Jonathan Emmanuel Flores Tarello-CC
Não importa o que alcancemos na vida, existe uma insatisfação generalizada acometendo a humanidade
Inicialmente
pensei ser uma coisa pontual. Algo comigo e os comigos em mim, que me
sugava as forças e a vontade de sair da cama. Algum tipo de depressão
que me assolava e me permitia caminhar em passos lentos e forçados para
não perder a direção.
Estamos todos atarefados, abarrotados, faltando horas nos dias para
cumprir com os compromissos, vendo o tempo passar mais depressa. Mas o
tempo é o tempo e ele sempre passou na mesma velocidade, nos mesmos
sessenta segundos por minuto sem acelerar um milésimo sequer.
Nós temos uma vida mais rica, com mais cultura, mais tecnologia
(tecnologia que nos poupa tempo, inclusive), mais opções de lazer, mais
acesso a viagens, mais conectividade, mais possibilidades e
oportunidades… e menos tempo.
Que contrassenso! Diz o ditado que menos é mais e, no que me diz
respeito aos tempos atuais, mais tem se tornado menos. Bem menos!
Eu ouço as gerações anteriores em suas conversas nostálgicas dentro
do ônibus coletivo, relembrando como as coisas eram melhores
antigamente, naquele tempo em que, insatisfeitos, queríamos mais. E mais
é o que tempo agora. O mais que nos deixa sempre com menos.
Estamos cheios de estar vazios. Não importa o que alcancemos na vida,
existe uma insatisfação generalizada acometendo a humanidade. Pensei
ser sinal do consumismo, do materialismo desenfreado, individualismo e
outros ismos que tanto nos enchem, mas não nos preenchem.
O que foi que aconteceu conosco? O que está acontecendo com nossos dias?
Pensei ser eu a adoecer nesse mundo caótico em que nos encontramos,
mas estamos todos padecendo do mesmo mal, cada um à sua maneira.
Há quem diga que isso é porque nos afastamos de Deus, porque deixamos
de crer, orar e ter fé e estamos apenas preocupados conosco. Há quem
diga que são sinais do fim dos tempos.
E sobre isso, eu digo que a falta de fé e de uma crença deixa mesmo
um grande vazio em nós. É como naufragar em um oceano sem boia, sem
terra à vista, sem um barco salva-vidas. Você até pode saber nadar, mas
não terá resistência para fazer isso sozinho por muito tempo. Nós
precisamos de ajuda.
Há quem diga que o amor entre as pessoas esfriou e que hoje em dia
não podemos confiar em mais ninguém. E andando assim, armados, vamos nos
defendendo dos ataques, sim, mas também impedindo que coisas boas
aproximem-se de nós.
O que está acontecendo conosco? O que houve com nossos dias? Por que temos tanto e, ainda assim, nos sentimos tão vazios, tão cansados, tão exauridos e seguimos em passos forçados, lentos e trôpegos?
O que está acontecendo conosco? O que houve com nossos dias? Por que temos tanto e, ainda assim, nos sentimos tão vazios, tão cansados, tão exauridos e seguimos em passos forçados, lentos e trôpegos?
Por que as férias não recarregam nossas energias? Por que o barulho
dos filhos saudáveis brincando pela casa nos tira a paciência? Por que
suprimimos tantos “eu te amo”, os deixamos subentendidos, adiamos
telefonemas, visitas, preferimos conhecer uma cidade nova a rever nossos
pais? Por quê?
Eu não sei… Mas sei de mim e que estou cheia de estar vazia. Que
assim como a maioria das pessoas, tenho orgulho das minhas conquistas,
das minhas vitórias, das lições dos erros e derrotas, tenho prazer no
trabalho, nos resultados das minhas mãos, preciso da remuneração que vem
do trabalho que faço e me sinto honrada em poder me suster e aos que
dependem de mim. Mesmo assim, no final do dia, sinto-me cansada. É como
se estivesse vivendo uma semana em um dia.
Estou relutando contra os antidepressivos, os relaxantes, os
calmantes. Quero me bastar e sair disso sozinha. “Às vezes a gente
precisa de uma ajuda”, já ouvi diversas vezes. Mas não quero uma ajuda
química, que maqueie meu estado de espírito e me dê uma sobrevida.
Quero buscar minha lucidez dentro de mim, lá no fundo da gaveta
abarrotada de afazeres e falsos prazeres da minha vida, onde depositei
as brincadeiras da infância e as substituí por um Smartphone. Onde as
séries do Netflix ganharam mais importância do que uma conversa sentada à
beira da mesa na cozinha.
Quero desligar a TV, o rádio, abraçar meu amor e ficar conversando
até levar um susto quando ouvir “já dormiu?”. Vou fingir que estou
acordada e tentar lembrar da última frase que ouvi. Vou fingir que não
ouvi uma respiração ressonante enquanto eu falava sobre um assunto
qualquer e vou abraçá-lo e adormecer sendo grata por tudo.
Quero beijar meus filhos depois de pegarem no sono e dizer baixinho
nos seus ouvidos “te amo, dorme com Deus”. E pensar em como é bom poder
fazer isso…
Quero menos… Bem menos… Quando todo esse menos era mais e
displicentemente fomos buscando cada vez mais coisas em nossas vidas,
para mais tarde constatar que mais é menos. Bem menos.
É… Eu também estou cheia de estar vazia. E se tendo tanto, de
repente, me sinto com tão pouco, só pude deduzir que o muito que tenho
não é o que de fato vale a pena. O mundo precisa mudar, mas o que é o
seu mundo, senão esse metro quadrado que te cerca?
E se depois de perceber que estamos cheios de estar vazios,
começássemos a mudar esse nosso mundo? Será que tudo o mais não mudaria,
paulatinamente, também?
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