O seu trono é a cruz.
A Palavra de Deus, neste último
domingo do ano litúrgico, convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus.
Deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos
reis deste mundo: é uma realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão,
no dom da vida.
A primeira leitura apresenta-nos o momento em que David se tornou rei
de todo o Israel. Com ele, iniciou-se um tempo de felicidade, de abundância, de
paz, que ficou na memória de todo o Povo de Deus. Nos séculos seguintes, o Povo
sonhava com o regresso a essa era de felicidade e com a restauração do reino de
David; e os profetas prometeram a chegada de um descendente de David que iria
realizar esse sonho.
O Evangelho apresenta-nos a realização dessa promessa: Jesus é o
Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do Povo
de Deus e apresentar aos homens o “Reino”; no entanto, o “Reino” que Jesus
propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas
sobre o amor, o perdão, o dom da vida.
A segunda leitura apresenta um hino que celebra a realeza e a
soberania de Cristo sobre toda a criação; além disso, põe em relevo o seu papel
fundamental como fonte de vida para o homem.
LEITURA I – 2 Sam 5,1-3
Por volta do ano 1007 a.C., o reino de Saul
(que agrupava as tribos do norte e do centro) sofreu um rude golpe, com a morte
do rei e de Jonatas (filho e natural sucessor de Saul) às mãos dos filisteus,
numa batalha travada junto do monte Guilboá (cf. 1 Sm 31). Por esta altura, em
contrapartida, David reinava (desde 1012 a.C.) sobre as tribos do sul (cf. 2 Sm
2,1-4).
Ishboshet, filho de Saul, foi
escolhido para suceder a seu pai e ainda reinou dois anos sobre as tribos do
norte e do centro (cf. 2 Sm 2,8-11); mas acabou por ter a oposição de Abner,
chefe dos exércitos do norte, que ofereceu a David a autoridade sobre as tribos
que formavam o reino de Saul (cf. 2 Sm 3,12-21). Abner foi, entretanto,
assassinado por Joab, general de David (cf. 2 Sm 3,26-27); e, pouco depois,
também Ishboshet foi, muito convenientemente, assassinado – embora o segundo
livro de Samuel se esforce por mostrar que David não teve nada a ver com esses
assassínios (cf. 2 Sm 3,28-39; 4,1-12). Finalmente, os anciãos do norte –
preocupados em encontrar uma liderança forte que lhes permitisse resistir aos
inimigos tradicionais, os filisteus – pediram a David que aceitasse dirigir
também os destinos das tribos do norte e do centro.
É diante deste quadro que a
leitura de hoje nos coloca. David está em Hebron – a capital das tribos do sul
– e é lá que recebe os enviados das tribos norte e do centro que lhe propõem a
realeza. Estamos por volta do ano 1005 a.C..
Temos, portanto, os anciãos de
Israel diante de David a propor-lhe a realeza sobre as tribos do norte e do
centro. David aceita… É a primeira vez que se consegue a união das tribos do
norte, do centro e do sul sob a autoridade de um único rei (as “doze tribos”
que a tradição teológica designará como o “Povo de Deus”).
Os catequistas deuteronomistas,
autores deste texto, preocupam-se, no entanto, em fazer uma leitura teológica
da história… Assim, colocam na boca dos anciãos de Israel a seguinte frase: “o
Senhor disse-te: «tu apascentarás o meu Povo de Israel, tu serás rei de
Israel»” (vers. 2). A realeza de David aparecerá, assim, como algo querido por
Deus, decidido por Deus – uma espécie de extensão da realeza de Deus:
doravante, o rei David será considerado o instrumento através do qual Deus
apascenta o seu Povo.
David foi o rei mais importante
da história do Povo de Deus. O seu reinado foi marcado – como acontece com
todos os reinados “humanos” – por conflitos internos, guerras civis,
injustiças, mortes… Mas, apesar de tudo, David manifestou-se como um homem com
uma grande estatura política e moral. Em termos políticos, o reinado de David
fez de Israel e de Judá um reino de razoáveis dimensões, que se sobrepôs aos
seus inimigos tradicionais (os filisteus, os amonitas, os moabitas) e que ficou
na memória do Povo de Deus como um tempo ideal de paz e de abundância. Em
termos religiosos, foi o tempo em
que Jahwéh era considerado, efetivamente, o Deus de Israel e
de Judá e em que o rei potenciava o encontro de todo o Povo à volta do seu
Deus, na fidelidade à aliança.
