quarta-feira, 10 de setembro de 2014

DEPRESSÃO: UM PROBLEMA ESPIRITUAL?

Este transtorno afeta tanto pessoas religiosas como não religiosas, mas a fé pode ajudar a enfrentá-lo de maneira muito melhor

 

Há alguns dias, li o artigo que vocês publicaram sobre a depressão. Eu sofro de depressão clínica maior e o artigo foi de grande ajuda. Tenho uma amiga que acha que isso está na mente e que, se estou assim, é por estar mal com Deus. Isso é verdade? (M. Y., pergunta enviada pelo Facebook).

Resposta do Pe. Miguel Ángel Monge, capelão da clínica da Universidade de Navarra (Espanha)

A depressão é um transtorno no qual se perde a satisfação de viver, a capacidade de agir e a esperança de recuperar o bem-estar; pode estar acompanhada de manifestações somáticas e psíquicas, e produz na pessoa inclusive diversos graus de incapacidade.

Seu processo de gestação é altamente dinâmico no tempo, porque intervêm a biologia, fatores pessoais e fatores socioambientais. Estamos diante de um transtorno psiquiátrico, que se dá tanto em pessoas profundamente religiosas como em ateus, ainda que alguns comportamentos, entre eles o afastamento voluntário de Deus (e também um estilo de vida desordenado: drogas, álcool, sexo), podem incidir negativamente no curso da doença.

É conhecido que a presença de crenças religiosas nas pessoas que sofrem de depressão tem um efeito benéfico para a saúde, já que essas vivências podem ajudar a viver uma vida mais plena, apesar dos sintomas.

Mas convém considerar que a espiritualidade precisa ser entendida, neste caso, como uma força que ajuda na cura, e não como um substituto dos cuidados médicos. O tipo de transtorno, sua origem e o jeito de ser da pessoa são os elementos que configurarão o plano de tratamento estabelecido, e também a maneira de orientar, em cada caso, a atenção espiritual.

Com os dados oferecidos pelo médico, será possível traçar um plano melhor de como agir, sabendo que a atenção espiritual não tem como objetivo a saúde psíquica do enfermo, já que este é um objetivo da medicina. Mas, como é evidente que a vida espiritual influencia a saúde, convém que se aja de acordo com o médico e na mesma direção.

A vida espiritual, então, contribui para suportar a depressão, ajudando a pessoa a compreender, por exemplo, que a doença tem um “tempo” com o qual é preciso contar: convém não se impacientar, viver cada dia submetendo-se ao plano previsto. Muitas vezes, a própria dor se atenua, inclusive se esquece, quando há “alguém” (família, trabalho etc.) a quem entregar-se.

Para melhorar, é preciso que a pessoa tente não pensar em si mesma. Que procure controlar a imaginação e não se angustiar com o futuro; viver com a esperança colocada em Deus, que é seu Pai; e buscar viver com bom humor, na medida do possível (rir de si mesmo e com os outros: sair de si mesmo). Estas circunstâncias devem levar a pessoa a estar mais perto de Deus.

Em resumo, a atenção espiritual das pessoas depressivas precisa se centrar muito no abandono nas mãos de Deus, aprofundando na misericórdia divina, ainda que não se trata de perder de vista que se parece de uma doença, e não de um mero problema ascético. Essas pessoas precisam de um médico. 

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