Epístola: 1Jo 3,1-3
Neste trecho o apóstolo exorta a uma
vida santa, em geral, e, em particular, a cultivar o amor fraterno. A primeira
consideração tem como base a adoção como filhos por parte de Deus que quer ser
pai, coisa não conhecida no mundo, que sempre pensa nos seus deuses como senhores
temidos e vingativos. Essa é a doutrina que vamos examinar neste domingo. Suas
conseqüências são a vida santa aqui na terra e a esperança de
participar da vida divina no definitivo Reino dos céus.
O AMOR DO PAI. Vede que classe de amor nos concedeu o Pai, de modo
que sejamos chamados filhos de Deus; por isso, o mundo não vos conhece porque
não o conheceu (1)
QUE CLASSE: o grego significa que
espécie, que classe, maneira ou estilo, muito mais do que grande da RA da
versão evangélica portuguesa, ou que gran amor da espanhola. O apóstolo nos
fala a considerar com admiração e assombro e observar um amor sem comparação e
uma mercê sem medida.
AMOR é a palavra própria para o amor de
Deus, usada também para o amor entre amigos ou amor de um pai para com seus
filhos. O PAI: Era o Pai de Jesus Cristo (Rm. 15,6), mas enviando ao nosso
coração o Espírito de seu Filho, que clama Abba, já não somos escravos, porém
filhos; e, como filhos, herdeiros por Deus (Gl. 4,7). Assim, dirigindo-se aos
romanos, Paulo os saúda com estas palavras: amados de Deus, chamados santos:
Graça e paz tenham de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (Rm. 1,7). A
diferença entre um cristão e Cristo é que este é o amado (Mt. 3,17 e Mc. 12,6),
o primogênito (Rm. 8,29), e até unigênito (Jo 1,14) por estar unido
pessoalmente à divindade.
CHAMADOS: em termos bíblicos é o mesmo
que ser, pois este verbo não se usa em hebraico. Um exemplo: Gabriel fala a
Maria: será grande, será chamado Filho do Altíssimo (Lc. 1,32). A Vulgata
acrescenta et sumus [e somos] indicando o sentido verdadeiro
do klëthömen [chamados].
O MUNDO: o kosmos grego é inicialmente
ordem, ou uma disposição e medida ordenada; também o Universo, cuja ordem e
disposição tanto admiravam os filósofos gregos. Finalmente, a terra e seus
habitantes. Especialmente o conjunto da multidão, oposta aos planos divinos e
especialmente ao cristianismo, como é este caso.
NÃO VOS CONHECE. Esse mundo que foi
feito pela palavra [Logos] e o mundo não a conheceu (Jo 1,10). E assim como não
conheceu o Filho, era impossível que conhecesse os filhos, já que estes eram
tais por serem filhos no Filho, pois deu aos que O [logos] receberam o poder de
serem filhos de Deus, não por meio da carne, mas porque creem no seu nome, os
quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus (Jo 1,12-13). Paulo em Gl 4,6, explicará que a obra de Deus é a
entrega do Espírito e não um simples documento, decreto ou declaração, como
afirmava Lutero, já que não admitia a graça santificante. Nem basta a fé só
para ser filho de Deus, pois pode ser uma fé morta, como afirma Tiago na sua
epístola (2,17; 20 e 26).
NÃO O CONHECEU: O mundo não conheceu o
verdadeiro Deus como Pai, e, portanto não pode reconhecer os filhos. E também
não conheceu Jesus como Filho, quanto menos poderia reconhecer os cristãos como
filhos de Deus.
A MANIFESTAÇÃO. Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não
apareceu que seremos; sabemos, porém que se se manifestar seremos semelhantes a
ele porque o veremos como é (2).
AMADOS: era o título com que Paulo se
dirige aos cristãos de Roma: amados de Deus, chamados santos (Rm. 1,7), Com
este mesmo epíteto João se dirige aos cristãos aos quais escreve suas três
cartas.
NÃO APARECEU: Como João afirma no
prólogo de seu evangelho, donde o Verbo foi visto com a glória do unigênito,
cheio de graça e verdade (1,14). Logicamente, a graça é o conjunto de poderes
divinos; e a verdade, como quem sabe as coisas de Deus; pois do céu veio e
assim podia falar das coisas que ele viu (Jo 3,13). Por isso podia dizer
testificamos o que vimos (Jo 3,11). Nem o mundo pode ver o que somos nem nós, a
exceção de poucos casos místicos, sabemos o que somos. Paulo tem uma fórmula
válida para todo cristão: Cristo vive em mim (Gl 2, 20) e o afirma dizendo que
nosso corpo é membro de Cristo (1 Cor 6, 15). Poucos são cientes destas
verdades que se MANIFESTARÃO e então veremos o que realmente somos. Veremos-nos
e atuaremos como realmente filhos, porque VEREMOS DEUS como ele é: um Pai que
ama seus filhos. E então viveremos conformes à imagem de seu Filho, o unigênito
entre muitos irmãos (Rm. 8,28). Como disse o próprio Jesus, sua vida era viver
conforme a vontade do Pai, pois os que tais fazem serão os únicos que entrarão
no Reino (Mt. 7,21), o que, de outra forma parte da oração comum, em que
pedimos seja feita a vontade divina na terra, assim como ela é feita nos céus
(Mt. 6,10). Por isso, Jesus passou a sua vida fazendo o bem (10, 38) motivo
pelo qual temos sido feitos por Deus.
A PURIFICAÇÃO. E todo aquele que tem essa esperança nele
purifica-se, assim como ele é puro (3).
PURIFICA-SE: é um verbo que significa a
purificação cerimonial para exercer um serviço de culto. É a palavra usada em
At. 21,24 quando Paulo deve se purificar junto com quatro varões, rapando a
cabeça como cumpridor da Lei do nazerato. Corresponde ao nezer de Nm. 6,8, em
que durante todos os dias do voto estava o separado como sagrado para o Senhor.
Por isso não podiam cortar o pelo, nem beber nada que fosse fermentado. Era um
homem consagrado a Deus. É o verbo agnizö o usado para
purificar o coração ou mente em Tg. 4,8: vós de duplo ânimo purificai os
corações, ou em 1Pd. 1,22: purificando vossas almas pelo Espírito na obediência
à verdade, para o amor fraternal, não fingido: amai-vos ardentemente uns aos
outros com um coração puro. É o que Jesus disse numa das bem-aventuranças:
bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus (Mt. 5,8). A Vulgata
traduz porsanctificat, cujo significado é de sacer [sagrado]
e significa o mesmo que agiosgrego, ou seja, próprio da divindade,
uma coisa sem mancha, pura, inviolável, imaculada, sacra.
