sábado, 20 de fevereiro de 2016

A PESCA MAIS ESPETACULAR

pescadorsolNo ano 2000 o Papa São João Paulo II convocou a Igreja a viver “a Nova Evangelização”, “com novo ardor, novos métodos e nova expressão”. E convidou a Igreja a “buscar águas mais profundas” (Lc 5,4), onde evidentemente estão os peixes maiores. Penso que o Papa pensava na importância de trazer de volta para a Igreja os formadores de opinião da sociedade, os que moldam a cultura do povo, sobretudo os que estão na mídia, os profissionais liberais, os magistrados, os políticos, os professores, os filósofos, os cientistas, etc.
O povo simples vem com facilidade para Deus e para a Igreja, estão em águas rasas, mas a elite se esconde em águas profundas. É preciso com coragem ir atrás dela.
Um dia, no mar de Galileia, depois de pregar ao povo na barca de Pedro, Jesus mandou que fossem para “águas mais profundas” e lançassem as redes. Mas, eles já tinham passado a noite toda pescando, e nada! Os pescadores já haviam desembarcado e lavavam as redes, certamente cansados, sedentos de um descanso. Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,4).
Certamente Pedro e seus colegas estavam muito desanimados, não pegaram nada a noite toda; mas, Pedro confiou na Palavra de Jesus e o obedeceu; com sacrifício lançou as redes de novo, contra tudo e contra todos; e pegou tantos peixes! Se acreditarmos na Palavra de Jesus, se obedecermos Jesus e Seus ensinamentos, a pesca de homens será grande. A obediência vem acompanhada da graça.
“Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem” (v.7).
Diante do milagre explicito, Pedro ficou atordoado: “Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador! Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (v.8-9). O choque espiritual dos pescadores foi tão forte que, diz São Lucas: “Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus” (v.11).
Jesus estava preparando esses discípulos para uma grande missão: levar o Evangelho da salvação ao mundo todo, mas isso só poderia acontecer no poder Dele, se acreditassem em Sua Palavra e o obedecessem. Então, Jesus deu-lhes essa lição. Não tenham medo de águas profundas, não tenham medo das turbulências do mar da vida, Eu estou convosco. Creiam na minha Palavra e façam o que Eu mando, e as redes da Igreja se encherão de grandes peixes.
E isso aconteceu na história da Igreja. Quantos imperadores, reis, rainhas, príncipes, magistrados, médicos, filósofos, etc., foram apanhados nas redes da Igreja. Santo Agostinho, São Luiz Rei da França (sec. XIII), o imperador Carlos Magno (séc IX), Santo Estevão rei da Hungria (†1038), São Ricardo rei da Inglaterra, Santo Henrique II imperador (973-1024), Santa Matilde (895-968) rainha da Alemanha, São Canuto rei da Dinamarca, mártir (1040-1086); Santo Eduardo rei inglês (1003-1066)… Em todos os vinte séculos as redes da Igreja se encheram de grandes peixes porque os evangelizadores, monges, apóstolos, bispos, sacerdotes, etc., foram para águas mais profundas, sem medo, por amor a Jesus, pela salvação das almas, edificação da Igreja e do Reino de Deus.
Pedro e os seus sócios deixaram as redes, deixaram o pequeno barco que pescavam no pequeno mar da Galileia, para assumirem o comando da grande barca da Igreja que haveria de navegar em todos os mares do mundo. Será que Deus não está nos pedindo também para deixar o barquinho da nossa vida cômoda, para avançar em alto mar em busca de uma pesca maior?

No Brasil, há cinquenta anos, tínhamos grandes líderes católicos na política, nas universidades, nas rádios, nas magistraturas, nos poderes executivos… e por isso o Brasil só tinha leis cristãs; mas hoje isto se torna raro, e por isso, as leis de Cristo vão desaparecendo da sociedade e das leis dos homens. É uma triste constatação que os mais velhos conhecem. Será que faltaram pescadores arrojados nesses últimos decênios que fossem buscar peixes grandes nas águas profundas do mar da sociedade?
O que fazer? Obedecer novamente a Jesus, ter a coragem de se lançar em águas mais profundas e trazer novamente lideres para a fé de Cristo e da Igreja. Mas para isso é preciso de pescadores preparados, homens e mulheres santos e destemidos.
Na vida do profeta Isaías, que teve uma missão importantíssima diante do povo judeu, que vivia no pecado, há uma passagem singular. Vamos ler:
“No ano da morte do rei Ozias, vi o Senhor sentado num trono de grande altura; o seu manto estendia-se pelo templo. Havia serafins de pé a seu lado; cada um tinha seis asas. Eles exclamavam uns para os outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra está repleta de sua glória”. Ao clamor dessas vozes, começaram a tremer as portas em seus gonzos e o templo encheu-se de fumaça. Disse eu então: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos”. Nisto, um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa, que retirara do altar com uma tenaz, e tocou a minha boca, dizendo: “Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa, e teu pecado está perdoado”. Ouvi a voz do Senhor, que dizia: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” Eu respondi: “Aqui estou! Envia-me”. (Is 6,1-8)
Antes do Senhor enviar Isaias para uma missão muito difícil: denunciar o pecado do seu povo, inclusive dos reis de Israel; Deus o fez ver a Sua glória e se encantar por Ele: “ toda a terra está repleta de sua glória”. Depois purificou o profeta dos seus pecados com uma brasa do altar do Altíssimo. Então, Isaias aceitou o pedido de Deus: “Aqui estou! Envia-me”.
A primeira lição que precisam aprender quem quiser ser enviado do Senhor, é “se encantar por Ele e por Suas obras”. Sem isso não somos conquistados por Deus. Sem observar a beleza do Criador em Suas obras, desde as mais pequeninas, não se entregará o coração a Ele, e não irá por Ele. Quem não enxergar o Rosto do Senhor no espelho da Criação, será difícil enxergá-lo de outra forma. “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra está repleta de sua glória”. A beleza dos seres criados revela a santidade do Senhor e nos conquista para Ele. Só alguém conquistado por Jesus, se entrega a seu serviço, de coração. É como um jovem apaixonado por uma donzela; faz tudo que ela quer, com alegria, satisfação, sem mesmo sentir o peso dos sacrifícios. É a força do amor.
Em seguida Deus purifica Isaias de seus pecados, “queima-lhe os lábios” com uma brasa do altar. É Deus mesmo quem purifica, no cadinho da humilhação, aqueles que Ele separa para o seu serviço (cf. Eclo 2). Só pode ver Deus quem tem o coração limpo. “Bem aventurados os que têm o coração puro, porque verão a Deus” (Mt 5,8). É preciso que nosso coração seja limpo do pecado: a soberba e o amor próprio, o exibicionismo, o apego ao mundo e às consolações humanas, a luxúria do sexo e da gula, a inveja, o ciúme, o ódio… tudo isso cega os olhos da alma e não nos deixa ver Deus nem nas suas obras mais lindas.
Mas é o próprio Senhor quem deve nos purificar; com uma brasa ardente do Seu altar, com o fogo do Seu Espírito, no Seu Sangue derramado sobre nossas almas na Confissão. Deixemos que o Senhor então nos purifique, nos prepare, como preparou Isaías e Pedro, para grandes missões. De nossa parte temos apenas que fazer a Deus o dom de nossa vida, tranquilamente, deixando-nos conduzir por seu amor. Ele fará o resto.





Prof. Felipe Aquino

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