A profecia e a injustiça: antes de poder falar da pobreza bela, é preciso ver o rosto da pobreza feia e, se possível, saborear algo dela.
A pobreza
é uma dimensão essencial da condição humana, muito importante para a
vida de todos. Um erro grave da nossa civilização é considerar a pobreza como um problema típico de algumas categorias sociais ou povos.
Gostaríamos de ser cada vez mais imunes à pobreza, expulsando os pobres, como bodes expiatórios, para fora das fronteiras da nossa convivência cidadã.
Já não reconhecemos a pobreza; nós nos esquecemos de que nascemos na pobreza mais absoluta e acabaremos nossa vida em uma pobreza não menos absoluta.
Toda a nossa existência é uma tensão entre o desejo de acumular riquezas (para preencher esta indigência antropológica radical) e a consciência, que vamos adquirindo com os anos, de que a acumulação de coisas e de dinheiro é somente uma resposta parcial e em conjunto insuficiente para a necessidade de reduzir a autêntica vulnerabilidade e fragilidade da qual viemos, para vencer a morte.
Uma consciência que alcança seu grau máximo quando pensamos em como terminaremos nossa existência: nus, como quando chegamos. As riquezas e os bens passarão e de nós só restará (se restar) outra coisa.
Esta intuição está por trás da opção daqueles que decidem viver com menos dinheiro e menos coisas, porque descobrem que a diminuição de algumas riquezas permite o crescimento de outros bens gerados por esta nova e diferente pobreza escolhida.
Só quem opta por ser pobre de poder, de dinheiro e de si mesmo pode enfrentar longas e esgotantes batalhas pela justiça, nas quais pode inclusive oferecer a própria vida, morrendo por estes ideais.
Se observarmos as múltiplas formas de pobreza, sofrida e não escolhida, nas quais se encontram presas muitas pessoas no mundo, perceberemos que as situações de indigência, precariedade, vulnerabilidade, fragilidade, insuficiência e exclusão são resultado da falta de capitais não só financeiros, mas também relacionais (famílias e comunidades destruídas), de saúde, tecnológicos, ambientais, sociais, políticos e, ainda com maior intensidade, educativos, morais, motivacionais, espirituais; a falta de philia e de agape.
Gostaríamos de ser cada vez mais imunes à pobreza, expulsando os pobres, como bodes expiatórios, para fora das fronteiras da nossa convivência cidadã.
Já não reconhecemos a pobreza; nós nos esquecemos de que nascemos na pobreza mais absoluta e acabaremos nossa vida em uma pobreza não menos absoluta.
Toda a nossa existência é uma tensão entre o desejo de acumular riquezas (para preencher esta indigência antropológica radical) e a consciência, que vamos adquirindo com os anos, de que a acumulação de coisas e de dinheiro é somente uma resposta parcial e em conjunto insuficiente para a necessidade de reduzir a autêntica vulnerabilidade e fragilidade da qual viemos, para vencer a morte.
Uma consciência que alcança seu grau máximo quando pensamos em como terminaremos nossa existência: nus, como quando chegamos. As riquezas e os bens passarão e de nós só restará (se restar) outra coisa.
Esta intuição está por trás da opção daqueles que decidem viver com menos dinheiro e menos coisas, porque descobrem que a diminuição de algumas riquezas permite o crescimento de outros bens gerados por esta nova e diferente pobreza escolhida.
Só quem opta por ser pobre de poder, de dinheiro e de si mesmo pode enfrentar longas e esgotantes batalhas pela justiça, nas quais pode inclusive oferecer a própria vida, morrendo por estes ideais.
Se observarmos as múltiplas formas de pobreza, sofrida e não escolhida, nas quais se encontram presas muitas pessoas no mundo, perceberemos que as situações de indigência, precariedade, vulnerabilidade, fragilidade, insuficiência e exclusão são resultado da falta de capitais não só financeiros, mas também relacionais (famílias e comunidades destruídas), de saúde, tecnológicos, ambientais, sociais, políticos e, ainda com maior intensidade, educativos, morais, motivacionais, espirituais; a falta de philia e de agape.
Assim como nos ensina o economista e filósofo indiano Amartya Sen, a pobreza
"ruim" consiste em carecer das condições (sociais e políticas também)
para desenvolver as próprias potencialidades, que, dessa maneira, ficam
encalhadas em capitais baixos demais, que impedem que a viagem desta
vida seja suficientemente longa e sem tantos acidentes e dores.
