segunda-feira, 10 de junho de 2013

COMO DEVEMOS NOS PREPARAR PARA A MORTE?

 

Tradicionalmente, a Igreja Católica sempre alertou os seus fiéis para se prepararem para o momento da morte. O Catecismo da Igreja Católica em seu número 1014 diz claramente que:
"A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte (Livrai-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista: antiga ladainha de todos os santos), a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós "na hora de nossa morte" (oração da Ave-Maria) e a entregar-nos a S. José, padroeiro da boa morte:
Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesse de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranquila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?
Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal."
Ora, ser colhido por uma morte inesperada é, talvez, a pior desgraça que pode acontecer a um cristão. Então, como deve ser a preparação para uma boa morte? Ela passa necessariamente por uma boa vida. E o contrário também pode ser assim explicado: para se viver bem é preciso preparar-se bem para a morte. É o que os santos, como São Roberto Belarmino e Santo Afonso Maria de Ligório ensinaram ao longo dos séculos. Esses santos especificamente, escreveram grandes obras que até os dias atuais auxiliam os cristãos.
No livro "O homem e a eternidade", o Padre Garrigou-Lagrange descreve a morte e recorda que o homem não deve ser colhido por ela, mas deve esperá-la e estar preparado. Embora haja uma aversão natural ao pensamento sobre a morte, o pecador, por causa disso, vive a fugir do simples pensamento sobre ela, porém o homem temente a Deus, virtuosamente, deveria pensar a respeito da morte várias vezes ao longo do dia.
 
Os existencialistas, de forma ateia, pagã, exortam o homem a ir autenticamente para a morte. Ora, essa é a postura da Igreja desde há muitos séculos: o homem deve caminhar em direção à morte com seus próprios pés. Isso não quer dizer que ele deva causar a sua morte, é óbvio, mas é preciso ter consciência da iminência da morte.
Apesar disso, a Igreja é bastante razoável em relação à morte, ela compreende que é preciso um respeitoso temor diante da morte, primeiro por causa dos pecados cometidos cotidianamente e dos quais é necessário pedir perdão a Deus, segundo porque, mesmo salvos, talvez seja forçoso pagar alguma pena no Purgatório, o qual, embora seja um lugar de grande esperança, não deixa de ser também de grande sofrimento e de punição.

Diante desse temor reverente diante da morte, o que deve animar a cada fiel é uma fé viva. Esperar a vida eterna, uma vida desfrutada ao lado da Santíssima Trindade, com a Virgem Maria e com os Santos. A fé viva é a primeira virtude que deve brotar no coração de cada indivíduo, além disso, é importante também uma caridade incendida, que cresce no dia a dia, à medida em que se aproxima mais de Deus.
Fé e Caridade são duas virtudes que precisam ser cultivadas e que acabam por tornar mais firme a terceira virtude, a Esperança que, diante da morte, se mostra fundamental. O Pe. Garrigou-Lagrange usa uma expressão interessante para descrever a virtude da Esperança. Ele diz que se trata de uma "certeza tendencial", ou seja, de uma tendência que impele a pessoa a jogar-se nos braços de Deus. A Igreja dá indulgência plenária para as pessoas que, no momento da morte, renovam os atos de Fé, Esperança e Caridade e também para aquelas que, no derradeiro momento, trazem aos lábios os nomes de Jesus e de Maria.

A preparação para a morte é algo muito sério, conforme visto, por isso, é uma falta de fé e um erro grave, esconder dos doentes a gravidade de sua doença e a proximidade da morte. Constitui um ato de verdadeira caridade avisar as pessoas que a morte está próxima para que elas possam se preparar. Por isso, é injustificável não falar para os pacientes internados nas UTIs, desenganados, qual é realmente o seu estado de saúde, impedindo-os de se prepararem para a apresentação diante do juízo de Deus, pedindo o perdão de seus pecados.
Nesse sentido, o Pe. Garrigou-Lagrange dá um conselho bastante prático: combinar com um parente, um amigo para ser avisado da gravidade da doença e da iminência da morte. Trata-se de um verdadeiro ato de caridade.

Uma outra sugestão preciosa do Pe. Garrigou é a do exercício de viver a Santa Missa, na aproximação da morte, as mesmas realidades nela vividas, ou seja, adoração, reparação, súplica e ação de graças. Diante da morte: adoração, colocar-se diante de Deus, autor da vida, inclinar-se completamente em direção à vontade Dele e adorá-Lo. Em seguida, a reparação, pois é possível que, na morte, a pessoa viva alguma dor, agonia, angústia e assim, oferecer esses sentimentos como reparação das próprias culpas e dos pecados. Depois, a súplica, pedindo a Deus perdão dos próprios pecados, clamando pela misericórdia e compaixão. Finalmente, a ação de graças, por todas as maravilhas e dons recebidos de Nosso Senhor ao longo da vida.
Assim, morte e Eucaristia são duas realidades que estão próximas uma da outra, pois a morte de Cristo é celebrada na Eucaristia. No momento da consagração na Santa Missa, tem-se novamente a morte sacramental de Jesus Cristo, pois o seu sangue está separado de sua carne, de forma incruenta.
Finalmente, o Padre Garrigou-Lagrange sugere a repetição frequente de uma oração de São Pio X, que diz:
"Senhor, seja qual for o gênero de morte que Vos apraz reservar-me, aceito-a desde já, com todo coração e boa vontade, aceito-a de vossas mãos, com todas as suas angústias, penas e dores."
De maneira teológica, é sabido que a morte não foi desejada por Deus inicialmente, mas, por causa do pecado dos primeiros pais, ela entrou no mundo. Por ter entrado no mundo pela desobediência do homem - e não por um projeto de Deus -, ela revestiu-se de um caráter medicinal, ou seja, é um remédio penal, uma punição que, para o homem, serve de remédio.
A morte ensina ao homem o quanto é passageira esta vida, a como não deve apegar-se a si mesmo nem aos bens materiais. E mais, ensina o homem a colocar os seus tesouros no céu. "Onde está o seu coração? Aí está o seu tesouro" (conf. Lc 12, 34)
A devoção a São José é muitíssimo recomendada, pois é chamado o "Padroeiro da Boa Morte", uma vez que morreu assistido pela Virgem Santíssima e por Jesus, a situação ideal almejada por todos. São José, rogai por nós.




Pe. Paulo Ricardo

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