Muitos orantes não alcançam o objetivo primordial da prece por se
esquecerem de que uma oração que não atinja a profundidade do coração é
útil, mas superficial. É benéfica porque não deixa de ser um esforço
para entrar em contato com Deus. Pouco profunda, porque orar é falar,
mas também saber escutar o Ser Supremo. Lemos na Carta aos Hebreus: “Por
isso, como diz o Espírito Santo: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não
endureçais os vossos corações, como no lugar da exasperação, no dia da
prova no deserto, quando vossos pais me puseram à prova, numa
experiência, não obstante tivessem visto as minhas obras” (Hb 3,10).
Cumpre ouvir as mensagens divinas e colocá-las em prática.
A primeira
conseqüência desta atitude silenciosa é a purificação interior, uma vez
que, quando ocorre a introspecção, logo o fiel percebe que estar na
presença do Deus três vezes santo leva, de plano, a aborrecer todas as
distorções que possam existir lá no íntimo de si mesmo. Este
arrependimento ao qual se une a reta intenção de ser agradável em tudo a
seu Senhor possibilita a verdadeira intimidade com Ele. Como gosta de
repetir o Papa Francisco, “Deus não é uma espécie de empresa de
logística que envia mensagens o tempo todo”. O fiel precisa estar
conectado com Ele numa atitude receptiva. Dá-se, então, uma aproximação
cordial que ilumina, fortifica e renova o modo de pensar e agir. Isto
ocorre exatamente quando alguém reza com todo o seu ser. Acontece o
papel transformador da oração. Disto resulta a calma, a tranqüilidade, a
serenidade absolutas. Deus é luz que ilumina os que dele se aproximam
com um coração repleto de sinceridade e de amor. A prece do coração
consiste desta forma em encontrar o caminho que permite ao orante captar
esta luminosidade. Permite-se, desta forma, que Deus mesmo santifique
seu nome naquele que se volta para Ele. Orar outra coisa não é, de fato,
senão acolher o Pai e participar de sua vida que ele oferece pela
graça. Acolhê-lo é permitir que Ele nos comunique o Filho que passa a
possuir o seu reino na alma de quem assim reza.
O Espírito Santo ganha
espaço para produzir entre o fiel e a Trindade Santa liames
indestrutíveis. Dá-se, realmente, uma purificação fundamental, porque
todas as manchas interiores, todas as desordens, todas as
vulnerabilidades são confiadas Àquele que se torna o baluarte do
cristão. Este repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha
fortaleza” (Fl 4,13). Envolto na luz divina, abertos os olhos sobre a
realidade da fraqueza humana, se percebe ao vivo a infinita misericórdia
de Deus na qual se imerge sem restrições, sem o jogo das circunstâncias
que levam a mil distrações.
É quando o coração conhece a autêntica
liberdade. Isto porque se adquire, progressivamente, o hábito de se
voltar continuamente para Deus, sobretudo, quando assim se caminha até
Ele a partir daquilo que em cada um é obscuro, tenebroso, inquietante. O
verdadeiro orante intui o movimento do Espírito Santo nele, agindo
maravilhosamente, livrando-o da rede complexa das emoções, dotando-o c
de paciência, perseverança. O principal é estar integrado
conscientemente no dinamismo do Espírito. Trata-se de aprender a estar
vigilante aos movimentos do próprio coração de tal modo que se possa
estar unido voluntariamente à ação divina que age nos fiéis de boa
vontade. São Paulo asseverou que o Espírito Santo vem a cada um com
gemidos inexprimíveis. Sua ação, porém, normal não oferece idéias
claras, nem luz ofuscante, ou proporciona seja o que for. Ele induz,
isto sim, a estar voltado para as coisas do alto e não para as da terra.
O cristão se vê liberto, não se sente escravo do mundo, não tomba no
temor, mas se percebe, verdadeiramente, filho deste Deus que tanto o
ama. Deste modo, fica, inclusive, afastada a ousadia de se querer
controlar a Deus, fazendo-Lhe exigências descabidas. É quando o cristão
roga os favores divinos, intercede por si e pelos outros, mas
simplesmente colocando tudo nas mãos da Providência divina. Tem
inclusive a certeza de que, se o benefício almejado não for da vontade
sapientíssima do Todo-Poderoso, Ele dará algo muito melhor.
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Local:Mariana (MG)
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