A Igreja nos ensina, com Santo Agostinho, que Maria sempre foi Virgem: “antes do parto, no parto e depois do parto”.
Desde os primórdios a Igreja confessou
que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no
seio da Virgem Maria; Jesus foi concebido “do Espírito Santo, sem
sêmen”.
“Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria,
sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que
ela concebeu por virtude do Espírito Santo”.
“Enquanto assim pensava, eis que um anjo
do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não
temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do
Espírito Santo” (Mt 1, 18-20).
Para os Padres da Igreja a conceição
virginal era o “sinal” de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que
assumiu a nossa humanidade. Santo Inácio de Antioquia (†107), já dizia:
“Estais firmemente convencidos acerca de
Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne,
Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, verdadeiramente
nascido de uma virgem (…), ele foi verdadeiramente pregado, na sua
carne, (à cruz) por nossa salvação sob Pôncio Pilatos (…), ele sofreu
verdadeiramente, como também ressuscitou verdadeiramente” (Esmirnenses,
I-II).
“O
príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da
mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se
realizaram no silêncio de Deus” (Ef 19.1).
O anjo disse a São José que “o que foi
gerado nela vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). É o cumprimento da
promessa divina dada pelo profeta Isaías: “Eis que a virgem conceberá e
dará à luz um filho” (Is 7,14).
E Maria permaneceu Virgem também durante
e após o parto de Jesus; foi um parto milagroso que não se pode
entender pela biologia. Diz o nosso Catecismo: “O aprofundamento de sua
fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e
perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com
efeito, o nascimento de Cristo “não lhe diminuiu, mas sagrou a
integridade virginal” de sua mãe. “Aeiparthenos” “sempre virgem” (§499).
São Tomás de Aquino apresenta magistralmente as razões da virgindade de Maria:
“Convinha que aquele que é Filho único
de Deus (…), fosse virginalmente concebido ao se fazer carne; para que a
natureza humana do Salvador fosse isenta do pecado original, ficava bem
que não fosse formado como de ordinário pela via seminal, mas pela
concepção virginal; nascendo segundo a carne de uma virgem, Cristo
mostrava que seus membros deviam nascer segundo o espírito dessa Virgem,
sua esposa espiritual, que é a Igreja. O nascimento virginal é de todo
conveniente, pois o Verbo que é eternamente concebido e procede do Pai
sem nenhuma corrupção deve, se ele se faz carne, nascer de uma mãe
virgem, conservando-lhe sua virgindade; Aquele que vem para retirar toda
a corrupção não deve, ao nascer, destruir a virgindade daquela que lhe
deu à luz” (TM, pp. 28-29).
A Virgindade Perpétua de Maria foi proclamada em 649 no Concílio Regional de Latrão, que disse:
“Se alguém, segundo os Santos Padres,
não confessa que própria e verdadeiramente é Mãe de Deus a santa e
sempre Virgem e Imaculada Maria, já que concebeu nos últimos tempos sem
sêmen, do Espírito Santo, o próprio Deus-Verbo (…), e que deu à luz sem
corrupção, permanecendo a sua virgindade indissolúvel mesmo depois do
parto, seja anátema” (DS 255,649).
O Papa Paulo IV, em 07/08/1555, apresentou a Perpétua Virgindade de Maria entre os temas fundamentais da fé. Assim se expressou:
“A Bem-aventurada Virgem Maria foi
verdadeira Mãe de Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do
parto, no parto e constantemente depois do parto”.
Toda a Tradição cristã e até
mesmo os reformadores protestantes, como Lutero e João Calvino,
professaram a virgindade de Maria. Em 1537, em seus “Artigos da Doutrina
Cristã”, é o próprio Lutero quem diz:
“O Filho de Deus fez-se homem, de modo a
ser concebido do Espírito Santo sem o concurso de varão e a nascer de
Maria pura, santa e sempre virgem”.
Em 1542, João Calvino publicou o “Catecismo da Igreja de Genebra”, onde se lê:
“O Filho de Deus foi formado no seio da
Virgem Maria (…). Isto aconteceu por ação milagrosa do Espírito Santo
sem consórcio de varão”.