No futuro – sobretudo em épocas
de crise, de frustração nacional, de instabilidade social, de infidelidade
religiosa – o reinado de David vai constituir como que uma miragem ideal; e,
nas alturas mais dramáticas da sua história, o Povo de Deus sonha com um
descendente de David que venha restaurar o reino ideal de seu pai.
ATUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes
desenvolvimentos:
• O
que é que a história de David tem a ver com a Festa de Jesus Cristo, Rei do
Universo? Jesus Cristo, o Messias, Rei de Israel, descendente de David, é
considerado no Novo Testamento a resposta de Jahwéh aos sonhos e expectativas
do Povo de Deus. Ele veio para restaurar, ao jeito de Deus e na lógica de Deus,
o reino de David. Jesus é, portanto, o Rei que, à imagem do que David fez com
Israel, apascenta o novo Povo de Deus (veremos, mais à frente, como deve ser
entendida a realeza de Jesus). Que significa, para mim, dizer que Jesus é Rei?
• O
reinado de David é apresentado com um tempo ideal de unidade, de paz e de
felicidade; no entanto, conheceu, também, tudo aquilo que costuma caracterizar
os reinados humanos: tronos, riquezas, exércitos, batalhas, injustiças,
intrigas de corte, lutas pelo poder, assassínios, corrupção… Falar do “Reino”
de Jesus terá algo a ver com isto? Estes esquemas caberão, de alguma forma, na
lógica de Deus?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a
casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.
Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.
Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da
justiça,
os tribunais da casa de David.
LEITURA II – Col 1,12-20
A comunidade cristã de Colossos
(situada na Ásia Menor, a cerca de 200 quilômetros a
Este de Éfeso) não foi fundada por Paulo, mas sim por Epafras, discípulo de
Paulo e colossense de origem. Como é que Paulo aparece envolvido com esta
comunidade?
Daquilo que podemos perceber da
carta, Paulo estava na prisão (em Roma?) quando recebeu a visita do seu amigo
Epafras. Epafras contou a Paulo que a Igreja de Colossos estava em crise, pois
alguns “doutores” cristãos ensinavam que a adesão a Jesus devia ser completada
por outras práticas religiosas, fundamentais para a salvação e para um
conhecimento mais profundo do mistério de Deus. Assim, esses “doutores” exigiam
dos crentes de Colossos o cumprimento de práticas ascéticas, de certos ritos
legalistas, de algumas prescrições sobre os alimentos; exigiam, também, a
observância de determinadas festas e a crença nos anjos e nos seus poderes. É
possível que este quadro tivesse a ver com doutrinas orientais que começavam a
circular nesta época e que iriam, mais tarde, desembocar no movimento
“gnóstico”.
Contra esta confusão religiosa,
Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: a adesão a Cristo é o
fundamental para quem quer ter acesso à proposta de salvação que Deus faz aos
homens; tudo o resto é dispensável e não deve ser imposto aos cristãos.
O texto que nos é proposto começa
com um convite à ação de graças, porque Deus livrou os colossenses “do poder
das trevas” e transferiu-os “para o Reino do seu filho muito amado” (vers.
12-14); em seguida, Paulo apresenta um hino no qual celebra a supremacia
absoluta de Cristo na criação e na redenção (vers. 15-20): trata-se de um hino
que Paulo, provavelmente, tomou da liturgia cristã, mas que aparece
perfeitamente integrado no discurso e na mensagem desta carta. É nas duas
estrofes deste hino que está a mensagem fundamental que nos interessa refletir.
A primeira estrofe do hino (vers.
15-17) afirma e celebra a soberania de Cristo sobre toda a criação; e fá-lo,
recorrendo a três afirmações importantes.
A primeira diz que Cristo é a
“imagem de Deus invisível”. Dizer que é “imagem” significa dizer que Ele é, em
tudo, igual ao Pai, no ser e no agir, e que n’Ele reside a plenitude da
divindade. Significa que Deus, espiritual e transcendente, revela-Se aos homens
e faz-Se visível através da humanidade de Cristo.
A segunda afirma que Ele é “o primogênito
de toda a criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogênito” era o
herdeiro principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade sobre os
seus irmãos. Aplicado a Cristo, significa que Ele tem a supremacia e a
autoridade sobre toda a criação.
A terceira assegura que “n’Ele,
por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”. Tal significa que todas as
coisas têm n’Ele o seu centro supremo de unidade, de coesão, de harmonia
(“n’Ele”); que é Ele que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que Cristo é o
termo e a finalidade de toda a criação (“para Ele”).
