A sexta-feira pode, com razão, chamar-se o dia de predilecção do Coração de Jesus.
Primeiro o amor divino escolheu de toda a eternidade este dia para
realizar a obra da Redenção. Este dia foi o grande dia do mundo, dia mil
vezes bendito, pelo qual suspiraram, durante quatro mil anos, os
patriarcas, os profetas e todos os infelizes filhos de Adão.
Jesus teve este dia ante os olhos durante mais de trinta e três anos,
pois que, desde o primeiro instante de sua existência no seio de Maria,
ele viu tudo o que lhe aconteceria na sua Paixão, e disto não cessou um
instante de ter vista clara e distinta: Dolor meus in conspectu meo semper.
Este dia foi objeto dos mais ardentes desejos do Coração divino: Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor donec perficiatur; era sua hora querida, diz S. João: Sciens Jesus quia venit hora ejus.
Neste dia, realizou-se o grande drama de amor que se chama a Paixão e a Morte na cruz do Filho de Deus feito homem.
Neste dia, a justiça e a misericórdia deram entre si o ósculo de paz: Justitia et Pax osculatoe sunt, e o mundo se reconciliou com Deus: Deus erat in Christo mundum reconcilians sibi.
Neste dia, o inferno foi vencido e a cruz tornou-se a chave do céu.
Neste dia, o Ladrão penitente foi perdoado, e todos os culpados puderam conceber a esperança de ser perdoados como ele.
Neste dia, o Coração mais amante, o Coração de Deus, confiou-nos à Mãe mais amante, à Mãe de Deus tornada nossa Mãe.
Neste dia, o Coração de Jesus, órgão de amor divino, foi traspassado, e de sua chaga saíram a Igreja e os sacramentos.
Neste dia, Jesus Cristo nos deu seu Coração aberto, como um asilo, como um tesouro, como uma fonte de todos os bens.
Há vinte séculos, este dia é como o ponto central em torno do qual
gravita o universo regenerado. Os apóstolos pregam o Homem Deus,
crucificado neste dia; os mártires se regozijam de poder misturar seu
sangue com o sangue divino derramado neste dia; as virgens se consagram
ao Esposo de sangue que lhes parece mais belo n’este dia do que em outro
qualquer: Sponsus sanguinum tu mihi es; os maiores criminosos
imploram seu perdão e o alcançam em virtude dos merecimentos deste dia. O
santo sacrifício da Missa celebra-se em mil diferentes altares para a
memória do sacrifício deste dia. Nossas cerimônias religiosas, a cruz
que domina nossos monumentos, o crucifixo que orna nossas casas, e o
sinal da cruz que chama a benção de Deus sobre nossas frontes, sobre
nossas refeições, sobre nossas principais ações, tudo recorda, tudo
canta este grande dia.
É o dia do Coração de Jesus
Se o domingo é chamado o dia do Senhor, porque num domingo é que ele
ressuscitou, pudesse com toda a verdade dizer que a sexta feira é o dia
do Coração de Jesus, porque, nesse dia seu amor manifestou-se com tal
força, que Moyses e Elias lhe chamavam, sobre o Thabor, um excesso.
Eis aqui motivos em maior número do que é preciso para obrigar os
fiéis a renderem honras particulares ao Coração de Jesus no dia de sexta
feira.
A Igreja mesma nos convida a isto; porque, assim como ela faz do
domingo um dia d’alegria, em lembrança da gloriosa ressurreição do
Salvador, assim faz da sexta feira um dia de penitência, em memória de
sua dolorosa Paixão. E como podem os fiéis lembrar-se da Paixão sem
pensar no amor que foi a causa dela, e no Coração de Jesus que era o
órgão deste amor?
Ainda mais, nós vemos na vida dos santos que a sexta feira era o dia
em que Jesus Cristo se comprazia em lhes aparecer, em fazê-los
participar dos seus padecimentos e em lhes manifestar diversos mistérios
de sua Paixão.
Quando o divino Salvador manifestava á bem-aventurada Margarida Maria
as riquezas de seu Sagrado Coração, escolhia de preferência a sexta
feira.
Ele exigiu que a festa do Sagrado Coração fosse instituída na sexta feira que segue a oitava do Corpo de Deus.
Enfim é a primeira sexta feira do mês que ele ligou as maiores graças
em favor das almas e das famílias que n’este dia comungassem.
Assim, pois, nosso interesse, nossa salvação, o reconhecimento e amor
que devemos a Jesus Cristo, tudo nos obriga a rendermos particulares
homenagens na sexta feira ao Sagrado Coração. Procuremos, então,
praticar nesse dia algum exercício particular de piedade, por exemplo, o
caminho da cruz, 5 Padre Nossos e 5 Ave Marias rezadas diante do
crucifixo, uma meditação ou leitura sobre o Sagrado Coração, etc.
Celebremos com fervor a primeira sexta feira do mês: neste dia ouçamos a
missa; aproximemos da mesa santa; consagremo-nos ao Sagrado Coração;
façamos a protestação para a boa morte; assistamos à benção do
Santíssimo; e desde a véspera preparemos nossa alma para receber as
bênçãos do divino Coração pelo piedoso exercício da Hora Santa.
Aqui damos, para a primeira sexta feira do mês, doze meditações sobre
o Sagrado Coração, tiradas das obras de Santo Affonso. Oxalá sejam elas
úteis aos fiéis e lhes inspirem algum bom pensamento que os mantenha no
fervor durante todo o mês.
O Imaculado Coração Triunfará
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