PURO. A palavra é usada 5 vezes por
Paulo e uma por Tiago, Pedro e João respectivamente. Seu significado é limpo,
sem mancha como em 2Cor. 7,11 ou casto como em 2Cor. 11,2, falando das virgens,
livre de falta, ou limpo de pecado, como 1Tm. 5,22. Falando de Deus é esta
passagem de João que descreve a natureza divina como sem mancha, totalmente
sacra e imaculada. A Nova Vulgata traduz purificat e purus,
que nós temos adotado, sem saber de antemão, tal versão. E imediatamente João
explica os significados, dizendo em contraste: todo aquele que comete pecado
também comete iniquidade porque o pecado é iniquidade, ou podemos dizer
maldade. Desta está livre completamente Deus, de modo que Ele é o único bom
(Mt. 19,17), em que não se encontra pecado ou maldade. Jesus, seu Filho, pode
dizer diante de seus inimigos: quem dentre vós me convence de pecado? (Jo
8,46). Por isso, quem não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para
poder castigá-lo e deste modo fazer de nós justiça de Deus nele (2Cor. 5,21).
Atualmente temos um Pontífice que foi tentado como nós, mas sem pecado (Hb.
4,15). O Anticristo é, portanto chamado de homem do pecado (2Ts. 2, 3) sendo do
Diabo que faz o pecado e peca desde o início (1Jo 3,8). Por isso, livres do
pecado somos servos de Deus, tendo como fruto a santificação e, por fim, a vida
eterna (Rm. 6,22). Portanto, não encontramos melhor explicação que citar esses
textos da Escritura que nos colocam em contato com a bondade de Deus, um pai
que jamais faria o mal a seus filhos e que é bondade para perdoar suas
transgressões.
EVANGELHO (Mt. 5,1-12s) - As
bem-aventuranças
Dois evangelistas narram o que se tem
chamado as bem-aventuranças. Mateus como parte do sermão da montanha, pois foi
desta cátedra que Jesus falou (5,1) e Lucas que coloca o pequeno discurso
paralelo numa planície (6,17). Isso indica que a circunstância é redacional,
independente das palavras e ideias a expressar. Também há uma grande diferença
entre as oito ou nove bem-aventuranças de Mateus e as quatro de Lucas. Ambos,
porém usam a mesma palavra makarioi para designar os
contemplados como prediletos do reino. Que significado tinha nos lábios de
Jesus essa palavra e de que ideias hebraicas era tradução, de modo que os
ouvintes a pudessem entender? O grego makáriossignifica tanto
ditoso ou feliz como bendito do verbo makarizo que significa
declarar afortunado. No primeiro caso, indicaria uma situação
determinista da vida mesma, sem ligação com ulteriores fins ou propósitos. No
segundo caso, a palavra tem um conteúdo teológico de modo que implica uma
providência divina que, pelo contraste com o sentir comum dos dirigentes
religiosos, apontava uma nova era completamente revolucionária em perspectivas
religiosas. Esse é nosso caso.
O MONTE. Tendo, pois, visto as multidões, subiu ao monte e
tendo-se ele assentado, se aproximaram dEle seus discípulos (1). Então, tendo
aberto sua boca, os ensinava dizendo (2).
Os comentaristas unem o sermão da
montanha com a entrega da Lei por Javé -Deus no monte Sinai no AT. Oros em
grego, é usado por Mateus como um ambiente paralelo ao lugar em que Moisés
recebeu a lei no Sinai, sendo que o cumprimento do primeiro mandamento
receberia uma gratificação especial para os que fielmente o guardavam (Ex.
20,6). Jesus também, do monte, ensina a nova lei a seus discípulos. Porém,
antes deve escolher o novo Israel, e daí as chamadas bem-aventuranças. Os que
por elas são alcançados serão o novo Israel e, portanto, podem ser designados
como verdadeiramente felizes. Jesus começa, pois, por essa distinção em que
derruba o velho conceito de etnia e descendência como parte para formar a elite
de Jahvé, e contrariamente, suscita um novo modelo de povo de Deus, cuja base é
precisamente o infortúnio material. A eles Jesus abre um novo mundo de
esperanças e felicidade. A lei, para os judeus, não era unicamente o nomos[preceito],
mas também abrangia declarações, propostas e fatos de Deus em relação com seu
povo escolhido. Neste sentido total e amplo, Jesus determina primeiro o âmbito
de seus verdadeiros escolhidos. Logo propõe seus nomoi [preceitos], precedidos
de uma retificação aperfeiçoada da antiga lei: ouvistes que foi proclamado, eu,
porém, vos digo (Mt. 5,21). Como mestre da nova Lei, Jesus adota uma postura
frequente entre os rabinos ou mestres em Israel. Ele fica sentado, tendo seus
discípulos e ouvintes ao seu redor, geralmente de pé, pendentes de suas
palavras. Os rabinos explicavam a lei segundo as tradições [ouvistes que foi
dito], mas Jesus explica a nova Lei como quem tem autoridade para propô-la e
anuncia-la como novidade feliz a um público geralmente esquecido e desprezado.
Constituía a esperança messiânica, já atuando como realidade nova e definitiva.
Finalmente, uma palavra sobre o monte: Realmente, segundo Lucas, Jesus subiu ao
monte para orar durante a noite (Lc. 6,12). Na manhã, escolheu seus doze discípulos
e logo ao descer do monte, se deteve num lugar plano onde a multidão o esperava
para ser curada de suas doenças. Lucas, pois, circunscreve as bem-aventuranças
a uma planície, embora tivesse como fundo o monte do qual acabava de descer.
Também Lucas diz que elevando os olhos aos discípulos dizia (Lc. 2,20).
AFORTUNADOS: Ditosos (= beati) os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos
céus (3).
A palavra, usada tanto por Mateus como
por Lucas, no início de cada versículo é MAKARIOI, em grego, plural
de Makarios. Logicamente Mateus e Lucas usam a palavra como
tradução de um original aramaico usado por Jesus. Qual é essa palavra e que
significado se encerra na raiz da mesma?
1) No AT: existem no hebraico bíblico
dois verbos com o sentido de abençoar. Um deles é Barak que é
só empregado por Deus no Pile [intensivo ativo] indicando uma ação contínua,
como em Gn. 1,22: E Deus os abençoou dizendo: sede fecundos. Usando a mesma
raiz, Deus abençoou também o dia sétimo. A setenta traduz por eulogesen louvar
ou falar bem, a Vulgata por benedixit, que no inglês é traduzido
por blessed. De barak temos baruk [bendito]
e a palavra beraká [bênção], cujo plural é berakoth.
Todas as berakoth começam com Baruk Ata
Adonai que pode ser traduzido por louvado seja meu Senhor [= Deus]. Os setenta
traduzem baruk [bendito] por eulogetos ou eulogemenos
(Dt. 28,3 +). O outro é Ashar cujo significado primitivo é
avançar; também no pile significa pronunciar feliz e pela primeira vez o
encontramos em Gn. 30,13 em boca de Lia: Feliz, eu [beasheri], porque
chamar-me-ão ditosa [asheruni] todas as mulheres. Nos setenta, os termos em
colchetes são traduzidos por makaria emakarizousin, a
mesma raiz empregada nas bemaventuranças. Não entramos em maiores detalhes. Só
com o dito podemos dizer que barak é a palavra reservada para
a ação divina, quando declara bendita uma pessoa; e asher é a
ação do povo que vê uma circunstância que torna feliz uma vida. Logicamente
essa circunstância provém de Deus como causa principal. (Os números
correspondem aos de Sprong). Os evangelistas têm muito cuidado nas palavras com
as quais escolhem as ipsissima verba Christi e,
portanto, acreditamos que se ambos os evangelistas escolheram makarios como
tradução das palavras de Jesus, este não quis dizer que eram abençoados por
Deus, mas declarados felizes pelos homens. Jesus quer mudar o modo de pensar
dos discípulos para que estes pudessem ver nos pobres, nos aflitos, nos
humildes, nos famintos, uma classe de predileção divina que os tornavam
desejáveis e invejáveis. Jesus, praticamente, na sua primeira lição pública
define a conduta humana diante da pobreza tanto material como espiritual do
mundo que o rodeia.