Ao mencionar expressamente que os
“tronos, dominações, principados e potestades” estão incluídos na soberania de
Cristo, Paulo desmonta as especulações dos “doutores” de Colossos acerca dos
poderes angélicos, considerados em paralelo com o poder de Cristo.
A segunda estrofe (vers. 18-20)
afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção. Também aqui temos
três afirmações fundamentais…
A primeira diz que Cristo é a
“cabeça da Igreja, que é o seu corpo”. A expressão significa, em primeiro
lugar, que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas
significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os
une num conjunto vital e harmônico.
A segunda afirma que Cristo é o
“princípio, o primogênito de entre os mortos”. Significa, não só que Ele foi o
primeiro a ressuscitar, mas também que Ele é a fonte de vida que vai provocar a
nossa própria ressurreição.
A terceira assegura que em Cristo
reside “toda a plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva e
essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos
inserir na sua família, está em
Cristo. Por isso, o autor do hino pode concluir que, por
Cristo, foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos céus:
por Cristo, a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da
salvação e pôde voltar a inserir-se na família de Deus.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir
dos seguintes desenvolvimentos:
• A festa de Cristo Rei, que
encerra o ano litúrgico, celebra, antes de mais, a soberania e o poder de
Cristo sobre toda a criação. A leitura que acabamos de ver diz, a este
propósito, que em Cristo, Deus revela-Se; que Ele tem a supremacia e autoridade
sobre todos os seres criados; que Ele é o centro de todo o universo e que tudo
tende e converge para Ele… Isto equivale a definir Cristo como o centro da vida
e da história, a coordenada fundamental à volta da qual tudo se constrói.
Cristo tem, de fato, esta centralidade na vida dos homens e mulheres do nosso
tempo, ou há outros deuses e referências que usurparam o seu lugar? Quais são
esses outros “reis” que ocuparam o “trono” que pertence a Cristo? Esses “reis”
trouxeram alguma “mais valia” à vida dos homens, ou apenas criaram escravidão e
desumanização? O que podemos fazer para que a nossa sociedade reconheça em
Cristo o seu “rei”?
• Em
termos pessoais, Cristo é o centro, referência fundamental à volta da qual a
minha vida se articula e se constrói? O que é que Ele significa para mim, não
em termos de definição teórica, mas em termos existenciais?
• A
Festa de Cristo Rei é, também, a festa da soberania de Cristo sobre a
comunidade cristã. A Igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça; é Cristo que
reúne os vários membros numa comunidade de irmãos que vivem no amor; é Cristo
que a todos alimenta e dá vida; é Cristo o termo dessa caminhada que os crentes
fazem ao encontro da vida em
plenitude. Esta centralidade de Cristo tem estado sempre
presente na reflexão, na catequese e na vida da Igreja? É que muitas vezes
falamos mais de autoridade e de obediência do que de Cristo; de castidade, de
celibato e de leis canônicas, do que do Evangelho; de dinheiro, de poder e de
direitos da Igreja, do que do “Reino”… Cristo é – não em teoria, mas de fato –
o centro de referência da Igreja no seu todo e de cada uma das nossas
comunidades cristãs em particular? Não damos, às vezes, mais importância às
leis feitas pelos homens do que a Cristo? Não há, tantas vezes, “santos”,
“santinhos” e “santões” que assumem um valor exagerado na vivência de certos
cristãos, e que ocultam ou fazem esquecer o essencial?
ALELUIA – Mc 11,9.10
Aleluia. Aleluia.
Bendito O que vem em nome do
Senhor!
Bendito o reino do nosso pai
David!
EVANGELHO – Lc 23,35-43
O Evangelho situa-nos “lugar do
Crânio” (alusão provável à forma da rocha que dominava o lugar e que lembrava
um crânio), diante de uma cruz. É o final da “caminhada” terrena de Jesus:
estamos perante o último quadro de uma vida gasta ao serviço da construção do
“Reino”. As bases do “Reino” já estão lançadas e Jesus é apresentado como “o
Rei” que preside a esse “Reino” que Ele veio propor aos homens. A cena
apresenta-nos Jesus crucificado, dois “malfeitores” crucificados também, os
chefes dos judeus que “zombavam de Jesus”, os soldados que troçavam dos
condenados e o povo silencioso, perplexo e expectante. Por cima da cruz de
Jesus, havia uma inscrição: “o basileus tôn Ioudaiôn outos” (“este é o rei dos judeus”).
