Para ser a Mãe do Salvador, a Virgem Maria “foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função” (LG, 56)
Pela graça de Deus ela permaneceu pura
de todo pecado (original e pessoal) ao longo de toda a sua vida (cf. CIC
§493). O Catecismo da Igreja ensina que:
“Desde toda a eternidade, Deus escolheu,
para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de
Nazaré na Galileia, “uma virgem desposada com um varão chamado José, da
casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 26-27)” (§488).
E o Concílio Vaticano II disse:
“Quis o Pai das misericórdias que a
Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a
ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a
morte, uma mulher também contribuísse para a vida” (LG, 56; 61).
Maria concebeu Jesus por obra do Espírito Santo, na “obediência da fé”, certa de que “nada é impossível a Deus”:
“Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Assim, Maria se tornou Mãe de Jesus.
Santo Irineu (†202), disse que:
“Maria obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano”.
“O nó da desobediência de Eva foi
desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela
incredulidade a virgem Maria desligou pela fé” (Ad. haer. 3,22,4).
“Veio a morte por Eva e a vida por Maria” (LG, 56).
O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Por
ter sido escolhida para ser a Mãe do Verbo humanado, a Virgem Maria foi
concebida sem o pecado original. A Mãe do Filho de Deus não poderia ter
pecado algum. Ela é a mulher saudada pelo Anjo como “a cheia de graça”
(gratia plena); nela tudo é graça.
Os Padres da Igreja chamam a Mãe de Deus
“a toda santa” (“Pan-hagia”), celebram-na como “imune de toda mancha de
pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma
nova criatura” (LG, 56). “Bendita és tu entre as mulheres (…)” (Lc
1,42). O Concílio de Trento confessou:
“Foi ela que, primeiro e de uma forma
única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo:
ela foi preservada de toda mancha do pecado original e durante toda a
vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma
espécie de pecado” (DS 1573).
É de notar que em 1476 a festa da
Imaculada foi incluída no Calendário Romano. Em 1570, o Papa Pio V
publicou o novo Ofício e, em 1708, o Papa Clemente XI estendeu a festa a
toda a Cristandade tornando-a obrigatória.
Em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora
apareceu a Santa Catarina Labouré, na Capela das filhas da Caridade de
São Vicente de Paulo, em Paris, e lhe pediu para mandar cunhar e
propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com esta
inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a
vós”.
O Papa Pio IX na Bula “Ineffabilis
Deus”, de 8 de Dezembro de 1854, pronunciou solenemente como dogma a
verdade que a Igreja tomou conhecimento ao longo dos séculos: Maria,
“cumulada de graça” por Deus, foi redimida desde a concepção.
Disse o Papa:
“Declaramos, pronunciamos e definimos
que a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro
instante de sua conceição, foi por singular graça e privilégio de Deus
onipotente em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero
humano, preservada imune de toda mancha de culpa original, foi revelada
por Deus, portanto, deve ser firme e constantemente acreditada por todos
os fiéis” (DS, 2803).
É fundamental entender que esta
santidade absolutamente única da qual Maria é enriquecida desde o
primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo:
“Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime” (LG, 53).
Mais do que qualquer outra pessoa
criada, o Pai a “abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos
céus, em Cristo” (Ef 1,3). Ele a “escolheu Nele (Cristo), desde antes da
fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor”
(Ef 1,4) (cf. CIC §492).
Isto significa que Maria também foi
salva pelos méritos de Cristo, mas de maneira diferente de nós. Enquanto
nós fomos feridos pelo pecado original, e depois livres dele pelo
Batismo, a Virgem Maria foi preservada do pecado (como que vacinada).
Assim, todos fomos salvos do pecado por
Cristo. O fato dele ter nascido depois da Mãe, não o impede de tê-la
salvo, pois para Deus o tempo não é um limitador como para nós; Ele é o
Senhor do tempo.
É muito significativo que quatro anos
depois que o Papa Pio IX proclamou o dogma, Nossa Senhora se revelou a
Santa Bernadete Soubirous, na Gruta de Lourdes desta forma: “Eu sou a
Imaculada Conceição”. Bernadete, pobre menina camponesa, não sabia o que
aquilo significava, mas toda a Igreja já conhecia a proclamação do
dogma. Maria veio a terra confirmar a verdade e infalibilidade do Papa.
São Bernardino de Sena, falecido em 1444, diz a Maria:
“Antes de toda criatura fostes, ó
Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem – Deus. Se não por
outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era
necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha” (GM, p. 210).
E pergunta Santo Anselmo, bispo e doutor da Igreja (†1109):
“Deus, que pode conceder a Eva a graça
de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?”.
“A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar
numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e
fosse a maior imaginável abaixo de Deus” (idem, p. 212).
Santo Agostinho de Hipona, bispo e doutor da Igreja (†430), disse:
“Nem se deve tocar na palavra “pecado”
em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a
Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça” (ibidem, p. 215).
Pergunta São Cirilo de Alexandria (370-442), bispo e doutor da Igreja:
“Que arquiteto, erguendo uma casa de
moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e
habitasse?”(GM, p. 216). Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo
tocasse Naquela em que Ele seria gerado homem”.
