Muitas
pessoas me perguntam se Nossa Senhora e os Santos são oniscientes; e
como é que eles recebem todos os nossos pedidos de intercessão ao mesmo
tempo. Como conseguem isto?
A resposta é fácil de explicar e difícil de entender. Mas vamos lá.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que a
Igreja católica nunca teve dúvida da real intercessão dos Anjos, dos
Santos e da Virgem Maria a nosso favor diante de Deus. Numa das Orações
Eucarísticas o sacerdote reza aos santos “que na presença de Deus não
cessam de interceder por nós”. Desde os primeiros séculos, nas
catacumbas, os cristãos celebravam a santa Missa sobre o túmulo dos
mártires do império romano, para pedir-lhes a intercessão.
Já
no Antigo Testamento encontramos a intercessão dos santos. Em 2Mac15,
11ss, vemos Judas Macabeus narrar algo interessante: “Eis o que vira:
Onias [já falecido], que foi sumo sacerdote, homem nobre e bom, modesto
em seu aspecto, de caráter ameno, distinto em sua linguagem e exercitado
desde menino na prática de todas as virtudes, com as mãos levantadas,
orava por todo o povo judeu. Em seguida havia aparecido do mesmo modo um
homem com os cabelos todos brancos, de aparência muito venerável, e
cercado por uma admirável e magnífica majestade. Então, tomando a
palavra, disse-lhe Onias: “Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza
muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”. E
Jeremias, estendendo a mão, entregou a Judas uma espada de ouro, e, ao
dar-lha, disse:Toma esta santa espada que Deus te concede e com a qual
esmagarás os inimigos”.
São Jerônimo (340-420), doutor da
Igreja, disse: “Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua
carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar
pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias
e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil
homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos
poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas
orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio
[naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e
não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu
intermédio, creram no Evangelho?” (Adv. Vigil. 6) Santo Hilário de
Poitiers (310-367), bispo e doutor da Igreja afirma que: “Aos que
fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não
lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos”.
São Cirilo de Jerusalém (315-386): bispo de Jerusalém e doutor da
Igreja confirma que: “Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de
nós: Patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires; para que Deus, por sua
intercessão e orações, se digne receber as nossas”.
Mas como os Santos e Anjos ficam sabendo de nossos pedidos? É claro
que eles não são oniscientes; somente Deus sabe tudo. A resposta é:
através de Deus. Uma vez que eles estão em comunhão com Deus, participam
de sua natureza divina, podem através de Deus conhecer nossos pedidos.
Mal comparando é com se Deus funcionasse como uma fantástica “central de
informações” a todos eles. Por causa dos méritos dos santos Deus ouve
as suas preces em nosso favor.
É preciso entender que no Além, tudo muda; não podemos mais
raciocinar com nossas categorias humanas deste mundo. Não há mais tempo e
nem espaço, que criam os obstáculos de locomoção, passado, futuro, etc.
A vida em Deus é completamente diferente da realidade deste mundo. O
corpo de Jesus ressuscitado atravessava as paredes do Cenáculo sem
rasgá-las!… A Física pode nos ajudar a compreender um pouco a
relatividade da vida no Além em comparação com nossa vida terrena; não
que a Física possa explicar a eternidade.
Na Teoria Restrita da Relatividade, o
físico Albert Einstein, que ganhou o Premio Nobel pela descoberta do
efeito foto-elétrico, mostrou que mesmo neste mundo toda a realidade
física é relativa, especialmente o tempo, o espaço e a massa. Por
exemplo, vejamos o que foi chamado de “Paradoxo dos gêmeos”: Imagine
dois gêmeos de 20 anos cada um. Vamos supor que um deles fique na Terra,
e o outro parta para uma viagem imaginária, com uma velocidade de 99%
da velocidade da luz, até a estrela Arcturus, que fica a 40 Anos – Luz
da Terra (uma distância percorrida em 40 anos com a velocidade da luz –
300.000 Km/s). Einstein mostrou que quando o viajante retornar, ele
teria 69,4 anos de idade, enquanto que o que ficou na Terra teria 100,8
anos; isto é, o tempo para o viajante passou muito mais devagar. Se o
gêmeo viajante pudesse viajar com velocidade igual 100% a da luz, o
tempo para ele não passaria mais, e ele voltaria com a mesma idade que
partiu. Estaria fora do tempo!… Isto explica a eternidade? Não, pois
Einstein mostrou também que um corpo não consegue atingir 100% da
velocidade da luz, já que a sua massa cresceria infinitamente.
Um
outro exemplo desta Teoria é este: uma régua de 100 centímetros, quando
medida em repouso; teria apenas 80 centímetros se fosse medida estando a
uma velocidade de 60% da velocidade da luz. Se fosse medida com uma
velocidade igual 100% a da luz (o que é impossível) teria comprimento
zero; não ocuparia mais espaço!…
Com esses exemplos eu não quero afirmar
que a Física possa explicar a vida no Além; não, ela é muito mais
complexa e misteriosa. Quero apenas mostrar que, se já neste mundo, as
coisas são relativas, muito mais o são não eternidade, que “ouvidos
jamais ouviram, olhos humanos jamais viram e coração humano jamais
sentiu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Cor 2, 9).
Os Santos, mesmo sem serem oniscientes, recebem, através de Deus os nossos pedidos, e nos atendem. Não perca esta graça!
Prof. Felipe Aquino
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