O quadro que Lucas nos apresenta
é, portanto, dominado pelo tema da realeza de Jesus… Como é que se define e
apresenta essa realeza?
Presidindo à cena, dominando-a de
alto a baixo, está a famosa inscrição que define Jesus como “rei dos judeus”. É
uma indicação que, face à situação em que Jesus Se encontra, parece irônica: Ele não
está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súbditos
fiéis que O incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que O insultam e dos
soldados que O escarnecem; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre
milhões de homens, mas está pregado numa cruz, indefeso, condenado a uma morte
infamante… Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com
autoridade, com realeza terrena.
Contudo, a inscrição da cruz – irônica
aos olhos dos homens – descreve com precisão a situação de Jesus, na
perspectiva de Deus: Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de
serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica
desse “Reino de Deus” que Jesus veio propor aos homens.
O quadro é completado por uma
cena bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus… Ao lado de
Jesus estão dois “malfeitores”, crucificados como Ele. Enquanto um O insulta
(este representa aqueles que recusam a proposta do “Reino”), o outro pede:
“Jesus, lembra-Te de mim quando vieres com a tua realeza”. A resposta de Jesus
a este pedido é: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Jesus é o Rei que
apresenta aos homens uma proposta de salvação e que, da cruz, oferece a vida. O
“estar hoje no paraíso” não expressa um dado cronológico, mas indica que a
salvação definitiva (o “Reino”) começa a fazer-se realidade a partir da cruz.
Na cruz manifesta-se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do
homem, vida plena; e essa realeza abarca todos os homens – mesmo os condenados
– que acolhem a salvação.
Toda a vida de Jesus foi dominada
pelo tema do “Reino”. Ele começou o seu ministério anunciando que “o Reino
chegou” (cf. Mc 1,15; Mt 4,17). As suas palavras e os seus gestos sempre
mostraram que Ele tinha consciência de ter sido enviado pelo Pai para anunciar
o “Reino” e para trazer aos homens uma era nova de felicidade e de paz. Os
discípulos depressa perceberam que Jesus era o “Messias” (cf. Mc 8,29; Mt
16,16; Lc 9,20) – um título que O ligava às promessas proféticas e a esse reino
ideal de David com que o Povo sonhava. Contudo, Jesus nunca assumiu com clareza
o título de “Messias”, a fim de evitar equívocos: numa Palestina em ebulição, o
título de “Messias” tinha algo de ambíguo, por estar ligado a perspectivas
nacionalistas e a sonhos de luta política contra o ocupante romano. Jesus não
quis deitar mais lenha para a fogueira da esperança messiânica, pois o seu
messianismo não passava por um trono, nem por esquemas de autoridade, de poder,
de violência. Jesus é o Messias/rei, sim; mas é rei na lógica de Deus – isto é,
veio para presidir a um “Reino” cuja lei é o serviço, o amor, o dom da vida. A
afirmação da sua dignidade real passa pelo sofrimento, pela morte, pela entrega
de Si próprio. O seu trono é a cruz, expressão máxima de uma vida feita amor e
entrega. É neste sentido que o Evangelho de hoje nos convida a entender a
realeza de Jesus.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir
dos seguintes dados:
• Celebrar
a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que
Se impõe aos homens do alto da sua onipotência e que os assusta com gestos espetaculares;
mas é celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a
força desarmada do amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a
construir o “Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e
escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
• À
Igreja de Jesus ainda falta alguma coisa para interiorizar a lógica da realeza
de Jesus. Depois dos exércitos para impor a cruz, das conversões forçadas e das
fogueiras para combater as heresias, continuamos a manter estruturas que nos
equiparam aos reinos deste mundo… A Igreja, corpo de Cristo e seu sinal no
mundo, necessita que o seu Estado com território (ainda que simbólico) seja
equiparado a outros Estados políticos? A Igreja, esposa de Cristo, necessita de
servidores que se comportam como se fossem funcionários superiores do império?
A Igreja, serva de Cristo e dos homens, necessita de estruturas que funcionam,
muitas vezes, apenas segundo a lógica do mercado e da política? Que sentido é
que tudo isto faz?
• Em
termos pessoais, a Festa de Cristo Rei convida-nos, também, a repensar a nossa
existência e os nossos valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado
numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de
honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste
“rei” que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as
nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas
mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e separam dos irmãos? Diante deste
“rei” que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer
da vida um dom?
Nenhum comentário:
Postar um comentário