, diferente. É o seu
advento, a sua vinda que celebramos. Nós é que muitas vezes não percebemos.
O desafio de hoje é a violência, uma ordem social violenta, de pura competição, que explode em acontecimentos trágicos, mas está no coração da sociedade e no coração de cada um. A comunidade que acredita em Deus e não no dinheiro ensina a transformar as armas em instrumentos de trabalho, mudar a força de destruição em força de construção, abandonar a violenta guerra da competição e partir para a colaboração.
O desafio de hoje é a violência, uma ordem social violenta, de pura competição, que explode em acontecimentos trágicos, mas está no coração da sociedade e no coração de cada um. A comunidade que acredita em Deus e não no dinheiro ensina a transformar as armas em instrumentos de trabalho, mudar a força de destruição em força de construção, abandonar a violenta guerra da competição e partir para a colaboração.
A “montanha da casa do Senhor” não é
apenas aquela montanha que chega a 800 metros acima do nível do mar
Mediterrâneo, mas um lugar de encontro com Deus, uma comunidade de fé que deve
ser luz para a humanidade.
Quanto mais escura a noite, mais
próximo está o clarear do dia; quanto mais difícil a situação, mais perto está
uma solução.
Aqueles que não têm esperança em outro
mundo possível estão dormindo. Um mundo novo está vindo, está para ser
construído; é preciso estar acordados, viver como em pleno dia, fugir do
consumismo, que não dá nenhum sentido à vida, e fazer da sobriedade ferramenta
de partilha.
O fim vem, é certo. Quando? Só Deus
sabe. A certeza de que vem e a certeza de que não podemos saber quando nos
preparam para ir ao encontro do Senhor. É preciso estar conscientes de um fim
inevitável, mas de data e hora imprevisíveis. E estar conscientes disso
significa estar atentos aos apelos de Deus por meio dos fatos.
O que importa não é o que as pessoas
estejam fazendo, mas o modo como cada um está agindo. Está vigilante, com o
pensamento voltado para Deus e seu projeto, ou voltado apenas para si mesmo e
sua cobiça? Isso é o que vai definir a sorte de cada um.
“Nós não somos das trevas nem da noite,
nós somos do dia e da luz.” Que significado tem isso no nosso dia a dia?
Os “últimos tempos” são o futuro que já
está presente, são o futuro-presente que podemos hoje entender e pôr em
prática. São a etapa decisiva da humanidade após a ressurreição do Crucificado,
que celebramos.
padre José Luiz Gonzaga do Prado
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