O CASO DA LIDERANÇA SURDA.
O
modelo de líder que busca aceitação consensual de sua equipe ou de seu
projeto, que se julga dono da verdade e que se fecha ao mundo, está em
declínio.
Por Rosângela Florczak
Jornalista e professora
A derrota do Brasil na Copa
de 2014 oferece lições que transcendem o mundo dos estádios e da
indústria do futebol. Torna evidente o fim de um modelo de liderança que
prevaleceu de forma hegemônica e marcou a Era Industrial e a
modernidade nas mais diversas áreas da vida humana. O líder autoritário
que defende seu grupo ou seu projeto de forma fechada e surda ao mundo
que o cerca já não tem lugar na sociedade complexa, marcada pela
conversação e por diálogos permanentes.
Na torre de babel comunicacional em que vivemos hoje, ouvir e dialogar se tornaram imperativos da liderança.
O líder efetivo está atento ao mundo que o cerca e, a despeito de
trabalhar para manter fortes os vínculos do grupo/equipe que representa e
comanda, estabelece as conexões com a realidade e promove a
interlocução do seu grupo com o mundo.
Não é efetivo e
inteligente levantar os muros e separar a vida de um grupo ou de uma
organização da realidade que a cerca. A comissão técnica da CBF
(Confederação Brasileira de Futebol), que liderou o time brasileiro na
Copa do Mundo, mostrou-se permanentemente surda à torcida, à intuição do
povo e ao olhar aprofundado dos especialistas que alertavam para o
desempenho de jogadores, para as estratégias questionáveis e para a
imaturidade emocional.
A expressão dura do técnico e de toda a equipe nos momentos em que conversar
com o mundo era obrigatório, como nas coletivas de imprensa,
evidenciava que ouvir, falar, conversar, interagir eram obrigações
protocolares, contratuais, e não sinais de abertura e interesse em
ouvir. O desconforto e a agressividade chamavam a atenção e tomavam o
lugar da alegria da conversa dialógica, do bom humor, da atenção e da
gentileza recíproca.
O modelo de líder que
busca aceitação consensual de sua equipe ou de seu projeto, que se julga
dono da verdade e que se fecha ao mundo que o cerca, surdo e incapaz de
dialogar, está em declínio vertiginoso e acaba sendo obrigado a ouvir
as vaias.
No final das contas, mesmo com a triste derrota da
Seleção Brasileira na Copa 2014, temos uma lição importante que fica
para todos os líderes e organizações. Ouvir é imprescindível, falar é
necessário. É preciso aprender a dialogar.
(ZH Blogs)
Nenhum comentário:
Postar um comentário