Tradicionalmente, a Igreja Católica sempre alertou os seus fiéis para se prepararem para o momento da morte. O Catecismo da Igreja Católica em seu número 1014 diz claramente que:
"A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte (Livrai-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista: antiga ladainha de todos os santos), a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós "na hora de nossa morte" (oração da Ave-Maria) e a entregar-nos a S. José, padroeiro da boa morte:
Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesse de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranquila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?
Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal."
Ora, ser colhido por uma morte inesperada é, talvez, a pior desgraça que pode acontecer a um cristão.
Então, como deve ser a preparação para uma boa morte? Ela passa
necessariamente por uma boa vida. E o contrário também pode ser assim
explicado: para se viver bem é preciso preparar-se bem para a morte. É o
que os santos, como São Roberto Belarmino e Santo Afonso Maria de
Ligório ensinaram ao longo dos séculos. Esses santos especificamente,
escreveram grandes obras que até os dias atuais auxiliam os cristãos.
No livro "O homem e a eternidade", o Padre Garrigou-Lagrange descreve
a morte e recorda que o homem não deve ser colhido por ela, mas deve
esperá-la e estar preparado. Embora haja uma aversão natural ao
pensamento sobre a morte, o pecador, por causa disso, vive a
fugir do simples pensamento sobre ela, porém o homem temente a Deus,
virtuosamente, deveria pensar a respeito da morte várias vezes ao longo
do dia.
Os existencialistas, de forma ateia, pagã, exortam o homem a ir
autenticamente para a morte. Ora, essa é a postura da Igreja desde há
muitos séculos: o homem deve caminhar em direção à morte com seus
próprios pés. Isso não quer dizer que ele deva causar a sua morte, é
óbvio, mas é preciso ter consciência da iminência da morte.
Apesar disso, a Igreja é bastante
razoável em relação à morte, ela compreende que é preciso um respeitoso
temor diante da morte, primeiro por causa dos pecados cometidos
cotidianamente e dos quais é necessário pedir perdão a Deus, segundo
porque, mesmo salvos, talvez seja forçoso pagar alguma pena no
Purgatório, o qual, embora seja um lugar de grande esperança, não deixa
de ser também de grande sofrimento e de punição.
Diante desse temor reverente diante da morte, o que deve animar a cada fiel é uma fé viva. Esperar a vida eterna, uma vida desfrutada ao lado da Santíssima Trindade, com a Virgem Maria e com os Santos.
A fé viva é a primeira virtude que deve brotar no coração de cada
indivíduo, além disso, é importante também uma caridade incendida, que
cresce no dia a dia, à medida em que se aproxima mais de Deus.
Fé e Caridade são duas virtudes que precisam ser cultivadas e que
acabam por tornar mais firme a terceira virtude, a Esperança que, diante
da morte, se mostra fundamental. O Pe. Garrigou-Lagrange usa uma
expressão interessante para descrever a virtude da Esperança. Ele diz
que se trata de uma "certeza tendencial", ou seja, de uma tendência que
impele a pessoa a jogar-se nos braços de Deus. A Igreja dá indulgência
plenária para as pessoas que, no momento da morte, renovam os atos de
Fé, Esperança e Caridade e também para aquelas que, no derradeiro
momento, trazem aos lábios os nomes de Jesus e de Maria.
A preparação para a morte é algo muito sério, conforme visto,
por isso, é uma falta de fé e um erro grave, esconder dos doentes a
gravidade de sua doença e a proximidade da morte. Constitui um ato de
verdadeira caridade avisar as pessoas que a morte está próxima para que
elas possam se preparar. Por isso, é injustificável não falar
para os pacientes internados nas UTIs, desenganados, qual é realmente o
seu estado de saúde, impedindo-os de se prepararem para a apresentação
diante do juízo de Deus, pedindo o perdão de seus pecados.
Nesse sentido, o Pe. Garrigou-Lagrange dá um conselho bastante
prático: combinar com um parente, um amigo para ser avisado da gravidade
da doença e da iminência da morte. Trata-se de um verdadeiro ato de
caridade.
Uma outra sugestão preciosa do Pe. Garrigou é a do exercício de viver
a Santa Missa, na aproximação da morte, as mesmas realidades nela
vividas, ou seja, adoração, reparação, súplica e ação de graças. Diante
da morte: adoração, colocar-se diante de Deus, autor da vida,
inclinar-se completamente em direção à vontade Dele e adorá-Lo. Em
seguida, a reparação, pois é possível que, na morte, a pessoa viva
alguma dor, agonia, angústia e assim, oferecer esses sentimentos como
reparação das próprias culpas e dos pecados. Depois, a súplica, pedindo a
Deus perdão dos próprios pecados, clamando pela misericórdia e
compaixão. Finalmente, a ação de graças, por todas as maravilhas e dons
recebidos de Nosso Senhor ao longo da vida.
Assim, morte e Eucaristia são duas realidades que estão próximas uma
da outra, pois a morte de Cristo é celebrada na Eucaristia. No momento
da consagração na Santa Missa, tem-se novamente a morte sacramental de
Jesus Cristo, pois o seu sangue está separado de sua carne, de forma
incruenta.
Finalmente, o Padre Garrigou-Lagrange sugere a repetição frequente de uma oração de São Pio X, que diz:
"Senhor, seja qual for o gênero de morte que Vos apraz reservar-me, aceito-a desde já, com todo coração e boa vontade, aceito-a de vossas mãos, com todas as suas angústias, penas e dores."
De maneira teológica, é sabido que a morte não foi desejada por Deus
inicialmente, mas, por causa do pecado dos primeiros pais, ela entrou no
mundo. Por ter entrado no mundo pela desobediência do homem - e não por
um projeto de Deus -, ela revestiu-se de um caráter medicinal, ou seja,
é um remédio penal, uma punição que, para o homem, serve de remédio.
A morte ensina ao homem o quanto é passageira esta vida, a como não
deve apegar-se a si mesmo nem aos bens materiais. E mais, ensina o homem
a colocar os seus tesouros no céu. "Onde está o seu coração? Aí está o
seu tesouro" (conf. Lc 12, 34)
A devoção a São José é muitíssimo recomendada, pois é chamado o
"Padroeiro da Boa Morte", uma vez que morreu assistido pela Virgem
Santíssima e por Jesus, a situação ideal almejada por todos. São José, rogai por nós.
Pe. Paulo Ricardo
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