Mónica Aramayo / Redes Sociais (Reprodução)
Foto de 2018 viralizou nesta semana: o que pode ser dito a respeito de mais este caso?
Viralizou
nos últimos dias uma fotografia de 18 de outubro de 2018, registrada
logo antes de uma tempestade em San Salvador de Jujuy, na Argentina. O sucesso da foto tirada por Mónica Aramayo se deve ao fato de que as nuvens e a luz do sol parecem formar uma silhueta de Jesus Cristo, comparada por muitos usuários de redes sociais com a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
Mónica declarou ao site argentino Todojujuy.com que havia tirado várias fotos naquele fim de tarde, mas que, na hora, não havia notado a imagem que agora descreve como “um presente da natureza“:
“O que me impressionou foi o raio de sol que entrava no meio das nuvens, como se fosse começar uma tempestade”.
Ela garante que a foto não sofreu edição alguma e acrescentou que a
imagem lhe foi pedida para ser examinada por um cientista italiano “que se dedica a estudar imagens religiosas e que aparecem nas nuvens, árvores, pedras e outros meios“.
Como é frequente em episódios semelhantes, não faltaram internautas descrevendo a imagem como “milagrosa”.
Mas é um “milagre”?
Não. Não se pode falar tecnicamente em milagre
quando existem explicações científicas plausíveis para um acontecimento.
É muito comum que elementos da natureza apresentem formas curiosas e
inspiradoras, inclusive recordando pessoas. Pode acontecer não só com as
nuvens, mas também com flores, com a disposição dos ramos de uma
árvore, com os contornos de uma montanha, com as curvas de um rio
fotografado do alto… Existe um termo científico para definir o fenômeno
pelo qual desenhos abstratos nos dão a impressão de formas reais: pareidolia (do grego para-, semelhante a, e eidolon, imagem, figura).
O
uso do termo “milagre” é bastante popular e comum diante de fenômenos
que parecem sobrenaturais: na grande maioria dos casos, o uso dessa
palavra é bem intencionado, mas precipitado e equivocado como termo
técnico.
Milagres são fenômenos cientificamente
inexplicáveis, que contradizem as regras da natureza conforme as
conhecemos. Os casos em questão, no entanto, são perfeitamente
explicáveis pela ciência.
Para que algum fenômeno possa ser oficialmente declarado como de
caráter sobrenatural, são necessários criteriosos e detalhados estudos. A
Igreja católica segue critérios científicos bastante rígidos para
afirmar algum milagre. Os milagres de cura, por exemplo, chegam a
demorar décadas até serem reconhecidos. Os fatos precisam ser
cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na
maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas
públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria
Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de
especialistas em teologia. Aliás, você pode conhecer um pouco mais
sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja
clicando no seguinte artigo sobre os 7 critérios para se declararem
milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes:
Então é um sinal?
Entendendo-se por “sinal” aquilo que contém um “significado”,
certamente não há erro em dizer que são sinais naturais – ou seja, estão
“previstos” na ordem natural das coisas e, por mais que pareçam
inusitados ao nosso olhar, significam primariamente a própria existência
dessa ordem natural. E isto já é grandiosamente instigante: existe uma
ordem natural em vez de mero acaso.
De fato, não é apenas o sobrenatural que pode nos impactar: a
natureza mesma, incluindo a nossa capacidade natural de admirar o belo,
também tem muito a nos “dizer”, dado que o fascínio da natureza, em si
mesmo, já nos remete a uma das perguntas-chave da filosofia e da
ciência: qual é a origem de tudo isso?
Mesmo um acontecimento tranquilamente explicável pela ordem natural
das coisas pode servir como “gatilho” para reflexões importantes.
O cristão acredita que Deus nos fala através de sinais, sejam
naturais, sejam sobrenaturais, e que Ele sempre deixa à liberdade de
consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os
próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma
“prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência
de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais (que,
aliás, cientificamente falando, não são válidos como provas).
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero
acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido
sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre,
testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.
“Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos” (Salmo 18, 2)
Redação da Aleteia | Maio 20, 2019
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