Conheça
um pouco do testemunho do ex-pastor presbiteriano, Dr. Scott Hahn, em
seu primeiro “encontro” com Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Com toda a minha piedade
recém-descoberta, eu tinha ainda quinze anos e era muito consciente da
minha “tranquilidade”. Havia apenas alguns meses, eu tinha deixado para
trás vários anos de culpa juvenil e aceitado Jesus como meu Senhor e
Salvador. Meus pais, que não eram particularmente presbiterianos
devotos, notaram em mim uma mudança e, de coração, me aprovaram. Se a
religião fosse para me manter fora daquela culpa juvenil, então que
assim fosse.
O zelo pela minha nova fé me consumia a
maior parte do tempo. No entanto, num dia de primavera, eu estava
consciente de que algo mais me inquietava. Tive um problema estomacal
com todos os desagradáveis sintomas. Expliquei minha situação para o meu
professor na sala de aula, que me mandou para a enfermaria da escola. A
enfermeira, depois de verificar minha temperatura, me pediu para
deitar, enquanto ligava para minha mãe.
A partir da conversa que ouvi, eu
poderia dizer que iria para casa. Senti um alívio imediato e cochilei.
Acordei com um som que me golpeou como uma navalha. Era a voz da minha
mãe, que estava cheia de piedade materna.
“Ah”, ela me disse quando me viu ali.
Então,
de repente, me ocorreu: Minha mãe vai me levar pra casa. O que vão
pensar meus colegas ao verem minha mãe saindo comigo daqui? E se ela
tentar colocar seu braço sobre mim? Serei motivo de chacota…
A humilhação estava a caminho. Eu já podia ouvir os caras zombando de mim: “Você viu a mãe dele enxugando sua testa?”
Se eu fosse católico, sentiria, nos
quinze minutos seguintes, o meu purgatório. Para minha imaginação
evangélica, porém, o inferno. Então, olhei fixo para o teto, acima do
sofá da enfermeira, e tudo o que eu podia ver era um longo e
insuportável futuro como “o filhinho da mamãe”.
Sentei-me para enfrentar aquela mulher
se aproximando de mim com a máxima piedade. Na verdade, foi a piedade
dela que eu achei mais repugnante; afinal, dentro da compaixão de toda
mãe, está a necessidade do seu “pequeno” – e aquela forma de carência e
pequenez, definitivamente, não era legal.
“Mãe”, sussurrei antes que ela pudesse
dizer uma palavra. “Você não poderia sair daqui antes de mim? Não quero
que meus colegas vejam você me levando pra casa”.
Minha mãe não disse uma palavra. Deu
meia-volta, saiu da enfermaria e da escola, direto para o carro. De lá,
me levou para casa, perguntou-me como eu me sentia e se certificou de
que eu fosse para cama com os remédios habituais.
Foi por um triz, mas eu tinha a certeza de ter escapado com tranquilidade. Fui me deitar numa quase perfeita paz.
Naquela noite eu pensei sobre a minha
“calma” novamente. Meu pai foi até meu quarto para ver como eu estava me
sentindo. “Bem”, respondi. Então, ele me olhou seriamente.
“Scottie”, disse ele, “sua religião não
significará muito se tudo não passar de simples palavras. Você tem que
pensar sobre a maneira como trata as outras pessoas”. E aí, veio o
“puxão de orelha”: “Nunca se envergonhe de ser visto com sua mãe”.
Eu não precisava de explicações; podia
ver que papai estava certo, e tive vergonha de mim mesmo por ter me
envergonhado de minha mãe.
Adolescentes espirituais
No entanto, não é assim com muitos cristãos? Morrendo pregado à cruz,
em seu último testamento e sua última vontade, Jesus nos deixou uma
mãe. “Quando Jesus viu Sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que Ele
amava, disse a Sua mãe: ‘Mulher, eis aí o seu filho!’. Depois disse ao
discípulo: ‘Eis aí tua mãe!’. E dessa hora em diante, o discípulo a
recebeu em sua casa” (Jo 19,26-27).
Nós somos Seus discípulos amados, Seus irmãos mais novos (ver Hb
2,12). Sua casa celeste é a nossa, Seu Pai é nosso e Sua mãe é nossa.
Quantos cristãos, porém, a estão recebendo em suas casas?