2) No grego clássico, a palavra makarios
inicialmente significava livre dos cuidados e preocupações de todos os dias. O
significado é afortunado. Assim, a ilha de Chipre é chamada de ‘e makaria [a
afortunada] por ser uma ilha verde e próspera. Homero chama os deuses de ‘oi
makrarioi [os felizardos] em comparação com os humanos que devem
trabalhar para poderem viver. Na linguagem poética, descreve a condição dos
deuses e daqueles que compartilham da existência feliz deles. Aos poucos,
perdeu seu significado original para se tornar num equivalente do nosso Feliz.
Quando acompanhada de tu ou vós, se transforma em bem-aventurado, ou
bem-aventurados, indicando um elogio por parte dos conhecedores do caso. Como
tais, são parabenizados os pais por causa dos seus filhos, os ricos por causa
de suas riquezas, os sãos pela sua saúde, os sábios por causa de seu
conhecimento, os piedosos por causa de seu bem-estar interior, os mortos por
terem escapado à vaidade das coisas. Indica, pois, como motivo, uma
circunstância especial que acompanha uma certa classe de homens e que por esse
requisito podem ser considerados afortunados.
3) No grego bíblico makarios traduz
o hebraico esher [felicidade], ashar[declarar
bem-aventurado], ou asheré [bem-estar]. Vemos o asheré traduzido
por makarios no salmo 2,12: Bem-aventurados todos os que nele se refugiam; ou o
salmo 32,1 e 2: Bem-aventurado aquele…e bem-aventurado o homem a quem o Senhor
não atribui iniquidade. Em ambos os casos makarios é usado
como tradução de asheré. O homem é bendito, e especialmente esta
bênção provém de Deus. No NT é claro que substituímos o asheré hebraico
por Makarios. Makarios aparece 13 vezes em Mateus e 15
em Lucas e apenas duas em João: Bem-aventurados, pois, se praticares estas
coisas (13,17) e Bem-aventurados os que não viram e creram (20,29). No caso de
Mateus, os bem-aventurados não são os discípulos; mas, estando a frase em
terceira pessoa é qualquer um que se encontra em semelhantes circunstâncias. A
estimativa predominante do Reino de Deus leva consigo uma inversão de todas as
avaliações costumeiras. E todos os que compartilham dessa experiência da
chegada do Reino, nas circunstâncias reveladas na frase inicial, serão benditos
por esse dom recebido de Deus de modo gratuito.
4) Mas vejamos as traduções: dichosos ou felices em
espanhol, beati em latim e italiano, fortunate em
inglês, embora a KJ traduzirá Blessed, felizes em português e hereux em
francês. É uma palavra que indica completa satisfação ou felicidade. Todas elas
cumprem as palavras de Dt. 33,29 em que o hebraico asheré é traduzido por
makários e por ditoso: ditoso tu Israel. Quem como tu povo vencedor? Deus
é o escudo que te protege, a espada em marcha que te conduz ao triunfo. Ou o
salmo 144,15: Ditoso o povo que tem tudo isso; ditoso o povo, cujo Deus é o
Senhor. Em Baruc 4,4 temos: Felizes somos Israel, pois podemos descobrir o que
agrada o Senhor.
5) Como conclusão, podemos afirmar que
a palavra grega makários tem o significado de homem cuja vida é invejada por
ser um privilegiado por Deus nos seus planos beneficentes. Em definitivo,
podemos facilmente traduzi-la por BENDITO ou ABENÇOADO. Deus está no meio, por
ser a causa de todos os verdadeiros bens. O Makarioi de Jesus entra, pois, nos
planos divinos, como causa principal ao ser Deus o observador que escolhe seus
eleitos, como declara Maria em seu canto: Exultou meu espírito em Deus meu
Salvador porque ele fixou seus olhos na insignificância de sua escrava (Lc.
1,47-48). Até agora no mundo católico, quase de forma geral, as
bem-aventuranças eram vistas como prêmio oferecido às virtudes dos que mereciam
semelhante elogio. Hoje não são consideradas como recompensa de virtudes, mas
como escolha divina, que, em sua misericórdia, quer favorecer os mais
desamparados. Não é a virtude interior alcançada, que obtém um prêmio, mas são
as circunstâncias que favorecem a ação divina em sua misericórdia. Deste ponto
de vista, podemos enxergar todo o contexto como sendo uma política divina que
dá uma reviravolta na totalidade do pensar e atuar humanos. Jesus, em nome de
Deus, como seu profeta, declara quais deveriam ser chamados de ditosos ou
afortunados. Assim começa a nova economia que inicia uma nova visão do mundo
dos sofridos e desafortunados. Esta situação, no lugar de ser uma situação de
infortúnio, ou um estado aparente de desdita, é, pelo contrário, uma condição
de sorte, porque as riquezas divinas estão à disposição dos que se supõem ter
herdado o azar como condição de suas vidas. Como diria Paulo, na fraqueza é que
se manifesta (mais) o poder [de Deus] (2Cor. 12,9). Por isso, todas as bem-aventuranças
terminam com um porque em que Deus entra como causa ativa, subentendido na
passiva do verbo correspondente, passiva que era praticamente usada só para
atuações divinas. Talvez a melhor tradução seria: Sois abençoados por Deus vós
os…
O ESQUEMA: temos em cada
bem-aventurança uma prótasis [primeira parte de um poema
teatral] e uma apódosis [explicação]. A prótasis ou
primeira parte de cada oração é uma circunstância da vida, independente da
vontade da pessoa respectiva. A apódosis é a explicação do
porquê e como a sorte lhes favorece. Como caso curioso podemos ver que as
quatro primeiras começam com a letra pi em grego: Ptochoi [mendigos], penthountes [chorantes], praeis[mansos]
e peinountes [famintos]. Quando se sabe que a kabala era
característica da interpretação das Escrituras, há uma pequena razão para
pensar que Mateus, legista e intérprete da lei, tivesse alguma razão, por nós
hoje desconhecida, de seguir seus ocultos princípios.
PTÔCHOI: No AT ptochos aparece
perto de 100 vezes e são a tradução de 7 palavras hebraicas:
1) `anav é sinônimo de
humilde, especialmente quando em forma adjetivada acompanhado de Jahvé. Com seu
número de Sprong aparece 24 vezes, especialmente nos salmos e em Isaías, a
começar por Moisés que é declarado o mais humilde, ou mais manso dos homens
como traduz a Vulgata. O anav desse número é geralmente
traduzido por prays [manso](12), penes [pobre]
(11) etapeinós [baixo] (1). Na vulgata, temos mites (6) mansuetus (6)
e pauper (12). Existem duas frases em que anav acompanha
terra anav heretz. E que em ambos são traduzidos por prays ou
mansos.
