Quando
Nosso Senhor nos fez a recomendação de “orar sempre”, não quis
pedir-nos que estivéssemos constantemente “em ato de oração”, mas
simplesmente que vivêssemos “em estado de oração”. É diferente.
Estar permanentemente em ato de oração,
seria passar a vida em exercícios religiosos: depois da oração, a missa;
depois da missa, o terço, depois do terço, a leitura espiritual, e
assim por diante, o que é impossível, mesmo às pessoas mais
“contemplativas”, nem deixaria tempo para as ocupações profanas –
refeições, recreio, sono, etc.
Viver em estado de oração não significa
satisfazer a essa vida impossível, mas sim que, mesmo nas ações
profanas, tudo se deve fazer com o fim de glorificar a Deus. O que se
deve procurar, durante as atividade profanas, impostas pelos deveres de
estado, não é ter atenção sempre fixa em Deus, mas intenção de tender o
mais diretamente possível para Ele. A atenção é condição necessária para
orar bem; a intenção é o melhor meio de fazer de tudo oração.
Nos meus exercícios de piedade, devo
reunir todas as minhas potencias e dirigi-las para Deus, pois está
provado que, regra geral, é preciso o concurso da inteligência para que o
coração se inflame e a vontade se determine.
Quando não se trata de exercícios religiosos, mas de qualquer
atividade de natureza profana, o que se me exige é menos pensar em Deus
do que agir por Deus. Agir por Deus é a intenção de em tudo querer a sua
glória. Se, nalgum caso, o pensar em Deus pudesse impedir-me de
realizar perfeitamente o que estou a fazer, absorvendo demasiadamente o
meu espírito, deveria esforçar-me por não pensar em Deus.
Primeiro que tudo, devo fazer o que faço, e fazê-lo bem, pondo nisso ao máximo e explicitamente expresso.
Dizer como Santo Inácio de Loyola: “Tudo
para a maior glória de Deus”, ou como Maria Antonieta de Geuser: “Pôr
menor das minhas ações tanto amor como se tivesse de ir para o
martírio”, e depois agir o melhor possível, desenvolvendo da maneira
mais livre. “Livre de tudo, excerto de Jesus Cristo”, a atividade
exigida pelos meus deveres de estado.
Se esta atividade, sabia e fortemente
despendida, me permitir de vez em quando pensar em Deus, tanto melhor!
Se não permitir, nada de inquietações; é o resultado da força das
coisas, ou da fraqueza de memoria, que já alguém definiu: “A faculdade
de esquecer”. Esqueci-me! Que pena! Isso é o que acontece com todo
mundo!…
Trecho retirado do livro: Virtudes Raras
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