Além disso, quantas igrejas cristãs
estão cumprindo a profecia do Novo Testamento de que “todas as gerações”
a chamarão “Bem-aventurada” (Lc 1,48)? Muitos ministros protestantes – e
aqui eu falo da minha própria experiência passada – evitam até mesmo
mencionar a mãe de Jesus, por medo de serem acusados de “católicos
ocultos”. Às vezes, os membros mais zelosos de suas congregações têm
sido influenciados por polêmicas anticatólicas incômodas. Para eles, a
devoção mariana é uma idolatria que coloca Maria entre Deus e o homem ou
que exalta Maria à custa de Jesus. Assim, por vezes, você vai encontrar
igrejas protestantes nomeadas como de São Paulo, São Pedro, São Tiago,
ou São João, mas dificilmente chamada de Santa Maria. Você vai encontrar
frequentemente pastores pregando sobre Abraão ou Davi, antepassados
distantes de Jesus, mas praticamente nunca ouvirá um sermão sobre Maria,
Sua mãe. Longe de chamá-la de Bem-aventurada, a maioria das gerações
protestantes vivem a vida sem nunca a chamar em nada…
Esse não é somente um problema protestante. Muitos católicos e
ortodoxos têm abandonado a rica herança das devoções marianas. Foram
intimidados pelas polêmicas dos fundamentalistas, envergonhados pelo
riso de teólogos dissidentes, ou se envergonharam até de boa intenção,
mas estão equivocados na sensibilidade ecumênica. Eles estão felizes por
terem uma mãe que reza por eles, prepara suas refeições e mantém suas
casas; mas somente desejam que ela fique, com certeza, fora de vista,
quando outros estiverem ao redor, pois simplesmente não os entenderiam.
Maria, Maria, muito pelo contrário
Eu também me sinto culpado por essa
filial negligência não só com a minha mãe terrena, mas também com minha
mãe em Jesus Cristo, a Bem-aventurada Virgem Maria. O caminho da minha
conversão me levou para o ministério presbiteriano. Ao longo dessa
caminhada, tive meus momentos antimarianos a partir de uma culpa
juvenil.
Meu primeiro encontro com a devoção
mariana veio quando minha avó faleceu. Ela era a única católica dos dois
lados da minha família, uma calma, humilde e santa alma. Como eu era o
único praticamente de uma religião na família, meu pai me deu os artigos
religiosos de minha avó quando de seu falecimento. De repente, eu olhei
para aquilo horrorizado. Segurei seu rosário entre minhas mãos e, à
parte, arrebentei-o, dizendo: “Deus, liberte-a das correntes do
catolicismo que a prendiam”. Eu quis dizer isso mesmo. Eu via o Rosário e
a Virgem Maria como obstáculos que se colocavam entre minha avó e Jesus
Cristo.
Mesmo quando lentamente fui me
aproximando da fé Católica – atraído inexoravelmente por uma verdade
após outra da doutrina –, eu não poderia aceitar para mim mesmo os
ensinamentos da Igreja sobre Maria.
A
prova de sua maternidade viria para mim somente quando tomei a decisão
de me deixar ser seu filho. Apesar de todos os poderosos escrúpulos da
minha formação Protestante – lembre-se, havia poucos anos, eu dilacerara
as contas do terço de minha avó –, eu mesmo, um dia, peguei o terço e
comecei a rezar. Rezei numa intenção bem específica, praticamente
impossível de ser atendida. No dia seguinte, peguei o terço e rezei de
novo, e no outro dia também, e no outro, e no outro… Meses se passaram
antes de eu perceber que minha intenção, uma situação praticamente
impossível, tinha sido revertida desde o primeiro dia em que peguei no
rosário e comecei a rezar. O meu pedido tinha sido atendido.
A partir desse momento, eu conheci minha
mãe. A partir desse momento, acreditei, realmente conheci a minha casa
na aliança da família de Deus: sim, Cristo era meu irmão. Sim, Ele me
ensinara a rezar o “Pai-Nosso”. Agora, no meu coração, eu aceitava a Sua
ordem para “receber” a minha mãe.
Você pode saber um pouco mais sobre
esta linda história no livro “SALVE, SANTA RAINHA”. Além disso neste
livro, com base nas escrituras e fundações históricas, Hahn apresenta um
novo olhar na doutrina Mariana: Sua Concepção Imaculada, Virgindade
Perpétua, Assunção e Coroação. Ele guia os leitores modernos através
destas passagens cheias de mistérios e poesia, e os ajuda a redescobrir a
arte antiga e a ciência da leitura das Escrituras para se adquirir um
entendimento mais profundo das veracidades e a relação da fé com a
prática da religião no mundo contemporâneo. Vale a pena conhecer este
livro!
Retirado do livro: “Salve, Santa Rainha”. Scott Hahn. Ed. Cléofas.
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