Maria
é chamada de a Porta do Céu, pois foi através dela que Nosso Senhor
passou do céu à terra. Ezequiel, profetizando sobre Maria diz: O Senhor
disse-me: Este pórtico ficará fechado. Ninguém o abrirá, ninguém aí
passará, porque o Senhor Deus de Israel, aí passou; ele permanecerá
fechado. O príncipe, entretanto, enquanto tal, poderá aí assentar-se
para tomar sua refeição diante do Senhor.
Agora
isso está cumprido. Não apenas por Nosso Senhor vir de sua carne e ser
seu Filho, mas, além disso, por ela ter tido um lugar na economia da
Redenção; está cumprido em seu espírito e vontade, bem como em seu
corpo. Eva teve uma parte na Queda do homem, embora fosse Adão nosso
representante, cujo pecado nos fez pecadores. Foi Eva quem tudo iniciou
ao tentar Adão. A Escritura diz: A mulher, vendo que o fruto da árvore
era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a
inteligência, tomou dele, comeu e o apresentou também ao seu marido, que
comeu igualmente. Convinha, em seguida, pela misericórdia de Deus, que
como a mulher iniciou a destruição do mundo, assim também a mulher
deveria iniciar sua recuperação. Como Eva abriu o caminho para o ato
fatal do primeiro Adão, assim Maria deveria abrir o caminho para a
grande realização do segundo Adão, justamente Nosso Senhor Jesus Cristo,
que veio para salvar o mundo, morrendo na cruz por ele. Por isso, Maria
é chamada pelos Santos Padres uma segunda e melhor Eva, por ter dado o
primeiro passo para a salvação da humanidade, a qual Eva levou à ruína.
Como
e quando Maria tomou parte, e a parte inicial, na restauração do mundo?
Foi quando o anjo Gabriel veio a ela anunciar a grande honra que lhe
cabia como sua parte. São Paulo nos exorta: oferecerdes vossos corpos em
sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Não devemos apenas rezar com
nossos lábios, rapidamente, e fazer penitências exteriores e sermos
castos, mas devemos ser obedientes e puros em nossas mentes.
E assim, no que diz respeito à Santíssima Virgem, era o desejo de
Deus que ela aceitasse, voluntariamente e com pleno entendimento, ser a
Mãe de Nosso Senhor, não sendo um mero instrumento passivo, cuja
maternidade não teria nenhum mérito e nenhuma recompensa. Quanto maiores
nossos dons, mais árduos nossos deveres. Não era um destino fácil estar
tão intimamente próximo do Redentor dos homens, como foi vivenciado
mais tarde, quando ela padeceu com Ele. Portanto, ponderando bem as
palavras do anjo, antes de dar-lhe sua resposta, primeiro ela pergunta
se tão grande serviço implicaria na perda daquela Virgindade, sobre a
qual ela tinha feito seus votos. Quando o anjo lhe respondeu que não,
então, com pleno consentimento de um coração cheio, cheio do amor de
Deus para com ela, e por sua própria humildade, ela disse, Eis aqui a
serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E foi por essa
aceitação que ela se tornou “A Porta do Céu”.
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