A nova estrela do canal Fox é ninguém menos que o próprio diabo. Trata-se de mais uma guinada da televisão para o satanismo.
E se Lúcifer também tivesse um lado bonzinho? Na nova série da Fox, que
estreou no último dia 25 de janeiro, o telespectador é levado a
acreditar em um diabo que tirou férias do inferno. Sem os tradicionais
chifres e caudas, em
Lúcifer, o inimigo de Deus é apresentado como um galã sedutor e
inteligente — os ingredientes necessários para atrair audiência,
principalmente a feminina.
Lúcifer repete uma fórmula aparentemente já consagrada na
dramaturgia americana: a exaltação dos vilões. Com uma dose de ironia e
sagacidade, os pilantras da vez têm agradado mais ao público que os
mocinhos, habitualmente apresentados como figuras ingênuas e frágeis.
Até a Disney cedeu à tentação do mal. Na nova versão de A Bela Adormecida,
por exemplo, a bruxa Malévola (que dá nome ao filme) é retratada como
heroína e as três fadas não passam de velhas atrapalhadas e burras.
Mas não é só nos Estados Unidos que as coisas estão assim.
No Brasil, as redes sociais vibram a cada nova maldade ou frase
impiedosa dita pelos antagonistas das principais novelas do país. Apesar
do sucesso, há quem enxergue nisso tudo um problema grave. "O universo
que as novelas abordam no meu modo de ver é um tanto quanto doentio
demais, há muita glamourização do vilão, da maldade",
criticou recentemente José Mayer, ele mesmo um conhecido ator global.
De fato, a dramaturgia tem o poder de ditar pensamentos, hábitos,
maneiras de se vestir e de se comportar. É assim desde as tragédias
gregas. E embora muitos insistam na chamada separação entre o "real e o
fictício", a verdade é que essa distinção nem sempre acontece. Mais: o
número de pessoas que tende a reproduzir o que vê na televisão é muito
maior que o das que dizem fazer o tal discernimento. Prova disso é o
mercado publicitário. As grandes marcas não hesitam em pagar cachês
milionários para terem os artistas desses seriados em suas propagandas.
Quando o primeiro trailer da série
Lúcifer foi divulgado, em meados de 2015, alguns entusiastas
saudaram o lançamento com a frase "Viva o diabo". Com tom de
brincadeira, o público deixou-se levar pela nova versão do maligno, que
agora promete ajudar a prender criminosos. O enredo da série parte de um
anjo decaído que, entediado com o determinismo de Deus, decide tirar
férias em Los Angeles após demitir-se do cargo de "chefão do inferno".
Em seu novo posto, ele se alia a uma policial para desvendar os crimes
que afetam a famosa cidade dos anjos.
Imaginem uma adaptação moderna de Hitler, em que o nazista empedernido
aparecesse mais politicamente correto e amiguinho dos judeus. A simples
hipótese já nos causa asco. Por isso mesmo a nova série da Fox é de um
profundo mau gosto. Em que pese a conversa de que esta versão nada tem
que ver com o cristianismo, mas com um personagem de quadrinhos,
seríamos profundamente ingênuos se negássemos a sua malícia.
Sigam o raciocínio:
Lúcifer não é uma adaptação moderna de um personagem fictício
qualquer, como em outros casos recentes; o demônio é uma entidade que,
além de ser real para muitas confissões religiosas, está ligada ao que
há de pior e mais perverso na humanidade: o pecado. E nesta série, esse personagem odioso é apresentado como uma figura redimida ou, ao menos, simpática. É preciso dar razão ao abaixo assinado que já circula no Estados Unidos, pedindo o cancelamento do programa.
Infelizmente, existem muitas pessoas que não creem na existência do
diabo — mesmo teólogos e gente de dentro da Igreja. Por essa razão, o
tema é frequentemente motivo de piada e zombarias (até Marchas para
Satanás já fizeram). Ocorre que essa atitude imprudente é a mais
desejada pelo inimigo, como fica claro no famoso livro de C. S. Lewis,
Cartas de um diabo a seu aprendiz.
Por brincadeira e desdém, uma porção de incautos consagra-se ao diabo
sem se dar conta do que está fazendo. E os grandes promotores dessa onda de ocultismo
são, em grande parte, os filmes, as músicas e outras formas de
entretenimento, a princípio, inocentes. É o que explica o exorcista
Padre Duarte Souza Lara:
Quem é o diabo?
A figura de Lúcifer, um anjo decaído, está presente em grande parte das
religiões ou mitologias pagãs. "Demônio", "Satanás", "Belzebu": com
frequência, a ele são atribuídos os mais diversos nomes.
Para o credo cristão, porém, mais do que um personagem mitológico, a existência do diabo é uma verdade de fé.
O Catecismo da Igreja Católica afirma o seguinte: "O Diabo e os outros
demônios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é
que se fizeram maus" (n. 391).
As Sagradas Escrituras também falam dele por várias vezes. Só no Novo
Testamento aparecem 511 referências ao anjo inimigo de Deus. Em um de
seus confrontos, Jesus o chama de "homicida" (
1 Jo 3, 8) e "pai da mentira" (Jo 8, 44). No livro do
Apocalipse, João escreve sobre uma luta no Céu entre o grande dragão e
São Miguel Arcanjo, que acabou com a expulsão do outrora anjo de luz
(cf. Ap 12, 9). Mas o que teria provocado essa guerra entre a então mais bela das criaturas de Deus e o humilde arcanjo Miguel?
A realidade é bem diferente da que propõe a Fox. Os
Padres da Igreja ensinam
que, antes de criar o ser humano, Deus criou as criaturas celestes.
Dentre essas criaturas, a mais poderosa era Lúcifer, o anjo da luz.
Esses anjos tiveram de passar por uma provação divina, uma espécie de
teste, para que Deus visse a sinceridade do amor deles. Nessa provação,
Lúcifer rebelou-se contra seu Senhor, desejando tornar-se igual a Ele,
mas sem o auxílio da graça. Com efeito, sua decisão pelo mal tornou-se
irrevogável, pois, incapazes de fazer penitência, os "que aderem ao mal
de maneira imutável, a misericórdia divina não os liberta", como explica
Santo Tomás de Aquino (cf. Suma Teológica, I, q. 64, a. 2). Não se trata de uma deficiência do amor de Deus, já que Ele continua a amá-lo. O diabo é quem, livremente, escolheu dar o grito non serviam para depois afundar no inferno.
Por outro lado, uma coisa é certa na série
Lúcifer: neste mundo, o diabo não se mostra como aquela
caricatura horrorosa, com chifres, cauda e tridente, que costuma
aparecer nos vitrais de igrejas e outras obras de arte.
Lúcifer é mesmo muito bonito. E foi a beleza de seu fruto que
hipnotizou Eva, enchendo seus olhos de malícia. Lúcifer é mesmo muito
sedutor. E foi com sua voz aveludada que, por inveja do homem, ele
conduziu nossos primeiros pais ao caminho da morte. Lúcifer é mesmo
muito inteligente. E é com essa inteligência que ele continua a
persuadir a muitos de sua inexistência, enquanto ganha
os holofotes do mundo, as ruas das grandes metrópoles e, sobretudo, os corações de tantas pessoas ingênuas que se deixam levar pelas suas ofertas.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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