sábado, 13 de setembro de 2014

O ORGULHO.

“E preservai o vosso servo do orgulho, não domine sobre mim!” ( Salmo 18b,14)

 
Qual de nós gostaria de ser tachado de “orgulhoso”? Ninguém! No entanto, não há ninguém, ou praticamente ninguém, que não tenha nada de orgulho em sua alma. Para fazermos um exame sobre se somos ou não orgulhosos, sugiro ler o texto abaixo.
Há, sem dúvida, em todo ser humano uma tendência para as alturas, uma nobre ambição de desenvolver todas as suas potencialidades, porque o homem foi criado para Deus. A sua condição natural suspira por uma plenitude humana e espiritual à altura da sua dignidade de filho de Deus. Mas com esse desejo de crescimento mistura-se uma outra ambição, doentia, que consiste precisamente na supervalorização do próprio eu.

Este vai adquirindo uma importância tal que acaba por suplantar a própria realidade. Pouco a pouco, sem que o perceba, a pessoa vai deslocando o centro gravitacional de todas as coisas, que é Deus, para colocá-lo no centro medular da sua própria existência. Chega assim a considerar-se, na expressão de Protágoras, "homo mensura", a medida, o critério de todas as coisas: as coisas são altas ou baixas, são boas ou más na medida em que sejam altas ou baixas, boas ou más para ela; as pessoas são agradáveis ou desagradáveis, idôneas ou imprestáveis segundo tenham ou não a capacidade de integrar a máquina da sua própria felicidade. Sem reparar, vai-se tornando para si mesmo Deus e mundo. Como poderíamos reconhecer, em primeiro lugar, o amor-próprio? Sem dúvida, pelo alto conceito que fazemos de nós mesmos.

Por um estranho mecanismo de autossugestão, tendemos paulatinamente a agigantar a nossa imagem. Tiramos dela os defeitos e acrescentamos virtudes; supervalorizamos os aspectos positivos e minimizamos os negativos. Lembro-me de ter visto, num livro dedicado ao estudo da personalidade, o desenho de um mesmo rosto visto de três ângulos diferentes: o da esposa, o dos filhos e subordinados e o do próprio interessado. Não é preciso dizer que este último era o mais agradável dos três. O primeiro parecia triste, acabrunhado; o segundo duro, impositivo; o terceiro simpático, jovial, sorridente... Será que sofremos nós também dessa miopia para os nossos defeitos e dessa hipermetropia para as nossas qualidades?
Kierkegaard escrevia a um amigo estas palavras reveladoras: "A tua principal função é a de te enganares a ti próprio e parece que o consegues porque a tua máscara é das mais enigmáticas".
Essa função se realiza através de diversos expedientes, entre eles a justificação das próprias falhas. Com efeito, depois de cometermos um erro, tendemos a procurar com a imaginação as causas atenuantes ou dirimentes da nossa responsabilidade. E pensamos: — Não, não fui eu, foram as circunstâncias; foi o cansaço, o excesso de trabalho, a provocação dos outros, a sua falta de compreensão...

Não observamos com frequência esse tipo de reação? O estudante justifica diante dos pais a sua reprovação dizendo: "O professor é uma «droga»". O profissional, diante de um fracasso, alega: "No meio dessa corrupção generalizada, nenhuma pessoa honesta pode ser bem-sucedida". Os pais que não se empenharam na educação dos filhos argumentam perante os seus desvios: "O ambiente está péssimo".

Li uma vez não sei aonde um conselho de um chefe ao seu subordinado: "Tenha sempre em mente que todos erram. O problema é que a maioria nunca admite que a culpa foi sua, pelo menos se puder dar um jeito: acusam a esposa, o síndico, os filhos, o cachorro, o tempo, mas nunca a si próprios. Por isso, se você fizer uma tolice, não me venha com desculpas — vá primeiro olhar-se no espelho. E depois venha falar comigo".

O homem dispõe para cada um dos seus atos de um arsenal de motivos que lhe justificam o comportamento. A ciência da psicologia propagandística demonstrou que todos os impulsos de compra, até os mais absurdos, podem ser justificados mais tarde. Quando os homens adotam uma posição, geralmente defendem-na por amor-próprio até o último reduto. Daí deriva um tipo de teimosia bem característico: o das pessoas que não sabem retificar as suas posições ainda que os argumentos contrários pareçam objetivamente certos. Não dão, como se diz, "o braço a torcer". Quem sai lucrando com essas falsas justificativas? Somente a nossa falsa imagem. Somente o orgulho. A personalidade verdadeira fica lá no fundo, abafada, atrofiada, condenada ao raquitismo pela insinceridade (Rafael Llano Cifuente, “Egoísmo e Amor”, Ed. Quadrante, São Paulo).
Este é um sinal claro do nosso orgulho: a miopia para os nossos defeitos e a hipermetropia para as nossas qualidades. Será que isso acontece comigo?
Façamos o propósito de tirar todo o orgulho da nossa alma e seremos muito mais felizes!!!

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