Então, a pobreza, toda pobreza, é muito mais que a falta de dinheiro, como podemos ver quando perdemos o emprego e não encontramos outro porque não possuímos os "capitais" fundamentais (não só a faculdade, mas também a aprendizagem de um ofício nos anos adequados).
Os capitais das pessoas e dos povos, a riqueza e a pobreza, sempre estão misturados. Alguns capitais, riquezas e pobrezas, são mais decisivos que outros para o desenvolvimento humano, mas, salvo em casos extremos, ninguém é tão pobre que não possa ter alguma forma de riqueza.
Esta mistura talvez faça que o mundo seja um lugar menos injusto do que parece à primeira vista, ainda que seja preciso prestar muita atenção para não cair na "retórica da pobreza feliz", que muitas vezes encontramos naqueles que elogiam a indigência alheia, vivendo comodamente em chalés de luxo ou desfilando com carros blindados pelas periferias das cidades do mundo, em uma forma de "turismo social".
Antes de poder falar da pobreza bela, é preciso ver o rosto da pobreza feia e, se possível, saborear algo dela.
Mas a consciência do risco – sempre real – de cair na retórica burguesa do elogio da pobreza bela (a dos outros, a quem nunca conhecemos e em quem nunca tocamos) não deve chegar a apagar uma verdade ainda mais profunda: todo processo de saída das armadilhas da miséria começa sempre por avaliar as dimensões de riqueza e beleza presentes nos "pobres" a quem se deseja ajudar.
Porque, quando não se parte do reconhecimento deste patrimônio, muitas vezes enterrado, mas real, os processos de desenvolvimento e de "capacitação" dos "pobres" são ineficazes (quando não prejudiciais), porque falta a estima do outro e das suas riquezas e, portanto, a experiência da reciprocidade das riquezas e das pobrezas.
Há muitas pobrezas dos "ricos" que poderiam ser curadas com as riquezas dos "pobres", somente por meio do conhecimento, do encontro.
E se não começarmos a conhecer e reconhecer a pobreza, todas as pobrezas, não poderemos voltar a fazer uma boa economia, que surge sempre a partir da fome de vida e de futuro dos pobres.
Então, a pobreza, toda pobreza, é muito mais que a falta de dinheiro, como podemos ver quando perdemos o emprego e não encontramos outro porque não possuímos os "capitais" fundamentais (não só a faculdade, mas também a aprendizagem de um ofício nos anos adequados).
Os capitais das pessoas e dos povos, a riqueza e a pobreza, sempre estão misturados. Alguns capitais, riquezas e pobrezas, são mais decisivos que outros para o desenvolvimento humano, mas, salvo em casos extremos, ninguém é tão pobre que não possa ter alguma forma de riqueza.
Esta mistura talvez faça que o mundo seja um lugar menos injusto do que parece à primeira vista, ainda que seja preciso prestar muita atenção para não cair na "retórica da pobreza feliz", que muitas vezes encontramos naqueles que elogiam a indigência alheia, vivendo comodamente em chalés de luxo ou desfilando com carros blindados pelas periferias das cidades do mundo, em uma forma de "turismo social".
Antes de poder falar da pobreza bela, é preciso ver o rosto da pobreza feia e, se possível, saborear algo dela.
Mas a consciência do risco – sempre real – de cair na retórica burguesa do elogio da pobreza bela (a dos outros, a quem nunca conhecemos e em quem nunca tocamos) não deve chegar a apagar uma verdade ainda mais profunda: todo processo de saída das armadilhas da miséria começa sempre por avaliar as dimensões de riqueza e beleza presentes nos "pobres" a quem se deseja ajudar.
Porque, quando não se parte do reconhecimento deste patrimônio, muitas vezes enterrado, mas real, os processos de desenvolvimento e de "capacitação" dos "pobres" são ineficazes (quando não prejudiciais), porque falta a estima do outro e das suas riquezas e, portanto, a experiência da reciprocidade das riquezas e das pobrezas.
Há muitas pobrezas dos "ricos" que poderiam ser curadas com as riquezas dos "pobres", somente por meio do conhecimento, do encontro.
E se não começarmos a conhecer e reconhecer a pobreza, todas as pobrezas, não poderemos voltar a fazer uma boa economia, que surge sempre a partir da fome de vida e de futuro dos pobres.
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