Afirma Santo Afonso de Ligório (†1787), doutor da Igreja:
“Se conveio ao Pai preservar Maria do
pecado, porque Lhe era Filha, e ao Filho porque Lhe era Mãe, está visto
que o mesmo se há de dizer do Espírito Santo, de quem era a Virgem
Esposa” (GM, p. 218).
O DOGMA DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA
Os evangelistas chamam Maria de “a Mãe
de Jesus” (Jo 2,1;19,25). Movida pelo Espírito Santo, antes do
nascimento de seu Filho, Santa Isabel a chama de “a Mãe de meu Senhor”.
“Donde me vem que a mãe de meu Senhor me
visite?” (Lc1,43). Sabemos que os judeus só usavam a expressão
“Senhor”para Iahweh. A Igreja confessou no Concilio de Éfeso (431), que
Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos). Maria é verdadeiramente
“Mãe de Deus” visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é
Ele mesmo Deus.
É lógico que não foi Maria quem gerou o
Verbo eterno no seio do Pai; Ele é gerado desde toda a eternidade; mas, a
partir do momento que Ela lhe dá um corpo humano, passou a ser sua Mãe
de verdade. Mãe do Verbo humanado.
Por isso, rezamos com muita fé: “Santa
Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores (…)”. Porque nos dá Jesus,
seu Filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os
nossos cuidados e pedidos. Uma das mais belas orações da Liturgia das
Horas, uma antífona mariana, diz: “Ó tu que geraste, diante da admiração
da Natureza, o Santo que te gerou”.
São Cirilo de Alexandria (370-442), doutor da Igreja, presente no Concilio de Éfeso, havia replicado a Nestório:
“Dir-se-á: a Virgem é a mãe da
divindade? Ao que responderemos: o Verbo vivo subsiste, é gerado pela
própria substância de Deus Pai, existe desde toda a eternidade(…). Mas
ele se encarnou no tempo e por isso pode-se dizer que nasceu da mulher”
(USD, pp. 7-8).
Falando da maternidade divina de Maria, assim se expressa São Pedro Damião (1007-1072), bispo e doutor da Igreja:
“Esta matéria extraordinária nos tira
até a capacidade de falar. Que língua poderá explicar, que inteligência
não ficaria parada de espanto se começasse a pensar que o “Criador nasce
da criatura, o artesão vem de seu artefato, que o seio de uma jovem
virgem tenha gerado Aquele que pode conter todo o universo?” E ainda: “Ó
Virgem admiravelmente fecunda que, num novo e inédito milagre, recolhe
no seio Aquele que é sem medida, gera o eterno e dá à luz o que foi
gerado antes dos séculos”” (VtMM, p. 36).
O Papa São Pio X, na encíclica Ad diem illum, de 2 de fevereiro de 1904, fala admiravelmente da maternidade divina de Maria:
“À Virgem Santíssima não somente coube a
glória de haver ministrado a substância de sua carne ao Unigênito do
Eterno, que devia nascer homem, hóstia excelentemente preparada para a
salvação dos homens; mas igualmente teve a missão de zelar e conservar
esta hóstia e, ao tempo devido, apresentá-la ao sacrifício”.
Maria exclama no Magnificat: “Todas as
gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1,48). É preciso notar que a
palavra “proclamar” quer dizer: “anunciar em público e em voz alta”.
Isto porque é Mãe de Deus.
Santo Agostinho disse algo muito importante:
“Enquanto Cristo é gerado pelo Pai, Deus
de Deus, não é sacerdote: Ele o é em razão da carne que assumiu, em
razão da vítima que oferece e recebeu de nós” (TM, p. 33).
Portanto, se Maria é a Mãe bendita de
Deus, o que então lhe será impossível? O que poderia o melhor Filho
negar à sua Mãe? Portanto, com presteza, confiança e perseverança,
aproximemo-nos desta Santa Mãe para lhe pedir a sua intercessão como nas
Bodas de Caná.
O grande Santo Anselmo (†1109), disse a Maria:
“Vosso
Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, vos concederá, ó Mãe, tudo o que vós
quiserdes: Ele está sempre disposto a vos ouvir. Basta que queiras nossa
salvação” (MM, p. 45).
São Leonardo (1676-1751), o
santo da Via-Sacra e da Imaculada Conceição, falando das graças que
recebeu da Santa Mãe de Deus dizia:
“Quando penso nas graças que tenho
recebido de Deus pela intercessão de Maria Santíssima, comparo-me com
uma dessas igrejas onde se venera qualquer imagem milagrosa e cujas
paredes estão cobertas de ex-votos com as palavras: “Graça recebida de
Maria”. Sim, tal é exatamente minha condição; não encontro nada em mim
em que não possa escrever: “Graça recebida de Maria”. Os bons
pensamentos que saem de meus lábios, a boa vontade que sinto, os
piedosos sentimentos do coração que me animam: “São graças recebidas de
Maria”. A força que possuo, o divino emprego que exerço, o hábito
religioso que envergo: “São graças recebidas de Maria”. Lede na fronte,
lede em meu coração, lede em minha alma; não vede vós lá escrito:
“Graças recebidas de Maria Santíssima?”” (VtMM, p. 229).
Prof. Felipe Aquino
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