Marcado
pela alegria do primeiro dom, o cristão não pode mais recuar. Sua
sensibilidade, inteiramente inflamada, ajudou-o superar os obstáculos.
Ele vai adiante, arrastado, empurrado. É então, que Deus surge. Não mais
oculto por detrás dos outros, mas em plena luz. Pede que o recebe – e
não num canto, não. Quer todo o espaço no homem e no que o homem faz. O
cristão que O reconheceu, muitas vezes se evade pois sabe que, se Deus o
apanha, vai pedir-lhe a oferta total, sem condições e sem reserva. Sem
folga, sem descanso, o Senhor persegue o cristão para obter dele o sim
que lhe divinizara a vida.
Só compreenderá de verdade esta oração quem viveu esta “luta” com Deus.
Dolorosa
etapa: devem compreendê-la o educador, o amigo. Discreto para não
atrapalhar Deus, pois Ele acaba de tomar o peito, Ele próprio, a
formação do filho – mas presente, para esclarecer na fé. Ajudando a
identificar o Senhor, traduzindo as interrogações de amor que Ele
levanta sem cessar na vida e pela vida, desvendando Seus encontros
marcados, Suas iniciativas, Suas buscas, deve o educador animar o
cristão e ajudá-lo a dizer sim. Se este sofre é ele mesmo quem se fere
pela resistência que opõe – é preciso leva-lo a descobrir isto. Pois
sempre perde quem se atraca com Deus. Ele é mais forte, Seu amor é mais
forte.
O Anjo Gabriel entrou onde estava Maria e
lhe disse. “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Ouvindo essas
palavras ela ficou perturbada a si própria que queria dizer tal
saudação. Mas o Anjo disse: “Fica tranquila, Maria, pois encontraste
graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe
porás o nome de Jesus… Será Grande e chama-lo-ão Filho do Altíssimo… A
Deus nada é impossível!” Maria disse então: “Eu sou a escrava do Senhor.
Faça-se de mim como dissestes!” (Evangelho de Lucas, 1. 26-38).
Tenho medo Senhor, de dizer SIM.
Até onde me conduzirás?
Tenho medo de puxar a palha mais comprida,
Tenho medo de assinar ao pé de folha em branco,
Tenho medo do sim que reclama outros sim.
Entretanto, eu não me sinto em paz.
Tu me persegues, Senhor,
Tu me assedias por todos os lados.
Procuro o barulho porque receio ouvir-te,
Mas infiltra-Te num momento de silêncio.
Fujo da estrada, pois vislumbrei-Te ao longe,
Mas na saída do atalho já me esperas quando chego.
Onde esconder-me? Por toda a parte Te encontro:
Então, não é possível escapar de Ti?
…Mas, tenho medo, Senhor de dizer sim.
Medo de dar-Te a mão: na Tua mão a prendes.
Mede de encontrar Teus olhos: Tu és um sedutor.
Medo de Tua exigência: és um Deus ciumento.
Estou acuado, mas escondo-me.
Estou cativo, mas debato-me,
e combato, mesmo sabendo que já estou vencido.
Pois és mais forte, Senhor,
Possuis o Mundo e m’o roubas.
Se estendo a mão para pegar pessoas e coisas,
Desvanecem-se a meus olhos.
Não é nada engraçado, Senhor: nada posso apanhar para mim,
A flor que colho, murcha entre meus dedos.
O riso que esboço em meus lábios se enrijece.
A valsa que danço, me deixa ofegante, inquieto,
Tudo me parece vazio.
Tudo oco.
Fizeste um deserto em torno de mim.
E tenho fome,
E tenho sede,
O mundo inteiro não bastaria para me alimentar.
E, no entanto, Senhor, eu Te amava: que Te fiz eu?
Por Ti eu trabalhava por Ti eu me dava.
Ó grande Deus terrível, que hás de querer ainda?
*
Meu filho, quero mais para ti e para o mundo.
Antigamente, o que desdobravas era a tua ação – mas nada tenho a fazer com ela.
Convidavas-me a aprova-las, a sustenta-la,
Querias interessar-me em teu trabalho,
Mas, vê, Meu filho, trocavas os papéis…
Acompanhei-te com os olhos, vi tua boa vontade,
Quero mais agora, para ti.
Não é mais tua a ação que vais fazer,
Mas a vontade de teu Pai do Céu.
Dize sim, meu filho.
Preciso do teu sim,
Como precisei do sim de Maria
Para vir à terra,
Pois sou Eu quem deve estar em teu trabalho,
Sou Eu quem deve estar em tua família,
Sou Eu quem deve estar em teu bairro,
E não tu.
Pois é meu olhar que penetra e não o teu,
É minha palavra que faz efeito e não a tua,
É minha vida que transforma e não a tua.
Dá-me TUDO, abandona TUDO.
Preciso de teu sim para esposar-te e descer à terra.
Preciso de teu sim para continuar a salvação do Mundo.
*
Ó Senhor, tenho medo de tua exigência,
Mas quem Te pode resistir?
Para que venha o Teu reino e não o meu,
Para que Tua vontade seja feita e não a minha,
Ajuda-me a dizer SIM.
Retirado do livro: “Poemas para rezar”. Michel Quoist.
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