Padre Anderosn Alves
Segundo as declarações[i] de alguns organizadores dos atuais protestos no Brasil, podemos perceber que as manifestações estão sendo organizadas por grupos de profunda inspiração marxista, que julgam que o atual governo não é tão radical como deveria ser[ii].
Por
isso, pretendem mudar todo o sistema, aproveitando-se de pessoas de boa
vontade, que justamente querem mudanças na vida social. Assim,
pessoas bem intencionadas são usadas por grupos radicais que analisam a
realidade de modo dialético e que, no fundo, pretendem uma revolução
violenta, popular e nada democrática.
Algo
de semelhante ocorre em diversos países do mundo. Como esses grupos
radicais não ganham suficientes votos, pretendem impor suas ideias por
meio da força de alguns “heróis” e pela manipulação emotiva das grandes
massas.
Sendo
assim, agem transmitindo a ideia de que farão uma manifestação
pacífica, incitando os sentimentos e a boa vontade de muitos.
Atraem muita gente que realmente se manifesta de modo pacífico; porém,
em certo momento, acabam utilizando métodos violentos para sofrer uma
justa resposta das ordens de segurança e se apresentarem como vítimas do Estado repressor. O
objetivo é desestabilizar os governos e todos os partidos políticos,
através da manipulação popular. Depois das manifestações passam a ideia
de que a violência não era intencional, mas que foram pessoas
“infiltradas” que a promoveram.
Em
síntese, no atual momento devemos ter espírito crítico para averiguar
se os violentos são “aproveitadores” e “infiltrados” nas manifestações,
ou se são os seus mesmos organizadores, que se aproveitam do apoio
popular para justificar assim suas ideias e métodos revolucionários.
De
qualquer modo, sobre as manifestações populares, pode-se dizer que em
todos os países democráticos existem e deve ser protegido o direito de
se manifestar nas ruas: seja por meio de passeatas, seja por meio de
greves. Mas isso deve ser feito com ordem. Na prática significa:
1) As manifestações públicas devem ser programadas e devem contar com a autorização do poder público.
Devem ser em dia, hora e local determinados. A polícia deve estar
presente para garantir o direito das pessoas se manifestarem, sem serem
agredidas. Evidentemente, a polícia também não pode ser agredida e os
bens públicos ou privados não devem ser destruídos ou danificados; para
se construir um País melhor não é necessário destruir o que temos agora;
2) As
manifestações não podem paralisar cidades inteiras, porque os que tem o
direito de protestar devem respeitar o direito de quem não quer
participar.
O direito de protestar não pode negar a ninguém o direito de ir e vir,
por exemplo. Avenidas públicas importantes não podem ser totalmente
fechadas. Não pode ser impedida a circulação de ambulâncias, da polícia,
dos bombeiros ou de quem simplesmente não quer participar nos
protestos. Por isso, o ideal é que esses atos ocorram nos domingos ou
feriados;
3)
As greves devem ser justas e, na medida do possível, criativas, sem
causar graves danos às empresas ou ao País. Na Itália, por exemplo,
recentemente um grupo de pedreiros fez uma greve trabalhando um dia na
reforma de praças públicas. Assim demonstravam que não falta trabalho e
que os trabalhadores devem ser valorizados.
Por fim, as manifestações devem ter objetivos concretos e realizáveis. Reivindicar tudo significa o mesmo que reivindicar nada, pois se tudo é direito, nada é direito. Em
palavras mais sábias e claras: “Os direitos individuais, desvinculados
de um quadro de deveres que lhes confira um sentido completo,
enlouquecem e alimentam uma espiral de exigências praticamente ilimitada
e sem critérios. A exasperação dos direitos desemboca no esquecimento
dos deveres. Estes delimitam os direitos porque remetem para o quadro
antropológico e ético cuja verdade é o âmbito onde os mesmos se inserem
e, deste modo, não descambam no arbítrio. Por este motivo, os deveres
reforçam os direitos e propõem a sua defesa e promoção como um
compromisso a assumir ao serviço do bem. (…) A partilha dos deveres
recíprocos mobiliza muito mais do que a mera reivindicação de direitos”
(Papa Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 43).
[i] Cfr. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1296139-ativista-do-movimento-passe-livre-diz-que-nao-negocia-trajeto-de-manifestacao.shtml
[ii]
O “Movimento Passe Livre” que está organizando grandes manifestações em
São Paulo tem seu estatuto publicado na internet. Dizem explicitamente
que a “via parlamentar não deve ser o sustentáculo do MPL, ao contrário,
a força deve vir das ruas”. Afirmam que têr como “perspectiva a
mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte
coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização,
colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população”.
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