2) ‘ani [37 vezes] que tem
o significado de pobre, humilde, modesto, oprimido. A primeira vez que aparece
é em Ex. 22,24: Se emprestares prata ao meu povo, ao pobre [ani e ptochós]
que está contigo. Quando não se menciona o opressor a palavra significa
realmente pobre material, os que não têm terra. A Setenta traduz,
indistintamente, ani por pobre ou humilde.
3) anah. A única vez que
anah sai é em Daniel 4, 27: redime tua iniquidade para com os pobres em grego
penetön [= dos pobres].
4) dal [22 vezes]
baixo, fraco, pobre, magro. Fisicamente dal significa fraco e passa a ser
empregado para as classes sociais mais baixas como camponeses, pobres,
necessitados, sem importância.
5) Ebyon [11 vezes]
significa pedinte de esmolas, mendigo; ou seja, os muito pobres e sem lar.
6) Rush [11 vezes]
necessitado, pobre, é uma palavra que se emprega como contraste de rico.
7) Misken. Nos tempos mais
modernos usa-se misken, um termo que os mendigos orientais empregam
para definir a si mesmos. Que deduzimos então? Se o mendigo é precisamente o ebyon e
equivale ao endeês [menesteroso em grego] o ptochós de
nossa bem-aventurança pode ser pobre no sentido de desvalido, sem recursos,
cujo único goel [defensor] era Jahvé, em oposição aos ricos
que dependiam de suas riquezas como base fundamental de suas vidas. Os textos
mais modernos descartam o pobre material e traduzem o Ptochós como
humilde, ou humilde de espírito (AV), ou os que têm o coração de pobre (francesa).
A melhor exegese será, sem dúvida, a feita por Maria: Depôs poderosos de seus
tronos e aos humildes exaltou. Cumulou de bens os famintos e despediu ricos de
mãos vazias. Parece que Jesus aprendeu bem de sua mãe esta política divina que
tão bem se realizou na sua família. Os rabinos louvavam a simplicidade e a
humildade, mas nunca a pobreza porque, segundo eles, nenhum dos males poderia
se equiparar ao mal da pobreza; daí que Mateus, legista e conhecedor das
tradições judaicas, teve que acrescentar uma explicação ao simples fato de
pobreza. Pois para esses mestres da Lei a riqueza era o prêmio justo da virtude
e a pobreza era considerada como legítimo castigo. Porém, a pobreza entra nos
planos de Deus e a sua aceitação coloca os pobres como escolhidos às portas do
Reino do qual Jesus era o arauto ao proclamar as condições que o limitavam,
segundo Is. 61,1: Ele me enviou a anunciar a boa nova aos pobres [ptochoi em
grego e humildes nas versões mais modernas como a italiana]. Na história do
Israel antigo, após a economia inicial de troca, uma vez consolidada a
monarquia, o dinheiro tomou conta da economia e muitos dos agricultores
passaram a depender dos homens das cidades. Este empobrecimento não só se
tornou um problema social, mas religioso como fruto da quebra da Lei,
tornando-se uma injustiça, atacada pelos profetas do século VIII a.C. que
ameaçavam com o juízo divino os ricos que eram culpados. E é nesta situação
histórica, que podemos entender o significado de pobre e necessitado. O pobre
que sofre injustiça porque outros se tornaram gananciosos, volta-se indefeso e
humilde a Deus em oração, pensando que a ajuda divina em suas necessidades é a
base da glória a Deus. Pobres, são os que se voltam a Deus em suas
necessidades, pois é um Deus-protetor dos pobres (Sl. 72,2): com justiça ele [o
rei] julgue o seu povo, salve os filhos dos indigentes [anawim e ptochoi]
e esmague seus opressores. No salmo 132,15 diz: De pão fartarei seus pobres [anawim e ptochoi].
A desgraça do exílio levou, temporariamente, ao emprego das palavras pobre e
necessitado como termos coletivos para o povo. No judaísmo tardio, tanto a
pobreza material como o aspecto da sua espiritualização têm características
novas: Todos os grupos religiosos tinham suas formas especiais de obras de
caridade. Nas sinagogas havia uma organização para ajuda dos pobres, existindo
esmolas públicas semanais. Cada sexta-feira, aqueles que viviam na localidade,
recebiam dinheiro suficiente da cesta dos pobres para 14 refeições ; os
estrangeiros recebiam comida diariamente da comida dos pobres; esta comida
tinha sido coletada antes, de casa em casa, pelos oficiais dos pobres. Na
diáspora, as sinagogas frequentemente estabeleciam uma comissão de sete para
esse serviço, como fizeram os apóstolos em Atos 6,1-6. A distribuição das
esmolas era considerada particularmente meritória, se feita na cidade santa. A
semelhança entre hoje e antigamente é tão grande –escreve J. Jeremias- que há
algumas dezenas de anos encontravam-se leprosos, pedindo esmolas nos seus lugares
habituais, no caminho de Getsêmani, fora dos muros da cidade. Em Jerusalém, a
mendicância concentrava-se em torno do Templo, como vemos em At. 3,1-8. Como
temos visto, os setenta traduzem anawim porptochoi.
Portanto, esta palavra perdeu o significado de mendigo para denotar o homem
indefeso, que só tem como avaliador Jahweh e que nele depositou sua inteira
confiança. A palavra pobre não significava a mesma coisa para um grego e para
um judeu. Para o grego era um mendigo; para o judeu era aquele que não possuía
terras (Êx 22,24). Naturalmente, neste último caso, os pobres eram também
gentes desprovidas de influência social, frequentemente exploradas e
humilhadas. Em grego, temos a palavra Ptochós [mendigo] com
necessidade de pedir esmola para subsistir e a palavra Penës, o
pobre que não é rico, mas tem necessidade de trabalhar para poder viver. Como
temos visto, ao explicar as diversas palavras usadas no hebraico, os pobres
podem ocupar o lugar da palavra anawin, que tem um significado
contrário ao de rico, com conotações religiosas de confiança em Deus.
TO PNEUMATI: que pode ser
traduzido em espírito ou de espírito. Evidentemente, o espírito é o espírito
humano. Portanto temos: Ou pobres de espírito, que significaria acanhados; ou
pobres por espírito, por eleição, pessoas estas que aceitavam a pobreza como
natural ou como voluntária. O texto grego presta-se, pois, a duas
interpretações:1) pobres quanto ao espírito; 2) pobres pelo espírito.
