Deus
falava com São João Bosco através de muitos sonhos; este foi o primeiro
deles, em sua infância. Ele nasceu em 1815, viveu seus primeiros
anos felizes e alegres nos campos de Becchi, uma pequena vila em
Piedmont, Itália. Como um pastorzinho, ele podia brincar com seus
coleguinhas, mantendo-os longe do mal e os levando à virtude.
Em 1823, ele quis ir a escola na cidade de Castelnuovo, poucos
quilômetros de distância, mas o seu meio irmão mais velho de 21 anos,
ignorante, o privou disto, com a desculpa de precisar mais mão para o
trabalho.
Mas durante o inverno de 1824-1825, quando em Piedmont não havia
trabalho nos campos cobertos de neve, a mãe de João Bosco o mandou para a
escola na vila próxima, onde um padre piedoso o ensinou a ler e a
escrever, e acima de tudo lhe ensinou o Catecismo e o preparou para a
Primeira Comunhão. Sob a supervisão do padre, o jovem João Bosco
aprendeu os meios necessários para preservar a graça de Deus em sua alma
pela oração e mortificação.
Uma vez capaz de ler, João sempre era visto com um livro na mão,
mesmo enquanto vigiava os animais no pasto. Numa ocasião, outros jovens
pastores o chamaram para brincar, mas ele recusou e bateram nele. Ele
poderia revidar, mas o perdão era sua vingança. Ele disse a eles: “eu
não posso brincar porque eu devo estudar: eu quero ser um padre”.
Depois disto, eles o deixaram em paz. Admirando sua paciência e
mansidão, eles se tornaram seus amigos. E então João Bosco os instruiria
no Catecismo e os ensinou a cantar hinos a nossa Mãe Abençoada. Então,
quando João Bosco tinha nove anos de idade, ele teve um sonho que
revelou a ele seu próprio futuro sendo vasto e uma missão providencial
para meninos durante sua vida laboriosa. Ele mesmo narrou este sonho em
suas Memórias do Oratório.
João Bosco escreveu suas Memórias do Oratório de São Francisco de Sales
depois de receber uma ordem explicita do Pai Eterno. Ele narra o
seguinte sonho: Quando eu tinha nove anos, tive um sonho que me
impressionou pelo resto da minha vida. Eu sonhei que estava perto de
minha casa num parque de diversões imenso onde uma multidão de crianças
brincava. Alguns riam, outros brincavam. Eu estava tão chocado com a
linguagem deles que pulei no meio deles, gritando para eles pararem.
Naquele momento um Homem apareceu, nobremente trajado com um porte
masculino e forte. Usava um manto branco e Sua face irradiava tamanha
luz que eu não podia olhar diretamente em Sua face. Ele me chamou pelo
nome e me disse que ia colocar-me como líder daqueles garotos, e
acrescentou mais.
“Você terá de ganhar estes seus amigos não com gritos mas com gentileza e doçura. Então comece agora a mostrar a eles que o pecado é feio e a virtude é bonita”. Confuso
e amedrontado, Eu respondi que era só um garoto e não podia falar aos
mais jovens sobre religião. Naquele momento a confusão, e a gritaria
pararam, e a multidão de garotos se reuniu em volta do Homem que estava
falando.
Quase inconscientemente, perguntei: “Mas como você pode me mandar
fazer algo que parece impossível?”“O que parece tão impossível que você
deva alcançar o ser obediente e pela aquisição de conhecimentos.”“Mas,
onde? Como?”“Eu darei a você um Professor cuja orientação você
aprenderá e sem esta ajuda todo o conhecimento se transformará em
idiotice.” “Mas quem é você?” “Eu sou o Filho daquela que sua mãe te
ensinou a cumprimentar três vezes ao dia.”
“Minha mãe me disse para não falar com estranhos, a menos que ela dê
permissão. Então, por favor, diga-me seu nome.”“Pergunte à Minha
Mãe.”Naquele momento eu vi ao lado d”Ele uma Senhora de aparência
majestosa, usando um lindo manto, brilhando com se estivesse coberto de
estrelas. Ela viu minha confusão e me acenou.
Pegando minha mão com grande delicadeza , ela disse: “Veja!”. Eu
olhei e todas as crianças tinham sumido. E no lugar vi muitos animais.
Havia bodes, cachorros, gatos, ursos e uma grande variedade de outros.
“Este é o seu campo, aqui é onde deve trabalhar” a Senhora me disse.
Torne-se humilde, firme e forte. E o que você viu acontecer com estes
animais, você fará com minhas crianças.” Eu olhei de novo, os animais
selvagens se transformaram em muitos cordeiros – gentis, e saltitantes
cordeiros – berrando boas vindas ao Homem e a Senhora.
Neste ponto do meu sonho, eu comecei a chorar, e pedi à Senhora para
que me explicasse o que dignificava, porque eu estava tão completamente
confuso. Ela pos a mão em minha cabeça e disse: “No tempo certo, tudo se
tornará claro para você.”
Depois dela dizer estas palavras, fui acordado por um barulho, tudo
tinha desaparecido. Eu estava completamente confuso… De algum modo
minhas mãos ainda doíam. E a conversa com aquele Homem e Senhora
transtornou minha mente de modo que eu não pude mais dormir naquela
noite.
De manhã eu mal podia esperar para contar meu sonho. Quando meus
irmãos o escutaram, eles caçoaram de mim. Eu então contei à minha mãe e
avó. Cada uma escutou e deu diferente interpretação. Meu irmão José me
disse: “Você vai se tornar um pastor e cuidar de bodes , carneiros e
gado.” E minha mãe retrucou: “Quem sabe? Talvez você se torne um padre.”
E, friamente, Antonio murmurou:” Você devia virar o chefe de uma gangue
de bandidos.” Mas minha avó muito religiosa deu a última palavra: “Você
não deve dar atenção a sonhos.”
Não tirava o sonho de minha cabeça, e meus parentes não deram
importância. Mais tarde, em 1858, quando eu fui a Roma para estar com o
Papa sobre a ordem salesiana, o Papa Pio IX (1846-1878) me perguntou se
algo sobrenatural tinha acontecido. Narrei meu sonho que eu tive aos
nove anos. O Papa me ordenou que escrevesse esse sonho em detalhes para
poder dar coragem aos membros da Congregação, pela qual eu fui a Roma.
Este sonho se repetiu a João Bosco várias vezes por um período de
dezoito anos, e cada vez que se repetia sempre havia novos fatos. Cada
vez que o sonho repetia, ele pôde ver claramente não só o
estabelecimento deste Oratório e a divulgar seu trabalho, mas também os
obstáculos que poderiam aparecer e as ciladas dos inimigos, ele
venceria a todos.
(Fonte: The Biographical Memoirs of Saint John Bosco)
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