Leitura do Livro do Profeta Jeremias.
1Isto disse-me o Senhor: “Vai comprar um cinto de linho e põe-no em torno da cintura, mas não o deixes molhar na água”. 2Comprei o cinto, conforme a ordem do Senhor, e coloquei-o à cintura. 3E a palavra do Senhor dirigiu-me a mim pela segunda vez, dizendo: 4”Toma o cinto que compraste e tens à cintura, levanta-te e vai ao Eufrates, esconde-o lá na fenda de uma pedra”. 5Fui e o escondi perto do Eufrates, conforme mandara o Senhor. 6Ora, ao cabo de muitos dias, disse-me o Senhor: “Levanta-te, vai ao Eufrates, e retira de lá o cinto que te mandei esconder”. 7Fui
ao Eufrates, cavei e retirei o cinto do lugar onde o tinha escondido;
mas eis que o cinto tinha apodrecido tanto que não servia mais para
nada. 8E a palavra do Senhor dirigiu-se a mim, dizendo: 9”Isto diz o Senhor: assim farei apodrecer a grande soberba de Judá e de Jerusalém; 10este
povo perverso, que se recusa a ouvir minhas palavras, convive com a
maldade no coração, e vai atrás de deuses estrangeiros, prestando-lhes
culto e prostrando-se diante deles será como este cinto que não serve
mais para nada. 11Pois assim como o cinto se une à
cintura do homem, assim quis eu que toda a casa de Israel e toda a casa
de Judá se unissem a mim, diz o Senhor, para ser meu povo, honra do meu
nome, louvor e glória. Mas não ouviram”.
Responsório (Dt 32,18-19.20.21)
— Esqueceram o Deus que os gerou.
— Esqueceram o Deus que os gerou.
—
Da Rocha que te deu à luz te esqueceste, do Deus que te gerou não te
lembraste. Vendo isto, o Senhor os desprezou, aborrecido com seus filhos
e suas filhas.
— E disse: Esconderei deles meu
rosto e verei, então, o fim que eles terão, pois, tornaram-se um povo
pervertido, são filhos que não têm fidelidade.
—
Com deuses falsos provocaram minha ira, com ídolos vazios me irritaram;
vou provocá-los por aqueles que nem povo são, através de gente louca hei
de irritá-los.
Evangelho (Mt 13,31-35)
Naquele tempo, 31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora
ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que
as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e
fazem ninhos em seus ramos”. 33Jesus contou-lhes ainda
uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como fermento que uma mulher
pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique
fermentado”. 34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para
se cumprir o que foi dito pelo profeta: ‘Abrirei a boca para falar em
parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo’.
Reflexão
Mais uma vez Jesus recorre ao uso das parábolas, definidas como história terrestre, possível de acontecer, com sentido celestial. Em várias delas o mestre ora usa os verbos no passado, ora no presente e ora ainda no futuro mas em todos os casos com a mesma finalidade: falar ao fundo do nosso ser, alheios ao que ocorre na superfície da nossa vida ou no fluir dos acontecimentos que nos rodeiam. Dirigidas quer aos eruditos quer aos ignorantes; quer aos modernos quer aos antiquados. As parábolas desafiam a ordem estabelecida, as estruturas sociais e os sistemas de contra valores. Desmascaram a vida injusta cotidiana. São um espelho. Através delas, o ouvinte vê a si próprio como é, e não como pretende ser. Elas forçam o ouvinte a reavaliar as pautas do próprio comportamento, pensamento e emoções. Sacodem-nos, induzindo-nos a reformar-nos e a renovar-nos. Tiram-nos do engano a respeito de nós mesmos e da falta de verdadeiros propósitos. Dizem-nos o que se deve e o que não se deve aceitar. Manifestam a fidelidade definitiva de Deus que é amor e, como tal, resposta para todos os conflitos humanos.
Hoje Mateus nos apresenta duas parábolas
que fazem parte do conjunto de sete presentes no capítulo 13 de seu Evangelho.
A intenção fundamental de Jesus é
salientar a presença pouco percebida do Reino de Deus no mundo, porém real,
efetiva e em processo de crescimento. O grão de mostarda semeado e o fermento
na massa são expressões do Reino de Deus, realmente presente no mundo, na sua
dimensão de humildade e simplicidade. Não como afirmação de poder, com
ostentações de construções, rituais ou roupagens, mas pela transformação dos
corações e das relações pessoais, no amor e na justiça, fundamentos do mundo
novo querido pelo Pai. Em chocante contraste, vemos o país mais rico e poderoso
do mundo que fala em nome da civilização cristã, contudo se destaca pela
idolatria do dinheiro e por sua capacidade destrutiva. Jesus nos desperta para
percebermos a presença do Reino nas multidões dos filhos de Deus, empobrecidos
e excluídos, nas suas adversidades e privações, mas também em suas alegrias e
esperanças, onde o amor, como um fermento na massa, está presente.
Fazendo um resumo diríamos que as duas parábolas
são elaboradas a partir de imagens do ambiente familiar: um homem em seu campo
e uma mulher em sua casa preparando o pão. Na primeira parábola são
relativizadas as esperanças messiânicas de Israel como poderoso centro das
nações, tomando-se como referência o pequeno grão de mostarda plantado por um
camponês. E na segunda, com a mulher que coloca o discreto fermento na massa de
farinha, levedando-a, temos o fermento do amor, que se diferencia do fermento
da hipocrisia dos fariseus, sobre o qual Jesus adverte seus discípulos (Lc
12,1).
Portanto, em ambas, revela-se o Reino de
Deus, realmente presente no mundo, na sua dimensão de humildade e simplicidade.
Não como afirmação de poder, mas pela transformação dos corações e das relações
pessoais, no amor e na justiça, fundamentos da nova sociedade possível.
Pai, livra-me de desprezar os pequeninos e declará-los. Livra-me, também, do perigo de me subestimar. Faze-me compreender que o Reino se constrói pela ação dos pequenos.
CN
Nenhum comentário:
Postar um comentário