A primeira pode ter um sentido
pejorativo como homem de qualidades diminuídas. Ou um positivo como aqueles
desapegados do dinheiro, embora o possuam em abundância, sentido este excluído
pelo próprio Jesus em Mt. 6,19-24 e pela condição imposta ao jovem rico. Na
tradição judaica, os termosanawim/aniyim designavam os
pobres sociológicos, que punham sua esperança em Deus por não achar apoio, nem
justiça na sociedade. Jesus recolhe este sentido e convida a escolher a
condição de pobres [opção contra o dinheiro e a posição social] entregando-se
nas mãos de Deus. O termo “espírito”, na concepção semita, conota sempre força
e atividade vital. Neste texto, denota o espírito do homem. Na antropologia do
AT o homem possui “espírito” e “coração”. Ambos os termos designam sua
interioridade; o primeiro, enquanto dinâmica, sua atividade em ato; o segundo,
enquanto estática, os estados interiores ou disposições habituais que orientam
e matizam sua atividade. A interioridade do homem passa à atividade enquanto
inteligência, decisão e sentimento. Dado o que Jesus propõe, é uma opção pela
pobreza, e o ato que a realiza é a decisão da vontade. O sentido da
bem-aventurança é, portanto “os pobres por decisão”, opondo-se aos “pobres por
necessidade”. Transpondo o nome decisão pela forma verbal, tem-se “os que
decidem escolher ser pobres”. A vulgata usa pauperes spiritu do
grego ptochoi to pneuma. A tradução da bíblia protestante na
sua VA [versão autorizada] é: Bem-aventurados, os humildes em espírito. As
bíblias católicas conservam a palavra pobres e traduzem pobres de espírito ou
em espírito e algumas pobres de coração. Duas traduções fazem uma exegese
particular: A versão AL [América latina] os que têm o espírito de pobres e a
francesa: ceux qui ont um coeur depauvre [que
têm um coração de pobre]. A bíblia de King James traduz poor inspirit e
comenta que ptochós é uma pessoa que não pode se ajudar, ao contrário de
penes, que, sendo pobre, pode se virar, como dizem. E comenta: o primeiro passo
para ser abençoado é a admissão da própria inutilidade espiritual. Enquanto
Mateus dá uma explicação sobre o significado de Ptochoi[pobres],
Lucas nada diz sobre a natureza da pobreza, aludida por Jesus na primeira
bem-aventurança. Segundo Lucas, é a pobreza material a que abre as portas do
Reino. Segundo Mateus, essa pobreza tem um matiz necessário: é a pobreza
fomentada no espírito, no desejo, no interior ou pensamento, ou tomada como
objetivo na vida, que implica não considerar as riquezas materiais como
finalidade da vida. Na realidade, ambos os termos podem ser vistos com uma
convergência: a pobreza material é um pré-requisito para a pobreza espiritual,
muito mais difícil de se conseguir quando a riqueza é o berço em que fomos
aninhados. Uma interpretação moderna é de que os homens só podem ser abençoados
por Deus quando diante dEle se comportarem como mendigos às portas de sua
misericórdia. Vejamos duas interpretações:
1) Do ponto de vista católico e
fundamentada em Mateus: a) a primeira Bem-aventurança seria a bênção divina
para os que escolhem ser pobres, porque no lugar da riqueza, estes terão a Deus
por seu único Rei, que, por sua parte, escolhe os válidos e preferidos entre os
pobres e oprimidos. No texto de Mateus podemos interpretar pobres no espírito
como aqueles que não têm ambições de riqueza, que não se deixam levar pela
avareza. b) Finalmente, pobres no espírito pode significar aqueles que carecem
de qualidades humanas. Qual delas é a mais correta na interpretação das
palavras de Jesus? Segundo a maioria dos autores, Ptochoi traduz
o hebraico Anawim que Jesus explicará em Mateus 6, 19-21; 24
em que Jesus rejeita o desejo das riquezas e as antepõe ao serviço devido a
Deus, já que não podemos servir a dois senhores. Quando da recusa do jovem em
abandonar suas riquezas, Jesus comentará que é difícil para um rico entrar no
Reino, pois na realidade ele está dominado pelo senhor contrário ao verdadeiro
Senhor: Deus (Mt. 19,16+). E é nesta última situação que as palavras de Lucas
adquirem o verdadeiro valor como Bem-aventurança. Um último comentário: Pelo
que Mateus nos dá a conhecer sobre o sermão da montanha parece que as
bem-aventuranças foram redigidas sobre a frase tão repetida neste capítulo V:
Ouvistes que foi dito aos antigos; eu, porém vos digo. Isto é: nas sinagogas
vos foi ensinado; porém, a verdade é outra diferente que eu vos declaro agora.
Por isso a melhor tradução, sob o ponto de vista exegético, seria: Ouvistes que
vos foi ensinado que os ricos eram benditos de Deus; eu, porém, vos digo que
são os mais pobres os escolhidos e os que verdadeiramente são os benditos de
Deus, que na terra vão constituir seu Reino. De fato, Paulo dirá aos de
Corinto: Não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos,
nem muitos de família prestigiosa… Deus escolheu o que no mundo é vil e
desprezado… a fim de que aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. (1Cor.
1,26-31). A bênção era tão inusitada para a época em que a pobreza era
considerava pior que a lepra como castigo divino, que Mateus ou o seu copiador,
se sentiu obrigado a introduzir um pequeno parêntese explicativo para
restringir a pobreza a limites aceitáveis pelos seus leitores e assim fala dos
pobres de coração que hoje chamaríamos pobres sem ambição, e que os evangélicos
traduzem por humildes de espírito. Porém, devemos manter o original de Lucas
que fala dos simplesmente pobres, indigentes, porque a bênção divina é tanto
mais completa quanto mais miserável aparecer a condição humana. Assim se cumpre
o dito de Jesus que afirma ter vindo salvar o aparentemente perdido. Como
consequência, não devemos desprezar esses mendigos que tratamos de vagabundos, porque
eles merecem um lugar de destaque no reino, e nosso amor para com eles só será
um espelho do amor de Deus exemplificado nesta bênção. Em termos gerais,
podemos considerar que se Lucas é o taquígrafo das palavras de Cristo, Mateus é
seu intérprete e catequista. Daí as diferenças. Segundo as palavras de Jesus,
citando, em Lucas, Isaías 61,1: Ele me enviou a anunciar a boa-nova aos pobres
[anawim e ptochoi, o latim mansueti,
que traduz o italiano umili e a VA quebrantados] os
pobres poderiam ser os aflitos por suas necessidades materiais. De fato, as
classes inferiores, escravos e necessitados se beneficiaram do evangelho em
forma tal, que Jesus teve que afirmar que dificilmente um rico entraria dentro
do esquema do mesmo. Serão, pois os pobres materiais os sujeitos da
bem-aventurança, embora devam ser excluídos da mesma os que se rebelam contra
sua pobreza e não a aceitando, rejeitam os planos de Deus que prefere os
deserdados aos ricos e opulentos.
2) A evangélica de Robert H Mounce; em
resumo será: Jesus exclama que não são os ricos e poderosos, mas os pobres e
humildes dos quais se podem dizer, na verdade, que são bem-aventurados. A
apreciação de Jesus das coisas que constituem a vida, como deve ser vivida,
ressalta em forte contraste com a sabedoria convencional… Na linguagem
hebraica, pobre não era apenas a pessoa em desvantagem econômica, mas todos
quantos, em sua necessidade, apelam a Deus em busca de ajuda (Sl. 69,32 e Is.
81,11). Estes são os anawim, “os humildes pobres que confiam na ajuda de Deus”.
Pobre de espírito significa depender totalmente de Deus para ajuda, segundo o
Salmo 34, 6: Clamou este pobre e o Senhor o ouviu; salvou-o de todas as suas
angústias.
