Nossa senhora é chamada Mãe da Misericórdia. No cântico pascal da
Igreja repercutem, com a plenitude do seu conteúdo profético, as
palavras que Maria pronunciou durante a visita que fez a Isabel, esposa
de Zacarias: “A sua misericórdia estende-se de geração em geração” (Lc
1,50).
Maria é, pois, aquela que, de modo particular e
excepcional — como ninguém mais —, experimentou a misericórdia e, também
de modo excepcional, tornou possível, com o sacrifício do coração, a
sua participação na revelação da misericórdia divina.
Este seu sacrifício está intimamente ligado à cruz do seu Filho, aos pés da qual ela haveria de encontrar-se no Calvário.
O sacrifício de Maria é uma conexão específica com a revelação da
misericórdia, isto é, a absoluta fidelidade de Deus para o seu amor, a
aliança que ele queria desde a eternidade e concluiu no tempo com o
homem, com o povo, com a humanidade. Existe participação com a
revelação, que foi definitivamente cumprida através da cruz.
Ninguém jamais experimentou, como a Mãe do Crucificado, o mistério da
Cruz, o impressionante encontro da transcendente justiça divina com o
amor, o «ósculo» - o beijo da misericórdia dado pela misericórdia à
justiça. (Sl 85 (84),11)
Ninguém mais que ela, Maria, acolheu tão
profundamente, em seu coração, o mistério: o mistério divino da
redenção, que foi cumprido no Calvário pela morte de seu Filho,
acompanhado pelo sacrifício de seu coração de mãe, de seu "Fiat".
Maria, portanto, é aquela que conhece mais profundamente o mistério da
misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado. Neste
sentido chamamos-lhe Mãe da Misericórdia, Nossa Senhora da Misericórdia,
ou Mãe da Divina Misericórdia.
Existe uma íntima relação entre
Maria Santíssima, a Mãe de Jesus, o mistério da misericórdia divina e a
prática da misericórdia. Maria está desde a sua concepção envolta na
misericórdia infinita do Pai, pelo Filho e no Espírito (preservada do
pecado e do demônio), ao mesmo tempo em que o seu agir – antes e depois
da sua Assunção – está assinalado pelo amor efetivo aos seres humanos
(especialmente pelos pecadores e sofredores). Em qual sentido podemos
proclamar Maria como Mãe de misericórdia? Sem cometer o grave equívoco
de pensar que a misericórdia é reservada a Maria e a justiça a Jesus
(como muitos chegaram a pensar), o título “Mãe da Misericórdia” ou “Mãe
de misericórdia” assim se justifica:
Maria é a mulher que experimentou
de modo único a misericórdia de Deus – que a envolveu de modo particular
desde a sua Imaculada Conceição, passando pela Anunciação, como
discípula fiel do seu Filho, até o grande momento da Sua Páscoa (paixão,
morte, ressurreição, glorificação e Pentecostes). Ela é kecharitoméne,
“cheia de graça”, ou seja, totalmente transformada pela benevolência
divina (cf. Ef 1,6).
Maria é a mãe que gerou a misericórdia
divina encarnada – graça extraordinária que coloca a jovem Maria, a
partir da Encarnação do Filho de Deus, numa relação inimaginável de
intimidade com o próprio “Pai das misericórdias” (2Cor 1,3). A partir do
seu “eis-me aqui” e o seu “faça-se”, a misericórdia divina se faz carne
e entra na história!
blog padreemiliocarlos
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