Em procissão vamos receber a
Eucaristia.
Há duas formas de recebê-la, todas duas profundamente
significativas, expressam a nossa fé.
O título deste despretensioso artigo
causará impacto nos leitores, uma vez que todo fiel sabe muito bem como
comungar, entrando em comunhão com Jesus Cristo: Caminho, Verdade e
Vida.
Lendo o sexto capítulo do 4º evangelho
ficamos impressionados com as palavras de Jesus, afirmando ser Ele mesmo
o verdadeiro Maná, descido do céu que se entrega a nós como alimento
para nos comunicar a sua Própria Vida, Vida Eterna.
No decorrer dos tempos a Igreja não cessou
de celebrar o Mistério Eucarístico e de recomendar aos seus fiéis que
busquem na comunhão sacramental aquela força do alto para, na caridade,
edificar a comunidade. É direito do batizado, que não sofra algum
impedimento, receber a Sagrada Comunhão (CDC 912). É dever de todo fiel,
ao menos uma vez por ano, por ocasião do tempo pascal, receber Jesus
Sacramentado, após a devida reconciliação com Deus e a Igreja mediante o
sacramento da penitência.
Agora vejamos: como comungar? – A maneira
como nos acercamos da Eucaristia e a recebemos – lembremo-nos que não
estamos a receber uma coisa, um pedacinho de pão – é clara demonstração
de nossa fé. Dois profundos sentimentos invadem nosso coração.
O
primeiro é o de nossa profunda indignidade. Qual criatura, por mais
santa que seja, é merecedora de receber o Senhor, nosso Deus?
O segundo é
o sentimento de alegria e gratidão, uma vez que o próprio Deus quis se
entregar a nós, como alimento, para nos comunicar sua Vida, nutrindo-nos
como a filhos queridos. Famintos, estendemos nossas mãos ao Senhor –
“Como os olhos dos escravos olham para a mão de sua senhora” – e abrimos
a boca como pequeno pelicano para receber o bocado do Corpo e da Vida
do “Pio Pelicano”, Jesus Cristo. Como os cervos sedentos, aproximamo-nos
para nos abeberarmos da Fonte da Vida. Discípulos amados, recostamos
nossa cabeça no peito de Jesus, como conviva alegre a receber os bocados
do verdadeiro Maná descido do céu.
As nossas atitudes externas irão expressar nossa fé uma vez que não pode haver contradição entre a nossa fé e a nossa oração.
Em procissão vamos receber a Eucaristia.
Há duas formas de recebê-la, todas duas profundamente significativas,
expressam a nossa fé. Em ambas formas, fica bem claro o reconhecimento
de que a Eucaristia é um excelso dom que recebemos, é graça que
acolhemos e não coisa, bem de que nos apossamos. Não tomamos a
Eucaristia, mas a recebemos. Assim se exprime a Instrução Geral sobre o
Missal Romano no n.º 160 “(…) Não é permitido aos fiéis receber por si
mesmos o pão consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si.
(…).
O n.º 161 apresenta, com os negritos que
chamam mais a nossa atenção, as duas formas dizendo: “ Se a comunhão é
dada sob a espécie do pão somente, o sacerdote mostra a cada um a hóstia
um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo. Quem vai comungar
responde: Amém, recebe o Sacramento, na boca ou, onde for concedido, na
mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a santa hóstia,
consome-a inteiramente”.
Até mesmo o diácono, se por acaso a celebração
tiver a sua participação, há de receber das mãos do celebrante a
comunhão sob as duas espécies. É o que reza o n.º 182 do mesmo texto. O
n.º 244 será mais preciso, afirmando que o diácono recebe a comunhão,
numa concelebração, após os celebrantes, das mãos do celebrante
principal.
A comunhão na boca tem um belo sentido. É
expressão da mesma bondade do Pai que alimenta os seus filhos como
crianças.
Não é nada indigno sentir-se, é até mesmo um belo sentimento
próprio de filho de Deus, conforme nos ensinou Jesus o ser criança
diante dos mistérios de Deus. Não nos preparamos para receber a Jesus
balbuciando, como uma pequena criança, o nome do Pai: “Abba”? Somos como
filhotes de pelicano a receber o Corpo do Senhor.
Eu sempre gosto de
imaginar Jesus Cristo, partindo os pedaços de pão e colocando-os na boca
de seus discípulos, gesto que significa, amor profundo pelos seus.
Quanto à outra forma, recorro às
instruções de um grande catequista que viveu no século IV e foi bispo de
Jerusalém: “Ao te aproximares (da Eucaristia), não vás com as palmas
das mãos estendidas, com os dedos separados; mas faze com a mão esquerda
um trono para a direita como quem deve receber um Rei e no côncavo da
mão espalmada recebe o Corpo de Cristo, dizendo: “Amém”.
Imagino que terei causado mal estar a
muitos leitores e serei logo taxado de rubricista. Meu propósito foi
somente o de esclarecer como algumas atitudes exteriores, gestuais são
formas de expressar a nossa fé no grande Mistério que celebramos e
demonstrar amor para com o Corpo do Senhor. Nossa presença na Missa deve
ser total: corpo, coração, alma. Aquele que bem recebe a comunhão
certamente se empenhará em acolher o Espírito de Cristo que nos congrega
na Igreja, Corpo de Cristo.
Dom Paulo Francisco Machado
Nenhum comentário:
Postar um comentário