REINO DOS CÉUS: A promessa mais
explícita, como esperança de cada bem-aventurança, é a entrada no Reino, que
Mateus chama dos céus, especialmente explicitada na primeira e na última,
oitava e final, da lista por ele apresentada. Mateus é praticamente o único
evangelista que chama reino dos céus [15 vezes] enquanto os outros dois
denominam Reino do (sic) Deus. Em que consiste esse Reino que parece ser a base
da pregação de Jesus? Nas suas parábolas Jesus o descreve como um banquete
nupcial (Mt. 22,1+), como um precioso tesouro (Mt. 13,44). Mas, em que
consiste? No AT só encontramos uma vez e em grego a frase Reino de Deus no
livro da Sabedoria que não é admitido como canônico pelos evangélicos: Ela [a
sabedoria] guiou por sendas retas o justo [Jacó], que fugia da ira de seu irmão
[Esaú], lhe mostrou o reino de Deus e deu-lhe o conhecimento das coisas santas
[significando o governo do mundo por meio de seus anjos e em particular a
bondade de Deus para com o patriarca] (Sb. 10,10). Por Daniel,
especialmente no capítulo 7, sabemos que os quatro reinos procedentes do mar
[do abismo, símbolo do mal] foram substituídos pelo reino que procedia das
nuvens do céu [de Deus]. Era o Reino dos céus segundo Mateus ou Reino de Deus
do qual Jesus se diz representante, assumindo a figura de Filho do Homem (Dn.
7, 13). Das palavras de Jesus, dificilmente saberemos a resposta positiva;
sabemos quais são as pessoas que entram facilmente [pobres, crianças] (Mt. 5,3
e 19,14) e quais as que têm dificuldade [ricos, autoridades religiosas] (Mt.
19,23 e 21,31) . Sabemos que o Reino exige uma honestidade própria [mais estrita
que a dos escribas e fariseus] (Mt. 5,20). Que para um escriba era necessária
uma espécie de renovação como novo nascimento, que é da água e do espírito (Jo
3,5). Um reino que implica uma nova relação com Deus, não em forma aparente e
externa, mas interior (Lc. 17,21). Um reino que consiste essencialmente em que
a vontade divina seja a norma indispensável da vida (Mt. 6,10). Um reino que se
mostrará patente após a morte de Cristo porque muitos dos ouvintes de Jesus
estarão presentes ao seu início visível (Lc. 9,27) para o qual haverá sinais
prévios (Lc. 21,31). Reino que terá Pedro como supremo supervisor (Mt 16,19).
Os apóstolos, seguindo esta linha de Jesus, nos dizem que o Reino consiste não
em palavras, mas em poder (1Cor. 4,20). Não em comilanças e bebedeiras, mas em
honestidade, paz e gozo no Espírito Santo (Rm. 14,17); que nem luxuriosos, nem
idólatras, nem adúlteros, nem depravados, nem efeminados, nem sodomitas, nem
ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem injuriosos herdarão o mesmo (1Cor. 6,9-10);
coisa que repetirá Paulo em Gl. 5,21. Trabalham pelo reino os apóstolos e com
eles os que os ajudam (Cl. 4,11). Deste reino que podemos chamar na sua face
terrena, chegamos ao definitivo ao eschaton do qual temos a palavra de Jesus
que beberá do fruto da vide quando chegar o Reino de Deus (Lc. 22,18). Este é o
reino que Jesus admite como próprio e do qual como gozo definitivo promete
participar aos que nele confiam (Lc. 23,42-43). Podemos, pois, responder à
pergunta qual é esse reino que a eles é prometido? Sem dúvida, que eles serão a
maior e melhor parte desse novo povo de Deus que constitui o Reino por Cristo
fundado e do qual ele era Senhor. Não é sem uma idéia proposta e preconcebida,
que Mateus escolhe no monte onde pronuncia a novidade do reino, os doze que
deveriam ser os novos pais das novas tribos do novo Israel, não como genitores
materiais, mas como pais espirituais, dos quais todos nós recebemos a nova vida
no Espírito.
TÊM A DEUS POR REI: esta é a tradução
preferida pelos modernos intérpretes. Assim, o grego Basiléia não significa
aqui reino, mas ‘reinado’. “Seu é o reinado de Deus” quer dizer que esse
reinado se exerce sobre eles, que somente sobre eles age Deus como rei. A
pobreza a que Jesus convida é a renúncia a acumular e reter bens, a considerar
algo como exclusivamente próprio; esses pobres estarão sempre dispostos a
compartilhar o que têm. A opção final que Jesus propõe, realiza o prescrito
pelo primeiro mandamento de Moisés: Não terás outros deuses diante de mim (Dt.
5,7).
A idolatria concretizava-se na posse da
riqueza (Mt. 6,24); por isso o enunciado desta bem-aventurança é porque estes
e não outros, têm a Deus por Rei. A opção proposta pela primeira
bem-aventurança leva à sua perfeição a metanoia ou emenda, pois quem escolhe
ser pobre, renunciando a monopolizar riquezas, e com isso, à posição social e
ao domínio, exclui de sua vida a possibilidade de injustiça. É a visão da
teologia da libertação.
CONCLUSÃO. As palavras de Jesus são um
convite a refletir de forma nova sobre fatos que consideramos desafortunados,
mas que o evangelho torna afortunados. Entre eles a pobreza, considerada como
um castigo divino, mas que agora devemos ver como uma circunstância
providencial, uma verdadeira bênção do céu, porque facilitará a entrada no reino
dos que a sofrem.
OS QUE CHORAM: ditosos os que
pranteiam. Eles serão consolados (4). O latim e a maioria das traduções
modernas modificam a ordem desta bem-aventurança colocando-a em terceiro lugar.
Mas que significa o verbo grego penthountes? Ele significa propriamente
lamentar os mortos, ou seja, prantear, derramar lágrimas por alguém, estar de
luto. Precisamente a palavra luto deriva do latim lugere de onde luctus. O
grego pentheö sai 4 vezes nos evangelhos: Duas em Mateus e uma em Marcos e
Lucas. É traduzido por lugere, enquanto o pranto ou choro como o de um menino é
klaiö. Pedro chorou amargamente após suas negações (Mt. 26,75). As carpideiras,
ou pranteadeiras, choravam [klaiontas, flentes] na casa de Jairo por causa da
morte da filha (Mc. 5,38). Lucas, neste lugar paralelo, usa klaiö em vez de
pentheö de Mateus (Lc. 5,21). Sobre pentheö temos Mt. 9,15 que diz que os
amigos do noivo não podem estar de luto no dia da boda do mesmo. Marcos diz que
a Madalena anunciou a Ressurreição aos que estavam lamentando e chorando. Os
mesmos dois verbos sucessivos usa Lucas em 6,25. Também o grego admite como
tradução os que se lamentam ou estão afligidos, como aceitam traduções
modernas. Poderíamos traduzir por os que sofrem. A razão que motiva esta
bem-aventurança é a de que encontrarão consolação a sua dor. Logicamente o
pranto não é devido a uma dor física, mas a uma perda de uma pessoa amada ou de
bens estimados, necessários para a vida: um infortúnio, uma desgraça. Alguns
traduzem: os que sabem o que significa a tristeza. É o próprio Deus que será
seu consolo, segundo Is. 61,2: A consolar todos os que choram. Lucas, como a
vulgata de Mateus, traz esta bem-aventurança em terceiro lugar e a palavra
usada é Klaiontes [o latim flentes, derramando lágrimas] que como sempre traduz
muito literalmente o grego. O texto não diz as razões que motivaram as
lágrimas. Mas no texto de Isaías, citado por Jesus quando do início de sua
missão, encontramos: que foi enviado a consolar os que estão tristes. Usa,
pois, Mateus os dois verbos que a Setenta, a bíblia-guia dos primitivos
cristãos, emprega. Poderíamos afirmar que o consolador é o próprio Jesus na sua
função de Messias Salvador, ou Cristo. Ele toma as funções divinas atribuídas a
Deus na passiva do verbo correspondente. Recorda a passagem: Vinde a mim todos
vós que estais cansados… E eu vos aliviarei (Mt. 11,28).
