Qualquer
intento de conceituar o amor recorrendo ao “campo puramente biológico”
acaba por menosprezar a sua real grandeza e dignidade.
Em uma tentativa de "secularizar" o amor, os inimigos da fé se veem em
polvorosa. Afinal, é possível defini-lo ou explicar sua causa sem
recorrer às categorias religiosas?
Na verdade, qualquer intento de conceituar o amor que deixe de levar em
conta as duas dimensões essenciais do homem – corpo e alma – acaba por
menosprezar a sua real grandeza.
Combatendo uma visão dualista do homem, o Catecismo ensina que "o
espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união
deles forma uma única natureza". E o Papa Bento XVI lembra que "nem o
espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como
criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma".
A fim de mostrar às pessoas um amor baseado na visão integral do homem, o Papa emérito, no começo de sua encíclica
Deus Caritas Est, fez questão de condenar os dois erros mais
comuns nesta matéria: seja a solução hedonista, que, colocando em
evidência a busca do prazer, transforma o ente amado pura e simplesmente
em objeto; seja a solução espiritualista, que, como a heresia gnóstica,
demoniza a matéria e, por consequência, a própria sexualidade humana.
Menos comum em nossos dias, mas nem por isso menos perigosa, esta visão
da sexualidade humana tendente a demonizar o corpo chega a negar, em
últimas instâncias, a beleza e a sacralidade do Matrimônio. O escritor
C. S. Lewis, em seu Cristianismo puro e simples, recorda que
"o cristianismo exaltou o casamento mais que qualquer outra
religião e quase todos os grandes poemas e amor foram compostos por
cristãos. Se alguém disser que o sexo, em si, é algo mau, o cristianismo
refuta essa afirmativa instantaneamente."
Ao mesmo tempo, porém, fica evidente que a sexualidade humana pode se
envilecer e degradar, especialmente quando nos esquecemos desta
realidade chamada "alma". De fato, se os homens não têm alma, se são
meros animais avançados na escala evolutiva, o que se entende por amor
não passa, na verdade, dos instintos ou hormônios humanos; se não existe
nada além desta vida, o fundamento último das relações humanas não é
nada, senão o simples egoísmo e a busca desenfreada de prazer. Da
extraordinária condição humana, que o próprio Deus assumiu para nos
redimir, passamos à irracionalidade animal. Citando Bento XVI:
"O modo de exaltar o corpo, a que assistimos hoje, é enganador. O eros degradado a puro 'sexo' torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma 'coisa' que se pode comprar e vender; antes, o próprio homem torna-se mercadoria. (...) Na verdade, encontramo-nos diante duma degradação do corpo humano, que deixa de estar integrado no conjunto da liberdade da nossa existência, deixa de ser expressão viva da totalidade do nosso ser, acabando como que relegado para o campo puramente biológico."01
São baldados os esforços de alguns cientistas ateus para definir o
"amor" recorrendo ao "campo puramente biológico". Afinal, por mais que
queiram construir um homem a seu modo, um homem simplesmente material,
sem perspectiva de eternidade e refém de uma vida sem sentido, o homem é
o que é:
imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Encíclica Deus Caritas Est, n. 5
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