Santo Agostinho afirma que:
“Cristo nasceu com efeito da Mãe que
embora sem contato com varão concebeu intacta, e sempre intacta
permaneceu, concebeu virgem, dando à luz virgem, virgem morrendo, embora
fosse desposada com o carpinteiro, extinguiu todo orgulho da nobreza
carnal”.
E ainda: “Uma virgem concebe, virgem leva o fruto, uma virgem dá à luz e permanece perpetuamente virgem”.
Os Santos Padres não se cansavam de exaltar a virgindade de Maria:
“Virgem que gerou a Luz, sem ficar com
nenhum sinal, como outrora a sarça (de Moisés) que ardia em fogo sem se
consumir” (Santo Efrém).
“Virgem ainda mais pura depois do parto” (Santo Epifânio).
“Virgem que permaneceu Virgem, mesmo sendo verdadeiramente mãe” (São João Crisóstomo).
“Virgem que deu à luz e, enquanto dava à luz, duplicava a virgindade” (São Gregório Magno) (MM, p. 28).
São Leão Magno (†460), doutor da
Igreja e Papa, em seus Sermões sobre o Natal e a Epifania, explica uma
das razões da virgindade de Maria:
“Não transparece uma razão profunda no
fato de Cristo ter querido nascer de uma Virgem? Seria a de ocultar ao
demônio que a salvação nascera para os homens, a fim de que, ignorando a
geração espiritual, não julgasse que havia nascido de modo diferente
aquele que via semelhante aos outros. Notando que sua natureza era igual
à de todos, supunha que sua origem fosse a mesma; e não percebeu que
estava livre dos laços do pecado aquele que não encontrou isento da
fraqueza dos mortais (…). Foi assim iludida a sagacidade do inimigo, que
em segurança supunha que o nascimento do menino gerado para a salvação
do gênero humano estivesse sob seu domínio como os outros (…).
Conhecendo o veneno com que corrompera a natureza humana, jamais julgou
isento do pecado original aquele que, por tantos indícios, supunha ser
um mortal” (SNE, p. 34).
Santo Irineu, opondo Maria a Eva diz:
“Como por uma virgem desobediente foi o
homem ferido, caiu e morreu, assim também, por meio de uma Virgem
obediente à Palavra de Deus, o homem recobrou a vida. Era justo e
necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, e que Eva fosse
restaurada em Maria, a fim de que uma Virgem, feita advogada de uma
virgem, apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência
de uma virgem” (VtMM, p. 44).
Embora incompreensível para nossa
inteligência, o parto virginal de Maria é uma verdade de fé que devemos
acolher em virtude da “obediência da fé” (Rm 1,5). Só quem está disposto
a crer que “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37), pode acolher com
devoção e gratidão as verdades místicas do Filho eterno de Deus e da sua
concepção e nascimentos virginais.
São Cirilo de Alexandria dizia que assim
como a luz atravessa de um lado para outro a vidraça sem quebrar-lhe,
da mesma forma o Verbo pôde entrar e sair do ventre de sua Mãe sem lhe
rasgar as paredes.
Sobre
os “irmãos e irmãs de Jesus”, a Igreja sempre entendeu que essas
passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e
José, “irmãos de Jesus” (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria
discípula de Cristo que significativamente é designada como “a outra
Maria” (Mt 28,1).
Tratam-se de parentes próximos de Jesus, conforme uma expressão conhecida do Antigo Testamento.
A Virgem Maria não teve outros filhos;
em nenhum lugar dos Evangelhos se pode encontrar alguém chamado de
“filho de Maria”, a não ser Jesus. Aos pés da Cruz de Jesus estava
apenas João e sua Mãe, por isso Ele a confiou à Sua Mãe.
Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a
maternidade espiritual de Maria, ensina a Igreja, estende-se a todos os
homens que Ele veio salvar: Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez “o
primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8,29).
Prof Felipe Aquino.
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