OS MANSOS. Ditosos os mansos porque eles herdarão a terra (5).
PRAEYS:
é palavra própria dos mansos, benignos, não violentos, o mites oumansuetus latino,
que aceitam sua fragilidade e sua situação social sem revolta, mas com a
confiança em Deus que será o último fautor da História. É uma imagem tomada do
Salmo 37,11: Pois os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância da
paz. É notável como as palavras prays eklëronomeo são
também as usadas pelo salmista. O sentido claro é que, definitivamente, o Reino
é um reino de paz e que os não violentos são os herdeiros desse reino que
substitui o antigo Israel, a verdadeira terra bíblica. Por isso Jesus afirma que
os contrários do Reino são os violentos que estão a destruí-lo (Mt. 11,12). No
tempo de Jesus, os Zelotas pensavam que fosse a terra [nome dado à Palestina
pelos israelitas] matéria de conquista e guerra. Jesus, porém, toma a palavra
do profeta no salmo 37,8-9 para indicar que não é a violência que conquista a
terra. Deixa a violência, abandona o furor, não te inflames: só farias o mal;
porque os maus vão ser extirpados e os que aguardam o Senhor possuirão a terra.
De Si mesmo dirá que devemos aprender porque é manso e humilde de coração (Mt.
11,29). De novo temos a presença de Jesus nesta bem-aventurança, agora como
modelo humano e não como Deus que cumpre uma promessa. Esta bem-aventurança é
uma antecipação do número 7: os fazedores da paz. Só que, neste último caso, a
situação é ativa e na nossa 3a bem-aventurança o sujeito é passivo: pacífico.
Terra era o termo com o qual declaravam os judeus a porção geográfica que
Jahweh tinha dado a eles por herança (Dt. 1,36 e Nm. 26,53) que Dt. 9,29
identifica com o povo de Israel. De modo que podemos afirmar que unicamente os
pacíficos ocuparão o espaço dos que pertencem ao Reino.
FOME E SEDE DE JUSTIÇA. Ditosos os famintos e sedentos de justiça, porque
serão saciados (6).
Esta bem-aventurança está refletida, mas
de modo material, na segunda de Lucas: os famintos agora, pois serão saciados.
Esta oposição à materialidade de Lucas nos descobre uma interpretação
espiritualista de Mateus das palavras de Jesus. Ao mesmo tempo, Mateus conecta
com o AT segundo sua proposição de que Jesus veio não para revogar a Lei, mas
para completá-la (Mt. 5,17). São duas as passagens de Isaías que falam sobre
sede e fome: 55,1 e 65,13. Especialmente nesta última Jahweh se refere aos seus
servos que terão comida e bebida em abundância. Mas que significa a justiça que
é a fonte ou motivo de sede e fome? Em grego dikaiosyne significa:
1) Justiça divina que premia o bem e
castiga o mal.
2) Justiça humana equivalente a
santidade moral.
3) Fidelidade divina que cumpre sempre
suas promessas que é sinônimo de salvação.
4) Justiça distributiva humana que
respeita o direito e defende em nome de Deus os mais necessitados. Qual delas é
a justiça de nosso versículo? Provavelmente, a terceira. A justiça bíblica é
sinônimo de santidade ou correção de vida em conformidade com a vontade divina.
Não é a justiça comutativa, mas a essencial da qual nos fala Paulo e que em
certo modo se identifica com salvação e santidade. O lugar paralelo é Mt. 6,33
no qual a justiça está unida ao Reino. Justos eram aqueles cujo sangue foi
derramado desde Abel até o último profeta (Mt. 23,33). Uma salvação que inclui
também o primeiro significado. Era o desejo manifestado por Simeão: Meus olhos
viram a tua salvação (Lc. 2,30), porque essa salvação foi comparada a um banquete
no qual todos podiam entrar, ricos e pobres, sãos e aleijados, bons e maus. A
entrada é livre, pois a justiça divina se transformou em misericórdia.
Unicamente os convivas deveriam ter uma veste limpa: não buscar a própria
exaltação como os fariseus, mas revestidos de Cristo (Rm. 13,14) de sentimentos
de compaixão, benevolência, humildade, doçura, paciência (Cl. 3,12).
OS MISERICORDIOSOS. Ditosos os misericordiosos porque serão tratados
com misericórdia (7).
Eleëmones é
o termo grego significando que tem compaixão. Eles alcançarão essa mesma
compaixão que têm com os homens, mas da parte de Deus.Eleëmones só
sai esta vez nos evangelhos. A palavra que é usada da mesma raiz é eleeö,
[ miserere, ter compaixão]. É o verbo usado pelos pedintes de Jesus para uma
cura, como os cegos, a mulher cananeia, o pai do filho epiléptico, etc. É o
verbo usado por Jesus na parábola do servo devedor, a palavra que usa o rico
para pedir de Abraão uma gota d’água. É a compaixão para com aquele que está
necessitado ou pede perdão de uma dívida impagável. O próprio Lucas traduz a
perfeição cristã por misericórdia: sede misericordiosos como vosso Pai (Lc 6,
36). A palavra usada por Lucas oiktirmön [que tem pena de] é
mais próxima de compaixão que de misericórdia. Precisamente a eleëmosunë =
eleemosyna latina [esmola portuguesa] provém dessa raiz grega que éeleëmosunë.
Daí o grande motivo para dar esmolas entre os cristãos.
LIMPOS DE CORAÇÃO. Ditosos os limpos no coração porque eles verão a
Deus (8).
Katharoi [mundi,
limpos]. Na verdade, o latim com mundo corde diria: ditosos (aqueles) com
coração limpo. O coração limpo, por outros traduzido por os puros de coração
nada tem a ver com a castidade, mas visa os de intenções limpas, os não
malvados, nem torcidos em seu íntimo entre pensamento, palavra e ação por terem
o pensamento diverso de sua palavra mentirosa. Ou seja, os não hipócritas, os
que só pensam em fazer o bem, sem outras intenções espúrias ou indignas por
segundos interesses. Limpos de coração é tomado do Salmo 24,4: Quem é
limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem
jura dolosamente. O salmo 15,2 fala de quem vive com integridade e pratica a
justiça, e, de coração, fala a verdade, o que não difama com sua língua, não
faz mal ao próximo nem lança injúria contra seu vizinho. Esta é a limpeza do
coração, mente, ou intenção, diríamos hoje. O prêmio desta vez é que verão a
Deus. Quando? Evidentemente na figura de Jesus. Como exemplo: os fariseus viram
o demônio expulsando seu colega, quando a gente simples via o dedo de Deus (Mt.
12,22-24). Por outro lado, eles, os limpos de coração, são os que buscam a
verdade e a encontrão e por isso verão a Deus em suas vidas porque Deus é a
única verdade. A Carta aos Hebreus afirma que sem a santificação é impossível
ver a Deus (Hb. 12,14). Não se trata unicamente do além, mas do tempo presente
em que a premissa básica para encontrar o verdadeiro Deus é a pureza de
intenção. Precisamente Jesus dirá que é no coração onde se prepara e cozinha a
maldade (Mt. 16,19). A presença de Deus era o Templo, onde Deus estava
assentado sobre os querubins da arca (1Sm 4,4). Agora o verdadeiro templo é o
crente (1Cor. 3,16), e só se Deus é adorado em verdade (Jo 4,24) é que estará
ali como estava sobre os querubins no antigo Templo (1Sm 4,4). E nesse templo
interior Ele se manifestará.
OS QUE TRABALHAM PELA PAZ. Ditosos os que trabalham pela paz porque eles serão
chamados filhos de Deus (9).
Os eirenopoioi grego,
tem como tradução direta os que fabricam a paz, que infelizmente o latim traduz
impropriamente por pacifici e que a maioria das bíblias adotou como pacífico;
mas pacífico corresponde a 3a bem-aventurança com o nome de praeis.
Uma coisa é ser pacífico ou afável, e outra é trabalhar pela paz. Um
comentarista diz que um trabalhador pela paz é um homem que experimentou a paz
de Deus e pretende levar a mesma aos que com ele convivem. De fato, esta é a
única vez que é empregada no NT. Serão chamados filhos, está no lugar de serão
verdadeiros filhos de Deus. Precisamente, segundo Isaías, o filho que nos foi
dado, terá como nome Emanuel [Deus conosco] será chamado Príncipe da paz (9,5).
Esse Jesus que como rei da paz entra em Jerusalém montado num jumento e não num
cavalo, montaria de guerra, para anunciar a paz às nações (Zc 9,9-10). Os
pacificadores são os verdadeiros continuadores do labor feito por Jesus, levam
a paz entre os homens e a paz para com Deus. Trabalham como Jesus trabalhou,
com o mesmo objetivo e o mesmo motivo: reconciliação e amor.
OS PERSEGUIDOS(10). Ditosos os perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus (10).
Dediögmenoi [perseguidos]
é o particípio passado passivo do verbo diököbuscar ou acossar
alguém de modo a ter que fugir por causa do acossamento. Esta deveria ser a
oitava e última bem-aventurança, mas nos encontramos com um makarismo a
mais, o nono. A justiça é como temos explicado no parágrafo de sede e fome de
justiça, a correção de vida que se ajusta aos planos divinos, e que no AT
consistia no cumprimento exato dos preceitos da Lei, como era o caso de José,
esposo de Maria, que devia por lei denunciar Maria publicamente, mas pensava em
repudiá-la ao modo antigo, ou seja, secretamente (Mt. 1,19). Jesus claramente
abona a teoria de que a moral entra dentro dos planos divinos.
A JUSTIÇA DO REINO. Ditosos sois quando vos reprovarem e
perseguirem e dizendo palavra má contra vós mentirem por minha causa (11).
Parece que este é o nono macarismo,
porém os autores afirmam que ele é a explicação do oitavo, indicando quais são
a justiça e a perseguição dos justos. De fato, neste último macarismo, Jesus
passa da terceira pessoa, em termos gerais, para a segunda pessoa dirigindo-se
aos seus ouvintes: vós. A justiça é a que está representada na pessoa de Jesus
[por causa de mim]. A perseguição ou os perseguidos, do verbo dioko, são os
buscados ou acossados pelos inimigos de Jesus, porque atrás deles está o
Mestre, como Ele disse a Saulo, perseguidor dos seus discípulos (At. 9,4):
Saulo, Saulo, por que me persegues? O grego usa neste versículo o mesmo verbo dioko.
Dentro da explicação, vemos que a perseguição implica a injúria, o acossamento
e a mentira. Todos eles, os perseguidos, pertencerão ao Reino e são os
verdadeiros membros do mesmo, o constituem. A última bem-aventurança promete a
mesma recompensa que a primeira: o Reino.
A RECOMPENSA. Ficai alegres e exultai porque vossa recompensa (é)
grande nos céus. Assim também perseguiram os profetas, os anteriores vossos (12).
A recompensa, ou melhor, o salário
misthós é uma remuneração que só Deus pode dar e que ninguém poderá diminuir ou
anular, como é o tesouro que as riquezas bem repartidas adquirem para os que
delas se desprendem. Assim podeis comparar-vos com os profetas que me
precederam. A ação profética é precisamente o testemunho de suas vidas,
aparentemente desperdiçadas inutilmente, maltratadas e vilipendiadas pelos que
tinham a obrigação de ouvir e respeitar seus testemunhos. É uma profecia do que
aconteceria após a morte e ressurreição de Jesus, do qual eles se tornariam
testemunhas e profetas. Em todas as bem-aventuranças, vemos alguma correlação
com o AT. Jesus interpreta, pois, o AT de modo a encontrar o verdadeiro sentido
do mesmo. Assim são válidas as suas palavras em Mt 5,17: Não penseis que vim
revogar a lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.
PISTAS
1) Jesus [ou a Igreja primitiva] coloca
as bem-aventuranças no início da sua atuação pública, imediatamente após a
escolha dos doze. Pelos detalhes de Mateus, elas ocupam o lugar dos mandamentos
recebidos por Moisés no Sinai, ou seja, Jesus prega uma Boa Nova em oposição a
Moisés que proclama uma lei de servidão.
2) É um evangelho positivo no qual Deus
quer mostrar a sua face de bondade e salvação. E são precisamente esses homens
passivos da ação divina que o mundo pensaria serem os de pior sorte, os que são
beneficiados [ditosos] pela riqueza e misericórdia de Deus.
3) Não se trata de uma moral nova a ser
cumprida –à parte o capítulo V- mas de umas circunstâncias nas quais Deus quer
se mostrar magnânimo e divinamente generoso. Por isso, as bem-aventuranças
estão sendo proclamadas a todos os que de alguma maneira encontram em Jesus o
seu Mestre e Salvador.
4) As bem-aventuranças resumem o espírito
evangélico, ou apresentam um modo novo de olhar para a realidade crua, dos
discípulos de Jesus? Antes parece um juízo feito pela sabedoria divina dos
momentos e das pessoas que nós consideramos desafortunados. Nessas situações
tão indesejáveis, a esperança provém do olhar para a verdadeira essência das
coisas: ver a realidade como Deus a vê.
5) As primeiras constituem a bênção de
circunstâncias que podemos chamar de infortúnio. Estar nas mesmas não é um
azar, mas uma sorte do ponto de vista da providência divina. As segundas
implicam uma recompensa para determinadas virtudes que são essencialmente
cristãs. Todas constituem a Boa Nova para necessitados ou almas de boa vontade.
A Boa Vontade divina agora inclui a boa vontade humana.
padre
Ignácio
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